O pré-candidato a governador do PT, Paulo Mourão, fez uma provocação nas redes sociais nessa quinta-feira, 13, ao colocar uma foto dele ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e questionar por que os adversários também não ostentam seus presidenciáveis. Na segunda-feira, 9, o site do jornal O Globo trouxe reportagem em que enquadra o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) no rol dos “isentões”, e o texto afirma que os aliados do inquilino do Palácio Araguaia dizem que ele quer distância das questões nacionais. Ambos estão certos, Mourão e Wanderlei, de acordo com a disponibilidade de recursos de que cada um dispõe.
Como a coluna já defendeu em outra reflexão, só deve ter interesse em puxar a polarização nacional para o Estado quem precisa conquistar musculatura eleitoral. O pré-candidato do PT não conta com a estrutura do Estado para atrair líderes, muito menos do governo federal, do qual ele e seu partido são mais do que adversários, inimigos. Assim, o principal capital eleitoral de Mourão é sua grande e bela história com o Tocantins, seu altíssimo preparo intelectual, a vasta experiência como gestor e, claro, a força inegável que Lula tem no Estado, sobretudo no interior.
Dessa forma, é importante para o petista escorar no carisma do ex-presidente para se fortalecer na disputa. No entanto, essa estratégia tem grave efeito colateral porque baixa o teto do alcance da votação de Mourão, uma vez que sua rejeição cresce muito entre os antipetistas, um imenso segmento espalhado por todo o Brasil.
Considerando a radicalização da política nacional, quando um pré-candidato se rotula com um dos lados atrai para si os amores mas também os ódios do extremismo que marca esse debate público. Se Lula tem muita força entre o eleitorado tocantinense, o presidente Jair Bolsonaro (PL) também conta com forte presença por aqui. Assim, adesão a qualquer dos lados produz uma rejeição tão grande quanto o apoio que se recebe.
Por isso, também está certo o governador Wanderlei ao se colocar no centro desse debate, onde ficam os chamados “isentões”. Primeiro porque ser “isentão” não é o mesmo que adversário. Antes de pensar em eleições, Wanderlei tem para governar um Estado que depende amplamente de transferências de recursos federais para pagar suas contas. Isso exige uma boa relação institucional, já que o governo estadual precisa ir além dos recursos constitucionalmente previstos. Verbas extras são obtidas construindo pontes, não as implodindo.
Do ponto de vista eleitoral, a postura de “isentão” de Wanderlei também é benéfica justamente porque alguém interessado em disputar o governo do Estado não pode comprar para si uma confusão nacional deste tamanho, que divide o eleitorado não por mera divergência de opinião, mas por um ódio irracional.
Os pré-candidatos do PL, Ronaldo Dimas, e do PSC, Osires Damaso, também deveriam se inscrever no “partido dos isentões”, ainda que seja previsível que o ex-prefeito de Araguaína terá maior dificuldade para isso na auge das discussões — por integrar a mesma legenda que Bolsonaro.
Como “isentão”, Wanderlei se torna palatável para os militantes dos dois campos e atrativo para os grupos menos radicalizados dos eleitores, que, bom que se diga, representam a maioria da população.
Ainda bem.
CT, Palmas, 13 de maio de 2022.