Depois de abordar a pré-candidatura do governador interino Wanderlei Barbosa (sem partido), a reflexão desta quarta-feira, 29, é sobre o grupo mais competitivo da oposição até aqui, formado pelo senador Eduardo Gomes (MDB) e pelos ex-prefeitos de Araguaína Ronaldo Dimas (Podemos) e de Gurupi Laurez Moreira (Avante). O trio reúne atributos fundamentais para construir uma candidatura que faça frente à força do Palácio Araguaia: musculatura política, experiência e histórias de sucesso em gestão pública.
Dimas e Laurez fizeram as duas melhores gestões do Estado das últimas décadas. Araguaína e Gurupi eram uma antes deles e se tornaram outra depois. Quanto a isso, não resta a menor dúvida, a despeito dos amores e ódios que a política costuma despertar. Os governos das duas cidades foram melhores não apenas do ponto de vista da execução de muitas e fundamentais obras, como ainda do ponto de vista fiscal. São triplo A na Secretaria do Tesouro Nacional. Diante do quadro do paciente Tocantins, do qual tiraram o tubo, mas ainda continua na UTI, os dois ex-prefeitos têm todas as condições de abrir os caminhos para a plena recuperação do Estado.
Contudo, entre possuir as condições técnicas e poder governar existe um rito de passagem indispensável, as eleições. Ambos precisarão conquistar o apoio da maioria da população para assumir a cadeira do Palácio Araguaia. Aí entra outro atributo sem o qual o projeto morre na praia: musculatura política.
É nesse aspecto que a figura de Gomes para o trio se torna fundamental. O senador, líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, é um dos maiores articuladores do Tocantins e o espaço que conquistou na política nacional lhe permite carrear milhões de reais de recursos para os municípios do Estado e, claro, ganhar credibilidade e apoio maciço dos líderes locais, que, ao final das contas, definem o voto de significativa parcela do eleitorado – vou explorar melhor esta questão nesta quinta-feira, 30.
A extrema capacidade de articulação fez com que Gomes se tornasse o único do núcleo do siqueirismo que continuou fortalecido mesmo após a extinção do grupo. Ele surpreendeu na eleição para o Senado já em 2014, quando disputou a vaga com Kátia Abreu (PP), que venceu com uma vantagem de menos de 1 ponto percentual. Ninguém acreditava que o então deputado federal conseguiria desempenho tão relevante, nem o seu grupo.
Porém, com a derrota, Gomes era tido como carta fora do baralho do cenário político estadual. Não é fácil sobreviver nesse ambiente sem mandato, ainda mais considerando que o candidato a governador dele na época, Sandoval Cardoso, também saiu derrotado.
Na eleição suplementar de 2018, o parlamentar voltou ao cenário, apostando as fichas na candidatura a governador de Vicentinho Alves para se catapultar de novo à disputa ao Senado. Outra derrota e chegou-se a se pensar que estaria fora do páreo, mas ressurgiu das cinzas e conseguiu a vaga de senador na chapa de Mauro Carlesse (PSL) e, com quase 250 mil votos, foi o primeiro colocado, numa campanha irretocável.
As possibilidades de Gomes concorrer o governo do Tocantins pareciam mais palpáveis com Carlesse no comando do Palácio Araguaia. Indícios me levam a crer que ele poderia ser o candidato do agora governador afastado. Sem a presença de Carlesse, Wanderlei é, sem qualquer sombra de dúvida, o nome do Palácio para as eleições, o que consolidou, por gravidade, o trio Gomes-Dimas-Laurez.
De toda forma, o nome do senador não está descartado, ainda que ele seja muito discreto nessa manifestação e Dimas e Laurez mais afoitos em se autoafirmarem candidatos. Até porque, pela força que tem por todo o Estado, há um clamor de grande parte de deputados estaduais, prefeitos e vereadores para que Gomes assuma a pré-candidatura.
De outro lado, os aliados dos dois ex-prefeitos têm também razão em avaliar que Gomes é peça estratégica para o Tocantins em Brasília, e isso independe de quem seja o presidente da República. Só lembrar que na era de ouro de Lula, no início dos anos 2000, o senador, então deputado federal do PSDB (principal adversário dos petistas), gozava da amizade das maiores figuras da República e tinha trânsito fácil pelos ministérios. A Capital Federal é, sem dúvida, a “praia” do senador, que a conhece e domina como poucos.
Mas, diz o velho clichê, como ninguém é candidato de si mesmo, a definição de quem vai encabeçar a chapa não será tomada pela vontade individual, mas pela força do grupo.
E não tenho dúvida de que, por esse critério, Gomes só não será candidato se não quiser.
CT, Palmas, 29 de dezembro de 2021.