O senador Eduardo Gomes (PL) não deixou nenhuma margem para dúvida: nas palavras dele próprio, estará fora das eleições de 2022 e seu candidato será mesmo o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (PL). Recuar depois de declarações tão contundentes como as que fez ao quadro Conversa de Política, como afirmei também no caso do pré-candidato Osires Damaso (PSC), exigirá um malabarismo retórico enorme. A postura do senador é coerente com a sua história, que nunca foi marcada por “puxões de tapete”, ou “cavalos de pau”, como ele disse, nem por mudanças bruscas de palanque, variando de situação à oposição, conforme a conveniência. Por isso, não é só cargo e a função no Congresso que fizeram de Gomes o grande líder tocantinense do momento, mas, sobretudo, o respeito, por sua conduta pessoal, que conquistou junto à liderança de todos os 139 municípios.
Acima de tudo, com essa decisão de Gomes, a corrida sucessória tem confirmada a participação de um dos mais brilhantes quadros políticos do Estado. Tem gente que vira a cara quando digo isso, mas irritar o leitor para que ele tenha a oportunidade de refletir, muitas vezes, é também uma das metas do colunista. Não tenho dúvida alguma de que Dimas, como fez em Araguaína, marcaria o governo do Tocantins com uma das gestões mais decisivas para o reencontro que o Estado precisa fazer com o desenvolvimento. Ele tem três atributos que são indispensáveis para um governante de sucesso: é planejador, e disciplinado nisso, sabe formar equipe e coloca a austeridade fiscal no ponto mais elevado do pedestal.
Por isso, acredito que, com Dimas, o eleitorado ganha muito mais qualidade no leque de candidatos que lhes serão colocados à frente. Inclusive, tenho dito que talvez em nenhuma outra eleição houve tantas opções qualificadas para a escolha do cidadão. O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) é um político experiente, de muita conexão com os mais diversos segmentos da sociedade; o ex-prefeito de Porto Nacional e ex-deputado Paulo Mourão (PT) foi um gestor brilhante, de destaque nacional, um estudioso que conhece os dados socioeconômicos do Tocantins como poucos; e o deputado federal Osires Damaso (PSC) é de uma seriedade reconhecida, parlamentar de muita contribuição com o Estado e um empresário muito bem-sucedido. Ou seja, se há algo que o eleitor tocantinense não pode alegar é que não há boas opções para definir quem quer para governar.
No caso de Dimas, tema desta reflexão, para ganhar competitividade, ele e Gomes têm dois grandes desafios. O problema do ex-prefeito de Araguaína não é qualificação. Esta lhe sobra, como afirmei acima. A questão que ele precisa resolver é política, que é ingrata. Veja: um candidato competitivo a governador ou a prefeito precisa de duas virtudes fundamentais: preparo e sólido apoio de líderes, através dos quais chega a quem lhe interessa, os eleitores. Mas, infelizmente, é imensamente mais fácil um despreparado com maciço apoio vencer uma eleição do que um quadro altamente qualificado mas sem respaldo popular.
Dimas já passou por essa amarga experiência em sua primeira disputa para prefeito de Araguaína, em 2008, quando absurdamente perdeu para um candidato sem qualquer tato para o Executivo. Contudo, essa derrota foi a semente de sua vitória na eleição seguinte, em 2012. Claro que a gestão que o antecedeu foi um desastre completo, a população entendeu o erro que cometeu e, sabiamente, corrigiu o curso da história na primeira oportunidade. E hoje temos aquela cidade moderna e em pleno desenvolvimento.
Por isso, o maior de todos os desafios de Dimas e Gomes neste momento é o mesmo de um ano atrás ou mais tempo: vencer a resistência dos líderes ao ex-prefeito de Araguaína. Republicanamente, sinceramente, essa rejeição ao pré-candidato do PL não tem nenhum sentido. Dimas é introspectivo? Não vive dando risos fáceis ou abraços estalados para que todos à volta assistam admirados? Qual o problema disso?
Na encruzilhada em que o Tocantins está estacionado há anos, isso não tem a menor importância. Bom governador para o Estado hoje não é o sujeito simpático, que ri de tudo e não sabe dizer um “não”. Ao contrário. Precisamos uma personalidade focada, centrada em planejamento, austero e disposto a “brigar” com segmentos que concentram nacos enormes do orçamento e não colaboram em nada não com o ajuste que tanto necessitamos.
Agora tentar negar a existência dessa relutância dos líderes a Dimas é bobagem. Assim, discordo nesse ponto de Eduardo Gomes. A resistência a seu candidato não é por conta apenas de nomeações e exonerações, ordens de serviços e outros expedientes do Palácio que vão acabar a partir de 2 de julho, conforme prevê a Justiça Eleitoral. Nem também somente tática da oposição, que é claro que procura amplificar essa deficiência. Há uma resistência real, ainda muito sólida e que precisa urgentemente ser dissolvida se Dimas quiser ter competitividade no processo. Sem isso, poderá estar fora do segundo turno. Por isso, esse, sem dúvida, é, sim, o maior desafio da dupla nesta pré-campanha.
O outro desafio, periférico mas também importante e resultado do primeiro, é conseguir convencer a pré-candidata a senadora Dorinha Seabra Rezende (UB) a aderir à campanha de Dimas. Na resposta a esta questão, na entrevista dessa quinta, Gomes foi para Araguaína para voltar para Palmas, mas passou por Paraíso e seguiu rumo a Gurupi. Ou seja, ainda não há uma resposta clara para esta questão do apoio da deputada ao pré-candidato do senador.
E por quê? Aí entra o primeiro desafio: os líderes, quase todos, que estão com Dorinha — deputados e prefeitos — resistem à candidatura de Dimas. E o que a pré-candidata a senadora, que precisa tanto dessa gente quanto o nome do PL ao Palácio, faz? Simplesmente ignora o que pensam e vai de Dimas só para satisfazer Gomes? Impossível.
Por outro lado, Dorinha não pode ser catitu sem bando. Ou seja, se ficar solta como balão vai subir rumo a estratosfera, vai estourar e esborrachar no chão. A pré-candidata precisa definir isso, ou o custo para a sua eleição será altíssimo.
Então, a solução para os dois desafios de Gomes e Dimas se imbricam. Se quebrar a resistência de grande parte dos líderes, a corda distensiona e Dorinha poderá com tranquilidade e segurança apoiar o ex-prefeito de Araguaína para governador.
CT, Palmas, 10 de junho de 2022.
Assista a entrevista de Gomes ao quadro Conversa de Política: