As diversas trocas repentinas de governantes nesses últimos 12 anos geraram instabilidades ao Tocantins que, não tenho dúvida, afastaram investidores, levaram à perda do controle das contas públicas — porque promoveu-se gastança desenfreada e concessões irresponsáveis —, contribuíram para a perda de qualidade nos serviços públicos e para o aumento da nossa já histórica e abismal desigualdade social. Por isso, o maior desafio do governador interino Wanderlei Barbosa (sem partido) neste momento é não permitir que o Estado seja tragado por uma crise política com sérios reflexos na economia. Mas não só ele, toda a classe política. Sobretudo os que eventualmente possam enxergar o momento como oportuno para empurrar o governo a um abismo em troca de fugazes louros eleitorais.
A despeito do processo que levou a seu afastamento, fato é que o governador Mauro Carlesse (PSL) conseguiu avanços nas contas públicas do Estado com suas medidas austeras de contenção de gastos. Os salários voltaram a ser pagos no final do mês, fornecedores recebem dentro da normalidade e o Estado vem fazendo investimentos depois de anos contando moedas para fechar a folha. Se Carlesse cometeu abusos, então que seja julgado e condenado. Não é objetivo aqui defendê-lo, nem acusá-lo, apenas constatar o óbvio de que o desempenho fiscal do Estado na sua gestão foi o melhor dos últimos 15 anos.
Claro que vem ai o debate eleitoral, mas passo ao largo dessa discussão pequena. Acompanho as contas do Tocantins nos últimos quase 20 anos e, indubitavelmente, houve avanços desde 2018. Não poderia ignorar isso agora só para ser politicamente correto. Já afirmei aqui em outras oportunidades e repito: sou politicamente incorreto e totalmente insensível às críticas. Não lhes dou a mínima importância.
Dito isso, continuo me posicionando na defesa de que o governo do Estado aprofunde o ajuste, cortando gastos e modernizando processos e, de outro lado, agindo para aumentar sua receita. Todos devem entender que respeitar os limites fiscais é dar ao Poder Público capacidade de investimento, que perdemos ao longo dos anos com as acrobacias de quem vislumbrava apenas eleições e não os interesses maiores do Estado.
O governador Wanderlei tem todas as condições de evitar que o Estado seja tragado por esta crise política aberta com o afastamento de Carlesse. Primeiro porque trabalhou em conjunto com seu antecessor na busca pelo equilíbrio das contas. Wanderlei não foi um vice decorativo, mas pró-ativo, e conhece, portanto, a máquina cujos controles está agora assumindo. Nas outras trocas de titulares, a ruptura foi mais brusca, porque quem assumiu não tinha contato direto com a gestão, já que os três casos envolviam presidentes da Assembleia que se tornaram governadores do dia para a noite — Carlos Gaguim em 2009, Sandoval Cardoso em 2014 e Carlesse em 2018.
Desta vez, é uma prata da casa que passa a comandar um processo iniciado já com a sua presença ainda na eleição suplementar de três anos atrás. Ou seja, o corte não foi tão profundo como nas outras experiências traumáticas.
Além disso, como político experiente e filho da terra, Wanderlei conhece muito os líderes e todos os municípios do Estado. Dessa forma, o governador interino pode com tranquilidade dar prosseguimento ao trabalho de otimização das contas públicas e ao plano de investimentos, através do “Tocando em Frente”. No momento em que a pandemia começa a ficar para trás, esse programa é fundamental para oxigenar a economia estadual, gerar empregos e renda.
Mas a oposição também tem a responsabilidade de contribuir para que o Tocantins não seja jogado no mesmo abismo das outras trocas de governo. Tirar proveito eleitoral ao estimular a instabilidade é coisa de oportunistas, de líderes pequenos despreparados para a vida pública. Como temos excelentes gestores e grandes líderes nesta pré-campanha, acredito que a travessia do Estado será muito mais suave que as anteriores.
Afinal, sempre é bom lembrar que os interesses do Tocantins e dos tocantinenses devem estar acima dos projetos pessoais. O debate eleitoral terá seu momento apropriado. Agora precisamos manter o Estado no rumo de sua recuperação.
CT, Palmas, 21 de outubro de 2021.