O vice-governador Wanderlei Barbosa (sem partido), pré-candidato a governador em 2022, tem recebido dezenas de prefeitos, semanalmente, desde o início de janeiro. Outro provável concorrente ao Palácio Araguaia no ano que vem, o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (Podemos) faz visitas quase que diárias aos líderes municipais. Nessas movimentações estão antecipadas as principais peças que devem operar no tabuleiro das próximas eleições estaduais. É importante observar do que depende cada um para consolidar a candidatura a governador.
Em comum, os dois têm o fato de serem políticos tradicionais no Tocantins, muito bem articulados e de fácil trânsito entre os mais diversos grupos. Como outros líderes da velha guarda, Wanderlei e Dimas também atuaram para estender os tentáculos da família na política estadual. Não por acaso, os filhos de ambos, o deputado estadual Léo Barbosa e o federal Tiago Dimas – do mesmo partido, o Solidariedade —, foram os mais bem votados nas eleições de 2018, respectivamente, para Assembleia e Câmara Federal. O vice-governador ainda tem o irmão vereador de Palmas, Marilon Barbosa (DEM), o mais bem votado para o Legislativo da Capital em novembro.
No entanto, o desafio de cada um para se consolidar na disputa de 2022 é diferente. Wanderlei, para começar, depende de realmente o governador Mauro Carlesse (DEM) renunciar em abril do ano que vem para concorrer ao Senado. Só assim, assumindo o comando do Palácio, o atual vice-governador se qualifica para as eleições. Nas entrevistas de balanço de 2020 que concedeu no final de dezembro, Carlesse disse que não está muito animado em tentar buscar a vaga que hoje pertence à senadora Kátia Abreu (PP). Mas, pessoas próximas dele, acreditam que participar dessa disputa é o caminho natural do governador.
De toda forma, é mesmo importante o movimento que Wanderlei tem feito junto às lideranças desde já. Não pode deixar para pensar em ganhar essa musculatura somente com a caneta nas mãos, a partir de abril de 2022.
Contudo, só isso não basta. A força de Wanderlei para as eleições estaduais também está condicionada aos investimentos que o governo Carlesse, do qual ele é copiloto, fará nos municípios. O Palácio Araguaia trabalha com possibilidade de o Estado receber um total de R$ 1,5 bilhão neste e no próximo ano. Desse valor, há os R$ 453 milhões junto à Caixa Econômica Federal, que são os que mais interessam aos prefeitos, uma vez que cada município será contemplado com R$ 1 milhão, além das obras que estão embutidas nessa operação.
Esse empréstimo está enroscado desde 2017, quando foi aprovado pela Assembleia, na época presidida pelo próprio Carlesse e que tinha Wanderlei como deputado estadual. Desde então veio a cassação do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) em março de 2018, depois, na eleição suplementar, a Justiça proibiu a Caixa de liberar os recursos; e ainda havia o fato de que o Estado estava fora dos limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Tudo isso impediu o governo de conseguir pôr as mãos nos recursos. Na entrevista à Coluna do CT no final de dezembro, Carlesse assegurou que essa operação sairá este ano.
Sem esses investimentos, uma candidatura de Wanderlei perde a vantagem competitiva, uma vez que, com eles, o governo estima que, além das obras que os municípios reivindicam, serão gerados 20 mil empregos diretos no Estado. Num processo eleitoral, esse é um argumento muito forte para apontar o sucesso de uma gestão e a necessidade de ser continuada.
No caso de Dimas, a primeira tentativa dele de se lançar ao governo do Tocantins ocorreu em 2018, mas acabou não avançando porque o então prefeito de Araguaína foi surpreendido pela cassação de Marcelo, fato que mudou toda a disposição do tabuleiro. Com sabedoria, ele entendeu isso e continuou à frente do município.
No entanto, porque devia renunciar à prefeitura naquela época, a avaliação que faço é que Dimas ficou pressionado pelo tempo e pelos líderes. Ele não tinha muito o que oferecer, a não ser seu projeto para o Tocantins a partir do bom exemplo que deu no comando de Araguaína. Essa situação impediu que o ex-prefeito construísse a musculatura necessária para colocar sua candidatura de forma competitiva. Depois vieram outros fatores, a própria cassação de Marcelo e a candidatura do então senador Vicentinho Alves (PL) na suplementar, o que gerou o rompimento dos dois.
O que muda para Dimas em relação a 2022 é que ele não tem a pressão imposta pela necessidade de renúncia, além de ter concluído uma belíssima gestão de oito anos em Araguaína e de ter elegido seu sucessor, Wagner Rodrigues (SD), com certa tranquilidade. Há ainda o fato de desta vez não estar sozinho, com a obrigação de construir essa musculatura por si mesmo, apenas com um projeto de governo em mãos.
Isso porque Dimas conta com o apoio do senador Eduardo Gomes (MDB), líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso e o político de maior influência neste momento junto aos prefeitos, justamente por esse poder de carrear milhões em recursos federais aos municípios. Além disso, Gomes é de longe o articulador mais habilidoso do Estado.
Se o governo Carlesse colocar no Estado os recursos que espera para investimentos nos municípios e Gomes realmente fincar esse apoio a Dimas, teremos duas estruturas de campanha muito fortes, e não haverá espaço para outra candidatura, pelo menos de forma competitiva.
A questão é que todos os membros desses dois projetos estiveram juntos em 2018 e continuam aliados. Isto é, para que as duas candidaturas se tornem realidade será preciso um rompimento entre eles, o que depende, exclusivamente, do que Gomes vai decidir. Apoiará mesmo seu amigo de 30 anos — como ele se referiu a Dimas na campanha do prefeito Wagner Rodrigues?
Para esse grupo continuar junto, só em duas situações:
1. Carlesse renuncia, Wanderlei assume o governo e Dimas retira sua pré-candidatura, o que abriria margem para outro nome da oposição se colocar no processo eleitoral de forma mais competitiva;
2. Carlesse renunciando ou não, Wanderlei não disputa para apoiar Dimas.
Sinceramente, não acredito em nenhuma dessas situações.
CT, Palmas, 11 de fevereiro de 2021.