A Câmara de Palmas não tem uma base governista consistente e fiel desde que o ex-prefeito Raul Filho deixou o comando do município no final de 2013. Ex-deputado estadual, Raul sabia a importância do Parlamento para a gestão e como uma casa legislativa de má vontade pode atrapalhar, e muito, um governo.
Nos oito anos de Raul, não se soube de rebelião na base na Câmara. Claro que essa coalizão para governar exige concessões, que o gestor deve definir até que ponto está disposto a fazer. No entanto, pelo sistema político do Brasil — e isso vale para câmaras, assembleias e Congresso nacional (só ver o que está ocorrendo agora no “casamento” de Jair Bolsonaro com o Centrão —, com o Legislativo robustecido, nenhum chefe de Executivo consegue ser bem-sucedido na administração sem apoio parlamentar.
Assim, antes tê-los como aliados dentro da gestão, com a participação de seus indicados, do que criar uma barreira intransponível para gerar dificuldades imensas ao sucesso do governo. Ninguém administra a coisa pública com filosofia, mas com a prática política. Assim, é muito fácil quem está de fora tapar o nariz e apontar o dedo.
O caso de Bolsonaro provou isso cabalmente. Falastrão, em campanha mostrava nojo dos deputados do Centrão. Garantia não se misturar com aquela “gentalha”, mas, com a batuta na mão, viu que não tinha jeito. Ou sentava-se para negociar com o grupo fisiológico que comanda a Câmara dos Deputados, ou teria dificuldades imensas para concluir os quatro anos de mandato.
Em Palmas, o ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) optou pelo caminho do enfrentamento e até de tentar ignorar o legislativo em seus cinco anos de mandato. O resultado foi muita dificuldade em aprovar as matérias, em blecautes na pauta, que chegou a ficar meses trancada e, por fim, agora a rejeição das contas dele, o que poderá complicar seu futuro político por conta da Lei da Ficha Limpa.
A prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) vinha seguindo o caminho de seu antecessor e ex-aliado. Desde que assumiu, em abril de 2018, ela mantinha uma relação tempestuosa com a Câmara, sem uma base consistente que lhe desse segurança nas votações. Na prática, sempre teve ao seu lado, de forma fiel, no máximo 7 ou 8 dos 19 vereadores. O último exemplo dessa total falta de um grupo de apoio sólido foi a eleição da presidente da Câmara, Janad Valcari (Podemos), que contou com o voto de parlamentares que, em tese, seriam aliados de Cinthia.
Depois desse susto, parece que a prefeita começou a agir e vem varrendo para dentro. Antes mesmo da eleição da mesa, conseguiu reunir o time feminino ao lado dela. À ex-líder Laudecy Coimbra (SD) juntaram-se Solange Duailibe (PT) e a professora Iolanda Castro (Pros). Após a disputa da mesa, Cinthia ainda puxou os dois do Cidadania — Rubens Uchôa (Cidadania) e Joatan (Cidadania).
Com isso, obteve segurança — é o que se promete — de ter quórum qualificado (13 dos 19 votos) para aprovar matérias mais delicadas. Claro que isso será conferido na prática, conforme as proposições entrarem em plenário.
De toda forma, desde dezembro de 2013, último mês de Raul, parece que é a primeira vez que o Paço consegue uma foto com uma base ampla e que se diz sólida, como a que Cinthia fez na noite de quinta-feira, 4.
É importante que o Legislativo tenha oposição para que discuta, fiscalize e proponha aperfeiçoamentos às matérias, ou vira extensão do Executivo. De outro lado, sem uma base governista sólida, a instabilidade toma conta das matérias de interesse da sociedade, que se torna a maior prejudicada da falta de liderança ou de sabedoria do chefe do Executivo.
CT, Palmas, 8 de fevereiro de 2021.