A expectativa para o Brasil nos próximos meses é a pior possível. Como já está claro, não haverá recuperação em “V”, como pregava o sumido ministro da Economia, o falastrão Paulo Guedes, mas em “U”, com a base se alastrando sabe-se lá por quanto tempo até começar a subir.
No campo sanitário, os principais cientistas avisam que, se não houver um lockdown de verdade e nacional, se continuarmos vivendo como se não houvesse uma pandemia, não teremos onde enterrar os cadáveres.
Um presidente da República despreparado, negacionista, ignorante, que vive na mentalidade autoritária dos anos 1960, lidera um genocídio que já vitimou mais de 225 mil brasileiros. Pior: continua, apesar de tudo, pregando contra o isolamento, contra o uso de máscara e receitando remédios que a ciência já provou que não servem para tratar da Covid-19. E o Conselho Federal de Medicina insiste em fingir que não está vendo.
Agora, acuado pelo medo do impeachment e de ver os filhos na cadeia, se rendeu ao Centrão, o grupo fisiológico que domina o Congresso, e dele Bolsonaro se tornou refém.
Quando se olha para o outro lado do tabuleiro, não há luz no fim do túnel. Petistas e idólatras (iguaizinhos aos bolsominions no campo da direita) só pensam no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a disputa de 2022. Lula é o candidato dos sonhos de… Jair Bolsonaro. Se o petista pudesse concorrer no ano que vem, o atual presidente poderia ganhar até no primeiro turno. Mas a idolatria cega. De um lado e de outro.
O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), é um pastel de vento: cheio de marketing e pouco conteúdo, e que se mostrou, nessa eleição da mesa diretora do Congresso, sem força dentro do próprio partido.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) sempre vejo como um Bolsonaro da esquerda, com mais estudo e leitura. Faz o tipo que resolve tudo no grito, no soco, na porrada. O machão!
O Cidadania aposta todas as fichas no global Luciano Huck, o bonzinho que faz caridade com o dinheiro dos patrocinadores, obtendo muita audiência e retorno financeiro. Mas política? Não sei. Um projeto no qual não sinto a menor consistência, e torço para que seja fruto do meu preconceito a globais bonzinhos e politicamente corretos, um defeito que assumo ter.
Bem mais à esquerda, piorou. Eles têm uma visão irracionalmente sectária. Sonham em chegar ao poder com uma frente purista, só com seu campo político. Esses estão com a mentalidade enraigada na Rússia de outubro de 2017. Não evoluíram.
A direita liberal com o Novo de João Amoêdo, entre outros, não encontra ressonância nas ruas. Elitistas frustrados por não terem nascidos em Nova Iorque. Os históricos do tucanato, ou abatidos no lavajatismo, ou aposentados, ou simplesmente se desconectaram da vida pública.
O Brasil precisava construir uma frente ampla de centro-esquerda e centro-direita capitaneada por grandes líderes nacionais para começar desde já a levantar o moral da população e a criar esperanças de dias melhores. Mas quem são os grandes líderes nacionais? Olho, olho, e não vejo.
Temos um medíocre na Presidência que simboliza muito bem o momento mais baixo da República brasileira. Qualquer pessoa que saiba ler e escrever, tenha o mínimo conhecimento de história e de política percebe isso sem gastar muito neurônio — lógico, é preciso ter neurônio para esse processo.
Para piorar um pouquinho mais nossa autoestima, um presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sem condições legais e morais de assumir a Presidência da República, apesar de ser o terceiro homem da linha sucessória. Motivo: é réu em ação no Supremo Tribunal Federal (STF), na qual é acusado de corrupção. O terceiro homem da República!
Não tem nada mais trágico para o Brasil neste momento do que ter um homem sem moral no comando do Legislativo — sem falar em todo o despreparado que demonstrou em seu discurso da vitória, aviltante, pequeno, desonroso. Teria vergonha se fosse deputado e tivesse votado num ser tão pequeno num momento em que o País clama para alguém altivo, de envergadura moral e atento à pauta da sociedade.
Logo após a vitória, Lira fez uma recepção para 300 convidados, com aglomeração em tempos de pandemia, em uma luxuosa casa do empresário catarinense Marcelo Perboni. Detalhe: conforme o jornal o Estado de S.Paulo, o produtor e comerciante de frutas é acusado pelo Ministério Público de se apropriar indevidamente de R$ 3,8 milhões. Esse roteiro sobre o desastre nacional que vivemos está também cheio de clichês hollywoodianos.
O momento do país é difícil, o mais terrível de nossa República. A população impedida de viver normalmente por um vírus letal, sem líderes que apontem o caminho para onde seguir, nas mãos de um presidente da República com traços claros de psicopatia, que isola o Brasil do mundo no momento em que nossas relações externas deveriam ser as melhores possíveis. (Para os empresários que ainda apoiam esse ser esdrúxulo: se preparem! A colheita do plantio deste apedeuta que vocês idolatram está para chegar.)
Reforço meu mantra: nossa maior crise não é econômica nem sanitária, mas de grandes líderes capazes de unificar o País e comandar nossa marcha para dias melhores.
CT, Palmas, 3 de fevereiro de 2021.