Como todos devem estar claramente percebendo pelas notícias da Coluna do CT, o clima pré-eleitoral começa a esquentar. Com as definições, cada um já sabe quem é o aliado e o provável aliado e o adversário e o provável adversário. Nesse jogo de conveniência, esquece-se de todo o histórico de alianças de parte a parte. O que vale são as composições de hoje, não os afagos e fotos de todos abraçados de ontem. Mas, parafraseando o título do conhecido filme: eu sei o que vocês fizeram nas eleições passadas.
Não é verdade que o governo Wanderlei Barbosa (Republicanos) seja mera continuidade do governo Mauro Carlesse (UB). A relação dos dois estava muito estremecida antes mesmo de Carlesse ter sido afastado em outubro. Ao tomar posse, Wanderlei deixou claro o rompimento com o antecessor e que, se o ex-governador voltasse pelas mãos da Justiça, iria para a oposição ao Palácio Araguaia.
Mais ainda: foi Wanderlei quem deu o start ao processo de impeachment de Carlesse na reunião na casa do deputado estadual Amélio Cayres (SD). Não acredito que isso foi tudo combinado, num “acordão”, com o ex-governador e os deputados estaduais, muito menos que o ex-gestor tenha ficado feliz com seu ex-vice e sucessor.
Da mesma forma não é possível dizer que o pré-candidato a governador Ronaldo Dimas (Podemos) busque o apoio do grupo de Carlesse por sua aproximação com a prefeita de Gurupi, Josi Nunes (UB). Isso é tratar Josi como mera extensão de Carlesse, o que é absurdamente injusto com a prefeita, que tem uma longa história política no Tocantins, precedendo, em muito, ao ingresso do ex-governador na vida pública.
A relação de Josi com Carlesse é natural do processo político. Queria disputar a prefeitura, seu adversário era oposição ao Palácio, logo, governo e a então pré-candidata viram que ambos poderiam ganhar com a união de forças para aquelas eleições específicas de Gurupi, em 2020.
Se se disser que, por isso, por um ter apoiado o outro, estão eternamente ligados, então, quase ninguém escapará de ser aliado de Carlesse para sempre.
Wanderlei foi um dos principais apoiadores da gestão do então presidente da Assembleia e ali nasceu a relação que o levou a ser, depois, por duas vezes, vice-governador de Carlesse.
Dimas rompeu com o então senador Vicentinho Alves (sem partido) e foi apoiar a candidatura de Carlesse na eleição suplementar de 2018 e a aliança continuou nas eleições ordinárias daquele ano.
Eduardo Gomes (MDB) foi eleito senador no palanque de Carlesse, onde também estava a hoje pré-candidata a senadora Dorinha Seabra Rezende (UB). O deputado estadual Elenil da Penha contou com o apoio do grupo de Carlesse em sua disputa pela Prefeitura de Araguaína em 2020.
E os deputados estaduais? Dos 24 deles, 23 deram total e ampla sustentação ao governo Carlesse durante mais de três anos. Mas, como rei morto, rei posto, pularam rapidinho para o barco de Wanderlei, meteram 24 x 0 em cima do ex-governador no primeiro turno da autorização para o impeachment, o revelou que o ex-gestor do Estado estava em xeque-mate. Assim, só viu uma saída, a renúncia.
A cada eleição forma-se uma aliança, que reflete aquele momento específico. O adversário de hoje é o aliado de amanhã, e vice-versa. Claro, é a marca da política brasileira dos tempos atuais: pragmatismo e conveniência. O que acho disso? Horrível! Mas é assim.
Por isso, não existe nem “Wanderlesse”, nem “Dimesse”.
CT, Palmas, 15 de março de 2022.