A disputa que mais promete para 2022 é a de senador. Desta vez, apenas uma vaga estará à disposição dos candidatos, a da senadora Kátia Abreu (PP), que poderá buscar seu terceiro mandato, após 16 anos na Casa. Ela chegou lá numa disputa tida como inglória, em 2006.
Eduardo Siqueira Campos, na época pelo PSDB, era tido como fortíssimo candidato à reeleição e, por isso, via-se a candidatura da então deputada federal Kátia Abreu, pelo PFL (hoje DEM), como uma aventura pra lá de arriscada. No contexto da eleição, o do rompimento da União do Tocantins, coligação hegemônica no Estado desde sua criação, a exceção do lapso de quatro anos da gestão de Moisés Avelino (1991-1994).
Kátia acompanhou o então governador Marcelo Miranda, que deixou a UT ao se desfiliar do PSDB e voltar ao MDB, do qual ele e o pai, Brito Miranda, eram quadros históricos. O PFL foi o único partido a voar da base utista, com a força da então deputada federal junto à executiva nacional. Kátia surpreendeu na disputa com Eduardo e já em agosto de 2006 as pesquisas mostravam que ela venceria.
Nas eleições de 2014, a senadora buscou a reeleição contra o então deputado federal Eduardo Gomes, do Solidariedade naquela disputa. Gomes já havia tentado vaga para concorrer ao Senado em 2010, mas foi preterido pelo na época deputado federal Vicentinho Alves (PL). Com desgastes daqueles anos turbulentos da política tocantinense, em que chegou a trocar o palanque de Marcelo em 2006 pelo do arquirrival Siqueira Campos em 2010, Kátia conquistou mais oito anos de Senado numa emocionante chegada cabeça a cabeça com Gomes. Foi a menor diferença do Brasil daquela eleição de senador: ela venceu com 41,64% contra 40,77% para o então deputado federal, uma vantagem de mísero 0,87 ponto.
Kátia foi, então, ministra da Agricultura de Dilma Rousseff (2015-2016) e até candidata a vice-presidente da República na chapa de Ciro Gomes (PDT), em 2018. Mas sofreu desgastes com sua base — o agronegócio — ao ficar do lado da presidente petista durante o impeachment de 2016 e ao travar uma batalha ferrenha com Marcelo Miranda pelo comando do MDB do Tocantins. Colheu como resultado um tímido desempenho em sua disputa pelo governo do Estado na eleição suplementar de 2018 e se saiu da mesma forma por aqui como candidata a vice de Ciro em outubro daquele ano. Agora, como sempre muito corajosa, é uma das maiores críticas no Congresso ao governo Jair Bolsonaro, tratado como “mito” pelos ruralistas.
Este é o cenário que encontra a pré-candidatura a senador do governador Mauro Carlesse (PSL). Seus adversários acalentaram a esperança de que ele fosse barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas ações movidas pela Procuradoria Regional Eleitoral e pelo ex-senador Vicentinho Alves em decorrência da suplementar de 2018. Porém, o resultado foi favorável a Carlesse, que agora está livre para disputar a cadeira de Kátia.
Ex-governador sempre é forte candidato ao Senado. Um exemplo do Tocantins é de Marcelo Miranda. Em 2010 ele concorreu até contra o que defendia parte de seus líderes. Marcelo estava desgastado por conta da cassação pelo TSE em 2009, o governo Carlos Gaguim, na época pelo MDB, dividia o Estado e também gerava dificuldades para o projeto eleitoral do antecessor de chegar ao Senado. No entanto, mesmo com esses empecilhos, Marcelo foi o segundo mais votado, atrás apenas de João Ribeiro — naquele ano duas vagas seriam renovadas. O ex-governador só não assumiu em consequência da cassação de 2009 e a vaga ficou para o terceiro colocado, Vicentinho Alves.
Com o governo ajustado, obras estruturantes que promete levar para o Estado e apoio maciço dos prefeitos, ou seja, sem os obstáculos que Marcelo enfrentou em sua época, Carlesse, sem dúvida, surge como forte pré-candidato a senador.
Claro, sempre é bom considerar o histórico de resistência da senadora Kátia Abreu e lembrar também que outros nomes podem surgir e surpreender.
Post Scriptum
Semana da CPI promete – Nesta semana, a CPI da Covid vai discutir o tema crucial em termos de responsabilidade do presidente da República: por quê o governo Bolsonaro ignorou as ofertas de vacina. Foram 11, conforme a imprensa apurou. Semana passada, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta chegou a dizer que, se o governo tivesse aceitado as ofertas, não teríamos tido a segunda onda. Ou seja, a maioria dos amigos e parentes que perdemos estaria viva.
PT quer mourão – A romaria de políticos do Tocantins para visitar o ex-presidente Lula cresce. Já chegaram à “meca” o ex-deputado Paulo Mourão e o deputado federal Célio Moura. Uma coisa o PT do Tocantins tem deixado claro: quer construir uma candidatura a governador de Mourão, que tenta entrar nessa disputa pelo menos desde 2010. Mas quem sempre impediu foi o próprio PT.
Tsunami? – Final de semana de muita movimentação em Palmas, shoppings superlotados e um inoportuno concurso da Polícia Rodoviária Federal, que garantiu um incremento de mais 4 mil pessoas para agitar a cidade. Ao que tudo indica desta vez não teremos uma terceira onda, mas o primeiro tsunami. Apertem os cintos.
De olho no Senado – Nos bastidores, os mais experientes não têm dúvida de que o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) olha o governo do Tocantins em 2022, mas, na verdade, mira mesmo o Senado, projeto dele pelo menos desde 2010.
CT, Palmas, 10 de maio de 2021.