Essa segunda-feira, 18, foi um dia histórico para o Tocantins e para todos os Estados que estão tendo a graça de começar a vacinação de seus cidadãos contra a Covid-19. Mais de 96 mil tocantinenses foram contaminados pelo novo coronavírus desde abril e 1.316 perderam suas vidas. Um massacre sem igual na nossa história. Assim, é grande a esperança de que todos logo possamos estar imunizados e livres dessa terrível doença. Apesar dos esforços incansáveis do presidente da República, Jair Bolsonaro, para impedir que chegássemos a este momento tão esperado por todos.
Esses dois dias não devem ter sido fáceis para ele, diante da derrota que sofreu para a ciência, contra a qual ele e seus fanáticos se insurgem todos os dias, e para seu maior adversário, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), um político “pastel de vento”, com muito marketing e pouquíssimo conteúdo aproveitável, mas catapultado ao panteão dos heróis nacionais pela parvoíce e incapacidade do presidente da República de ler cenário e se posicionar corretamente no tabuleiro.
O fato é que Bolsonaro jogou contra a Coronavac, que chamava desdenhosamente de “vacina chinesa do Dória” e que agora, fragorosamente derrotado e humilhado, diz que “não pertence a nenhum governador”. Quem disse que era “do Dória” foi o próprio beócio que hoje está presidente da República, nas lives patéticas, um circo dos horrores, que ele faz semanalmente para menosprezar a ciência, receitar remédios sem nenhum efeito comprovado, disseminar fake news e animar seus fanáticos na cruzada quixotesca contra a saúde pública para retornar o País à Idade das Trevas.
Desde o início desta pandemia, Bolsonaro jogou contra a saúde da população. A leitura dele era básica: sua reeleição depende do desempenho da economia brasileira, para a qual a Covid-19 representa uma ameaça. Logo, pensou na sua reflexão com a profundidade de pires, era preciso pregar que se tratava de uma “gripezinha”, que no máximo teríamos uns sintomas leves e os grupos de risco vão morrer mesmo, então, que se danem. Por isso, ia às ruas sem máscara, promovendo aglomerações, até porque — outra tese bolsonarista — é preciso alcançar a imunidade de rebanho, quando a grande maioria da população já teria sido contaminada e o novo coronavírus seria coisa do passado.
Mas vejam como essa tese é genocida: para alcançar tal imunidade, se morresse 3% da população, estamos falando de 6,3 milhões de vidas brasileiras perdidas para a Covid-19. Esse custo valeria para manter a economia funcionando? Só comprova que é a mentalidade genocida que move o presidente da República.
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que, pela dedicação científica no combate à doença, se tornou um obstáculo ao projeto bolsonarista de imunidade de rebanho, conta em seu livro Um paciente chamado Brasil que sua equipe chegou a apresentar em março do ano passado três cenários a Bolsonaro — após muita insistência para ser ouvida porque o beócio sequer queria conhecer os dados —: um com 30 mil mortos, com medidas duríssimas; outro, com 60 mil mortos, com ações fortes do governo (era o cenário mais factível); e um terceiro com 180 mil mortos, se o governo relaxasse na sua responsabilidade.
Estamos em mais de 210 mil vidas de brasileiros tomadas pela doença, diante de um governo que trocou duas vezes o ministro da Saúde em plena pandemia, optando por um — Eduardo Pazuello, que claramente desconhece o que seja saúde pública — apenas por ser cordeiro e aceitar todas as ordens superiores, bovinamente, como se fosse um cabo diante de um general — sendo ele general. E estamos falando de um capitão que foi posto para correr do Exército brasileiro, que também está em xeque neste momento. Um presidente da República que instigou todo tempo a população a ir para as ruas, se aglomerar, a não usar máscaras, receitando remédio ineficaz, sob o silêncio covarde e cúmplice do Conselho Federal de Medicina. Além disso, agora estimula seus fanáticos acéfalos a não tomarem a vacina que pode salvar vidas.
Inclusive, se realmente a preocupação do presidente da República fosse a economia, deveria ter uma postura totalmente contrária. Precisaria insistir para que todos se imunizassem para que logo o País entrasse no novo normal e pudéssemos voltar a trabalhar sem preocupação. Mas não. Age o tempo todo para sabotar todos os esforços da ciência, dos governadores e dos prefeitos.
Estamos falando aqui de vários crimes de responsabilidade, que já tornaram o Fiat Elba de Fernando Collor e as pedaladas fiscais de Dilma Rousseff coisas insignificantes. Já há mais que motivo para abrir um processo de impeachment substancioso contra o comportamento genocida de Bolsonaro, sobre o qual estão o sangue de mais de 210 mil brasileiros abatidos por uma doença, cujos impactos poderiam ser muito menores se estivéssemos diante de um homem público sério e responsável, o que não é o caso. Nem de longe. O atual presidente é um fanfarrão genocida e um irresponsável.
Por isso, é preciso apurar a fundo tudo isso e muito mais do que aqui foi rapidamente relatado, como o fato de o governo ter ignorado os contatos da Pfzier para discutir a compra da vacina e de que Bolsonaro e Pazuello sabiam, com dez dias de antecedência, que faltaria oxigênio no Amazonas. Este último fato mostra uma crueldade próxima dos psicopatas.
O Congresso Nacional não pode fugir a essa responsabilidade que tem com a população do Brasil e instaurar um processo de impeachment ou uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para convocar essa gente covarde e irresponsável para depor e, se for o caso, puni-la com todo o rigor.
Da minha parte, tenho compromisso com minha consciência e meu país. Perco amigos, perco leitores, mas não farei como os que foram lembrados ano passado pelo ator Lima Duarte, ao resgatar Bertolt Brecht: “Os que lavam as mãos, o fazem numa bacia de sangue”.
As minhas não lavarei no sangue. Fora, Bolsonaro! Impeachment já!
CT, Palmas, 19 de janeiro de 2021.