Muito bom que o governador Mauro Carlesse (DEM), a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), e demais prefeitos estejam se movimentando para conseguir vacina para imunizar a população contra a Covid-19. Não dá para ficar sob a tutela do governo federal, uma vez que o presidente da República definiu o genocídio como política de estado e não tem o mínimo interesse em conseguir vacinas para salvar a vida dos brasileiros.
O deputado federal Fábio Ramalho (MDB-MG) foi convidado a preparar um apetitoso leitão para almoço temático “informal” no Palácio do Planalto, nessa terça-feira, 2, e contou à Folha de S.Paulo que Jair Bolsonaro estava “alegre” e “bem descontraído”. Justamente nessa terça-feira, enquanto prefeitos e governadores se desesperavam por vacinas e UTIs e o Brasil chegava à marca recorde de 1.726 mortos pela Covid-19, o maior número de vidas perdidas até agora para o novo coronavírus.
Ou seja, se esperam alguma coisa boa dessa política genocida de Bolsonaro vão perder tempo e mais milhares e milhares de vidas de brasileiros. Governadores e prefeitos assumiram o comando da coordenação da crise sanitária. Com erros e acertos, estão fazendo o possível para atender a demanda absurda que lhes chegam, sobretudo nesses últimos dias. Claro que temos beócios como o presidente da República, caso do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), que propôs no dia 24 que sua população “contribua com a própria vida para salvar a economia” da cidade.
Fechando a questão no Tocantins, contudo, é importante ressaltar que o divisionismo entre os líderes regionais neste momento não vai contribuir em nada para que consigamos minimizar os estragos que a Covid-19 continuará causando em escala crescente nas próximas semanas. Já não basta o diversionismo de Bolsonaro, que usa de subterfúgios para fugir de sua responsabilidade, aplicar a política do genocídio e jogar a população contra os líderes regionais, contra imprensa e demais instituições.
Se prefeitos e governadores não se sentarem e discutirem com maturidade e serenidade, perderemos muito mais vidas, e essa crise se estenderá por muito mais tempo. Assim, debates acalorados publicamente, ataques pessoais, divergências políticas menores precisam ser evitados. Nunca em toda nossa história os líderes regionais precisaram tanto mostrar espírito público para buscar a unidade e garantir que pelo menos localmente possamos fazer a nossa parte. Porque a situação é muito mais terrível do que pensamos.
Na noite dessa terça-feira, o cientista Átila Iamarino fez um vídeo [íntegra ao final deste texto], com base em dados de pesquisas, para explicar o momento que vivemos e o que podemos esperar para as próximas semanas. A notícia é devastadora: enfrentaremos dias trágicos. Estamos neste momento numa situação muito pior do que no início da pandemia em março do ano passado.
Ao contrário do resto do mundo, que intensifica a vacinação e vê seus indicadores negativos em declínio, aqui não temos imunizante suficiente — e, pela política genocida do governo federal, não sabemos quando o teremos — e as contaminações e mortes começaram a subir em meados de novembro sem nos dar qualquer perspectiva de quando serão contidas.
As 1.726 mortes que tivemos nessa terça-feira, prevê Iamarino, é um recorde trágico que deverá ser batido várias vezes nas próximas semanas. E esses óbitos são resultado de pessoas que ainda se contaminaram em janeiro e no início do período de carnaval. Como desde então as aglomerações não pararam, o que se tem pela frente é algo infernal.
Para piorar, neste momento caminhamos para um colapso nacional do sistema de saúde, o que tornará essa dor muito maior, pelo sofrimento que nos atingirá ou que assistiremos sem ter o que fazer. Não vai haver UTI não só para pacientes de Covid-19, mas para qualquer outra enfermidade, um acidentado, vítima de violência. Enfim, qualquer pessoa que precisar de UTI por qualquer motivo que seja, vai morrer porque simplesmente não terá.
Criamos uma variante brasileira do novo coronavírus, a tal P.1, considerada pelo mundo a pior de todas e que nos tornou pessoas indesejáveis em todos os países ocidentais. Conforme o cientista, é a persistência do vírus entre nós e nossa incapacidade de controlá-lo que gerou essa variante — um “monstro”, ele definiu — e que pode não ser a única. Se não controlarmos essa mutação, outras piores poderão surgir.
Iamarino explicou que essa P.1 é mais transmissível, infecta quem já teve a Covid-19 (ou seja, aquela balela de curados visando imunidade de rebanho que o bolsonarismo gosta de apontar passa a valer menos do que já valia) e mata muito mais, inclusive jovens.
Por fim, o cientista defendeu que todas as regiões em situação crítica — neste momento quase todo o Brasil, inclusive o Tocantins — deveriam se fechar. Lockdown geral. Se fizermos isso, afirmou, reduziremos o período de mortes crescentes e o tempo das cenas de horror que devemos assistir. Mas impedir que elas ocorram já não é possível.
Concluiu Iamarino: esse inferno foi construído por nós mesmos, pela desobediência ao distanciamento social, por não usarmos máscaras e por um governo que tem o genocídio como política de estado (os termos mais fortes aqui são meus).
Esse é o cenário que nos está colocado: com lockdown, passaremos por um inferno menos duradouro; sem lockdown, por um inferno que não tem data para terminar.
Qual caminho escolheremos?
CT, Palmas, 3 de março de 2021.