Como trouxemos na reflexão dessa terça-feira, 5, a ocupação do meio político nos últimos dias, com o fechamento da janela partidária, é fazer contas para concluir qual campo ganhou ou perdeu com a dança das cadeiras. No entanto, do ponto de vista estrutural do sistema político brasileiro, o maior o derrotado foram os partidos. Para quem tinha dúvida, ficou provado que não servem para nada. Minto: servem para atender as exigências protocolares da Justiça Eleitoral. Fora isso, são absolutamente dispensáveis.
Ideologias? Bandeiras? Não. O que pesou para a escolha do partido foram dois critérios muito pragmáticos: se essa sigla está do lado da majoritária que o pré-candidato precisa defender [claro, por interesses outros que não projetos para o Estado ou para a Nação], e se a nominata da legenda garante competitividade ao postulante a uma cadeira do legislativo.
Assim, a definição não foi fundamentada por teses sociológicas, políticas, cívicas, nada nem perto disso. Não se buscou alicerçá-la no pensamento clássico de grandes teóricos. Para se definir para qual partido pular, bastou uma calculadora.
Nos últimos anos, os partidos políticos brasileiros vêm mudando de nome, com base no sucesso de legendas que se tornaram conhecidas mundo afora, a exemplo da Espanha, por lutas e conquistas que ficarão para a história. Nomenclaturas pomposas explodiram por aqui: Avante, Podemos, Patriota, Cidadania, Progressistas, União Brasil, Solidariedade, Novo. No entanto, estão muito longe de se revestirem de ideias e ideais, projetos e civismo. São mais do mesmo.
Movidos apenas pela sede de poder e dinheiro, não existe a preocupação de apresentar uma proposta para o desenvolvimento do Brasil, mas, sim, conquistar o maior número de cadeiras na Câmara porque assim abocanham fatias enormes do dinheiro do contribuinte (este ano, só de fundo eleitoral, absurdamente, são quase R$ 6 bilhões), mais tempos de rádio e TV e, claro, ficam com uma enorme peixeira nas mãos para enfiar no pescoço do próximo presidente para arrancar dele ministérios que movimentam enormes montanhas de verbas e negócios.
Essa é a única lógica que movem os partidos e que faz com que a maioria deles não ambicione ter candidato a presidente da República. É muito caro, avaliam, desnudando a verdade única de sua existência: de novo, dinheiro e poder.
É, portanto, essa lógica partidária que prevaleceu durante todo o mês de março na escolha que os pré-candidatos fizeram. Se os próprios partidos não tem a mínima preocupação com ideologia, bandeiras e projeto de Estado e Nação, por que os seus quadros terão? Querem apenas resultados quantitativos, não qualitativos. Ter os membros da sociedade de princípios mais nobres não dá mais fundo partidário e eleitoral nem garante acesso a secretarias e ministérios com movimentações bilionárias.
O maior problema é que se trata de um circulo vicioso. O sistema político-partidário precisa de uma reforma, e já passou da hora. Mas quem deveria fazê-la são essas pessoas que chegam ao poder através desse sistema que deveria ser mudado, que se beneficiam dele. Só ver como as alterações da legislação eleitoral têm se dado nos últimos anos, sempre segundo a conveniência desse modelo nefasto ao País. Isto é, mudam para não mudar.
Um beco sem saída.
CT, Palmas, 6 de abril de 2022.