A um presidente totalmente despreparado e populista, a um povo sem consciência e de uma cultura da profundidade de um pires e às teorias da conspiração mais cretinas que se aproveitam disso, um outro fato contribuiu enormemente para que a Covid-19 se tornasse uma tragédia da dimensão que temos assistido, de uma carnificina se precedentes: as eleições.
É a tempestade perfeita: um país submerso na mais completa ignorância, um vírus de uma transmissibilidade absurda e um processo eleitoral. A fórmula da tragédia humana que vivemos. Pior: e vivemos como se nada estivesse ocorrendo, apesar de 4,5 milhões de contaminados e quase 140 mil mortos.
As imagens de grande parte das convenções pelo interior do Tocantins são uma demonstração da falta de responsabilidade de quem se propõe a comandar a saúde pública em meio à maior pandemia da humanidade dos últimos 100 anos. Aglomerações e mais aglomerações, sob o risco de vários desses eleitores que participaram não poderem votar no candidato por estarem internados ou mortos. Mas, pelo que se viu, isso é um detalhe menor.
Agora chegam as imagens de reuniões por todo o Estado. Cidadãos cedendo a residência para receber seus possíveis prefeitos e vereadores para uma conversa com vários parentes, amigos e vizinhos. Os políticos, que lidam o dia todo com pessoas, estão entre as principais vítimas da Covid-19. Uma parte significativa deles já se contaminou. Tivemos vários candidatos que não puderam sequer ir à própria convenção porque estavam internados.
Isso significa que eles não proliferam apenas ideias e propostas para as cidades, mas também a Covid-19. Os candidatos, seus assessores e aliados mais próximos rodam o comércio o dia todo e à noite levam o novo coronavírus para as casas de seus eleitores.
Então, vem o pior — entre muitos piores nesta tragédia anunciada: no momento em que a doença começa arrefecer, além de os candidatos intensificarem a movimentação pelas casas e comércio, as prefeituras aceleram as medidas de flexibilização para ficar em paz com o eleitorado.
Os números mostram que a Covid-19 vem perdendo força no Tocantins, mas continua avançando. Se os prefeitos não mantiverem as políticas de restrições, se juntando à irresponsabilidade dos candidatos, o novo coronavírus voltará com força.
Não é momento de flexibilizar geral como estamos assistindo. Precisamos garantir a volta do comércio? Sim. Temos que salvar o que for possível da economia, mas não é para um “liberou geral”. Nada está diferente de março: não existe remédio nem vacina. O vírus cedeu, mas pode ganhar fôlego, se relaxarmos nas medidas de isolamento e nos cuidados para que a doença não continue expandindo.
Essa aliança da irresponsabilidade dos candidatos com o populismo dos prefeitos é perfeita para que todos saiamos derrotados destas eleições, garantindo um fim de ano absurdamente trágico e triste ao Tocantins e a todo o Brasil.
Sei que isso é pregar no deserto, mas é bom registrar para depois não dizerem que ninguém avisou.
CT, Palmas, 22 de setembro de 2020.