O desabafo da vereadora Laudecy Coimbra (SD) sobre a ambiente da Câmara de Palmas foi certeiro. Deve ser mesmo insuportável levantar-se todo dia para o trabalho, sabendo que encontrará no ambiente uma energia tão carregada e negativa pela prevalência de uma perigosa toxina, o ódio. Desde o início desta legislatura é esse veneno o combustível que move as sessões.
Sem entrar em qualquer aprofundamento teórico, a política é a arte mais nobre das relações humanas. Isso pressupõe que as conquistas que dela advém não são alcançadas pela imposição da força, mas pela sutilidade do convencimento. Os mais hábeis políticos não são bem-sucedidos em seus intentos pelos decibéis dos gritos, pelo poder destruidor das palavras ofensivas ou difamadoras, mas pela docilidade da oratória, pela mão estendida no momento certo, pela advertência sem malícia, pela busca do consenso, por evitar a discórdia.
Ainda mais em se tratando de uma Casa Legislativa, onde uma ação só é vencedora com o voto da maioria. Nesse caso, insistir no dissenso é apostar na derrota. O berro autoritário de L’État c’est moi (“o estado sou eu”), a la Luís XIV, arvorando-se de Rei Sol, é um gesto que pode ser visto como birra infantil, mas, em se tratando de um adulto, deixa de ser esperneio meramente pueril para revestir a postura de um despotismo cujo fim é bem conhecido.
Ao longo destas três décadas de jornalismo político, não acompanhei nenhuma carreira bem-sucedida que começou com a imposição da força, da vontade pessoal sobre a do grupo. Todos, sem exceção, voltaram à planície, ao anonimato, muitas vezes totalmente humilhados e devastados. Os aplausos da galera, os likes e compartilhamentos obsessivamente buscados nas redes sociais são altamente efêmeros, não se sustentam por muito tempo. As mãos que aplaudem hoje são as mesmas que vão vaiar e jogar pedras amanhã.
Dois horizontes o parlamentar nunca pode perder de vista, sob pena de ser tragado pelas circunstâncias: o Regimento Interno é instrumento jurídico mas também político e o mandato é passageiro, sobretudo quando se trata do exercício meramente transitório de cargo em mesa diretora.
A falta de sabedoria é um pecado muito maior do que falta de inteligência. Paradoxalmente, estamos falando da legislatura mais teocrática que vi na Câmara de Palmas nestes últimos 20 anos. Apesar disso, parecem esquecidos de preciosos ensinamentos bíblicos. Entre eles este:
“Vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus.” (Efésios 5:15-16).
Post Scriptum
Movimento intensificado – Os pré-candidatos começaram a intensificar a movimentação rumo a 2022 nos últimos dias. Enquanto a Covid-19 dá uma trégua, eles aproveitam para fazer suas articulações.
Corte brusco – O ex-deputado Paulo Mourão (PT) está puxando um debate sobre a recomposição do orçamento da Universidade Federal do Tocantins (UFT), que se mantém no patamar de 2012 e, para piorar, como as demais federais, passou por um corte brusco por parte do governo Jair Bolsonaro. Mourão quer fazer uma interlocução entre Reitoria e bancada federal do Tocantins.
CPIs Sonrisal – Os vereadores de Palmas voltam com a velha e enfadada cantiga da CPI da BRK Ambiental. Várias câmaras do Estado, inclusive a da Capital, instalaram comissões contra a empresa recentemente. Nunca se ouviu falar de resultados, só de agitação. São CPIs Sonrisal.
Tema complexo – Foi muito esclarecedora a entrevista da secretária estadual da Educação, Adriana Aguiar, ao Quadrilátero desta semana sobre as dificuldades de gerir este setor tão estratégico para o Tocantins. O tema da volta às aulas presencial não é questão de resolução fácil. É muito complexo e, como disse professora Adriana, não há consenso e muitos pais resistem a enviar os filhos às escolas antes da vacinação. Eles não estão errados. Se a educação é fundamental, a vida a antecede.
CT, Palmas, 12 de março de 2021.