Um fato que tem chamado a atenção dos tocantinenses é que nestas pré-campanhas tudo pode acontecer em termos de composição dos grupos. Não existe um território demarcado, propriamente, nem uma regra explícita de que quem cruzar linhas limítrofes passa a ser adversário. Diga-se: ao contrário do que ocorria nas últimas eleições do Estado, em graduações diferentes, mas evidentes.
Em 2006, nem se fala. Não havia qualquer tolerância naquela polarização tóxica. Ou se era marcelista, ou siqueirista. Sem qualquer possibilidade de meio termo. Um político não poderia se dar ao luxo de ficar negociando com os dois grupos raivosos. Se alguém abrisse conversa com o outro lado, logo era expurgado. Claro, isso não valia apenas para políticos, mas para servidores, empresários ou qualquer outro cidadão que vivesse em solo tocantino.
Praticamente a mesma relação maniqueísta se repetiu em 2010, ainda que um pouquinho menos raivosa. Mas era obrigatório se posicionar no campo do então governador Carlos Gaguim ou no de seu adversário, Siqueira Campos, e cortar qualquer diálogo com o outro lado.
Em 2014, a corda já não estava tão esticada como nas eleições anteriores, mas os territórios eram claramente definidos. A questão debatida era mais internamente, com o MDB de Marcelo Miranda digladiando com o grupo do nosso saudoso deputado Júnior Coimbra; e no Palácio havia a discussão sobre a vaga de senador. O então governador Sandoval Cardoso e o secretário de Relações Institucionais, Eduardo Siqueira Campos, preferiam César Halum, mas o deputado federal Eduardo Gomes não abria mão, e acabou disputando.
Em 2018, tivemos a primeira eleição sem o espectro de Siqueira Campos e Marcelo Miranda, desde 2002. Na suplementar foram sete candidatos, em campos muito bem definidos. Para as eleições ordinárias se repetiu o que vimos em 2014, as disputas internas por postos, após uma reconfiguração dos grupos que concorreram na suplementar. Por exemplo, a Carlos Amastha se juntaram os então senadores Vicentinho Alves e Ataídes Oliveira, que estiveram aliados no pleito para o governo tampão, e o MDB , que ficou de fora da disputa de junho. A Marlon Reis se uniram a senadora Kátia Abreu, o filho e então deputado federal Irajá e o PT.
Mas, nas últimas eleições, já haviam ocorrido umas movimentações transversais, mesmo que sem a liberalidade de agora, e muito concentrado entre Amastha e os Abreus com Marlon. Os campos do Palácio estavam muito bem cercados. Os nomes do entorno do governo não foram nenhuma surpresa. O que se poderia chamar de novidade foi a chegada de Gomes para disputar o Senado, mas já havia a proximidade entre ele, Eduardo Siqueira, Siqueira Campos e o próprio Mauro Carlesse.
Nas pré-campanhas de agora, as cercas foram todas derrubadas. Vejam: a pré-candidata ao Senado Dorinha Seabra Rezende (UB) tanto pode ser o nome do governadoriável do PL, Ronaldo Dimas, como também do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). O mesmo vale para os pré-candidatos Ataídes e Kátia. E tudo isso é debatido numa roda de política com a maior naturalidade, o que nos pleitos passados era impensável.
Isso é bom ou ruim?
De um lado, o que tem de positivo é que superamos aquele período de polarização tóxica, marcada pelo ódio e que nos dividia tanto e ajudou, em muito, a enterrar o Tocantins na sua absurda crise fiscal. Mas, por outro lado, essa ausência total de limites também revela uma falta de alternativas claras para o Estado. A impressão que dá é que tudo está num tom pastel, meio sem vida, sem diferença, sem destaque, ou seja, parece que hoje todos os gatos são pardos.
De toda forma, melhor que o ódio que marcou a política estadual por anos.
CT, Palmas, 12 de julho de 2022.