Após hibernar longamente, mergulhado numa profunda paralisia econômica e financeira, o governo do Tocantins dá sinais de que está acordando e começa a retomar o papel que desempenhou nos primeiros 15 anos de sua história: de indutor do desenvolvimento do Estado. O norte de Goiás era esquecido, pobre, com abismais desigualdades sociais. Isso significa que nossa iniciativa privada era totalmente precária, baseada em pequenos comércios.
Com a criação do Tocantins, o antigo norte goiano ganha uma máquina propulsora de desenvolvimento, um governo próprio, e, sob a batuta de Siqueira Campos, principalmente, inicia uma grande transformação, com investimentos maciços em infraestrutura, injetando milhões de reais nas cidades, desenvolvendo seu comércio e atraindo importantes plantas industriais, hoje espalhadas por várias regiões. O recém-criado Tocantins sai seu primarismo econômico para dar um passo à frente. Ainda pouco, mas o suficiente para tirá-lo da condição anterior de total abandono.
Contudo, a máquina saiu do trilho descaminhada pelas brigas políticas fratricidas que se tornaram intensas a partir do rompimento da União do Tocantins, em meados dos anos 2000. O resultado foi o inchamento da estrutura de governo, o profundo e irracional comprometimento das contas públicas, o fim da liquidez do Estado e, consequentemente, de sua capacidade de investimento.
Desde por volta de 2011 que venho insistindo que era preciso um programa profundo de cortes de gastos, de enxugamento da máquina e de replanejamento do Estado para que ele pudesse recuperar seu principal papel, o de indutor do desenvolvimento.
Chegou-se a esboçar uma tentativa disso nos governos Siqueira Campos (2011-2014) e Marcelo Miranda (2015-2018), mas não foi além. Eu insistia que era preciso um ação mais dura, de sacrifícios maiores, não havia caminho leve, suave, diante do caos que foi construído.
O ganho com o governo Mauro Carlesse (PSL) foi justamente esse passo a mais para segurar os gastos públicos para que o Estado recuperasse fôlego e a máquina, mesmo que lentamente, voltasse a se mover. O programa “Tocando em Frente”, lançado nesta quinta-feira, 1º, é um importante sinal de que todo o sacrifício começa a dar resultado. A proposta do governador é de um investimento de R$ 2,9 bilhões até o fim de 2022 com expectativa de gerar 104 mil empregos. A iniciativa é dividida em cinco frentes e chegará aos 139 municípios, com cada um deles recebendo o aporte mínimo de R$ 3 milhões.
Se essas projeções se confirmarem, o Tocantins retomará o ciclo de desenvolvimento do qual nunca deveria ter saído.
A discussão da oposição é se o Estado está ou não reenquadrado à Lei de Responsabilidade Fiscal. O governo Carlesse diz que sim, os adversários juram que não, e mostram as letras C do Tocantins junto à Secretaria do Tesouro Nacional. Este é um debate eleitoral, no qual prefiro não entrar. Quem está dentro defende o governo, quem quer tomar o poder ataca. Faz parte da democracia.
O que sei é que, na prática, as coisas estão ocorrendo como não se viu nas últimas gestões. Os salários voltaram para a data correta, os fornecedores estão recebendo razoavelmente em dia (ainda que existam pendências, mas não de forma sistêmica como até 2018, com reclamações diárias nas redações dos veículos de comunicação) e o Estado voltou a investir, após mais de uma década de paralisia total.
A despeito da política eleitoral, como tocantinense, que torce para este Estado dar certo, vejo motivo de comemoração. É pouco, precisamos avançar mais, o governo não é perfeito e talvez tenha mais defeitos que qualidades. Ainda precisamos atrair mais investimentos, fortalecer o setor privado e reduzir nossas profundas e lamentáveis desigualdades. Não tenho a menor dúvida disso.
No entanto, pelo que víamos no Tocantins até 2018 e o que ocorre agora, a diferença é profunda. Quem acompanhou todos os movimentos do Estado nos últimos 20 anos sabe disso. O resto é disputa eleitoral, justamente a política menor que nos levou ao fundo do poço do qual começamos a sair.
CT, Palmas, 2 de julho de 2021.