Ainda que tenha evoluído, a vacinação contra a Covid-19 no Tocantins caminha a passos de tartaruga, e os argumentos giram em torno da morosidade dos municípios em alimentar os sistemas de informação, mas também há resistências em função da ignorância resultante de fakes news e até da postura negacionista do presidente da República, que vive colocando em dúvida a eficácia dos imunizantes. O Ministério Público Estadual precisou engrossar com 18 prefeituras que sequer tiveram a preocupação de ir retirar seu lote de vacinas, o cúmulo da omissão.
Enquanto isso, as mortes continuam se avolumando, bem como as internações em UTIs de um público prioritário da vacinação, os idosos com mais de 80 anos, que já poderiam não ser mais uma preocupação. A coluna fez um levantamento dos óbitos em fevereiro nos Boletins Epidemiológicos da Secretaria Estadual da Saúde e também teve acesso às idades dos pacientes que ocupavam nessa quinta-feira, 25, as UTIs do Estado.
A conclusão geral é que está morrendo, principalmente, justamente o público que deveria ter prioridade total da vacinação e que os prefeitos deveriam ter colocado sua equipe à procura desses alvos pela cidade. Sim, se necessário, que o município vá à casa dos idosos vaciná-los. Há cidades minúsculas do Tocantins em que eles não chegam a 100 pessoas. Se houver vontade política, em dois ou três dias vacinam todos. Qualquer justificativa para não fazê-lo é mera desculpa.
Outra constatação, com base nos números, é que o Plano de Vacinação do Ministério da Saúde deveria ter dado prioridade total a idosos com mais de 60 anos, o que garantiria imenso alívio à rede hospitalar e pouparia a vida da maioria absoluta das pessoas que está morrendo por conta da Covid-19.
Dos mortos entre o dia 1º e essa quinta-feira, 33,9% tinham mais de 80 anos, o maior grupo — 41 pessoas contra 36 de 70 a 79 anos (29,8%), 22 de 60 a 69 anos (18,2%), 12 de 50 a 59 anos 99,9%), 6 de 40 a 49 anos (5%), 3 de 30 a 39 anos (2,5%) e apenas 1 de 20 a 29 anos (0,8%). No total, 121 tocantinenses morreram nesse período.
Quanto às internações em UTIs do Estado nessa quinta-feira, das 79 pessoas, o grupo de mais de 80 anos e os de 70 a 79 anos representam, cada faixa etária, 13,9% dos ocupantes de UTIs, total de 22 idosos, 11 de cada. Ou seja, com a agilização da vacinação para aqueles com mais de 80 anos é bem provável que tivéssemos 11 leitos a mais disponíveis para outros públicos.
Tão importante quanto acelerar a vacinação dos idosos a partir de 80 anos é chegar mais vacinas o mais rápido possível para incluir outras faixas etárias no rol de prioridade. Veja só: o grupo a partir de 70 anos representa 27,8% de todos os pacientes internados em UTIs nessa quinta e 63,7% dos mortos por Covid-19 no Tocantins. Assim, fica claro o quanto derrubaríamos os índices de mortes e internações com a ampliação da faixa de público-alvo da vacina.
Se descêssemos esse sarrafo para a partir dos 60 anos, o alívio do sistema de saúde e das perdas de vida seriam ainda mais representativos. As mortes de tocantinenses com mais de 60 anos representam 81,9% do total de óbitos de fevereiro, ou 99 das 121 registradas entre o dia 1º e essa quinta.
Em relação à internação em UTIs, os pacientes com mais de 60 anos somam 51,9% daqueles que ocupavam vaga na rede estadual nessa quinta. Ou seja, se esse grupo puder se vacinado logo, teríamos um alívio de 50% na demanda pelos leitos existentes, deixando mais vagas para os públicos mais jovens que precisassem.
No entanto, diante de um governo negacionista e que colocou todos os obstáculos à aquisição de vacina, como é a gestão de Jair Bolsonaro, essa meta pode ainda estar distante, considerando a urgência desta crise sanitária.
Contudo, até que a ampliação das faixas etárias possa ocorrer, que pelo menos os prefeitos agilizem a vacinação do público que já conta com doses disponíveis. Se cumprirem com essa sua obrigação, que deve ser a maior de todas neste momento, já terão contribuído consideravelmente para aliviar a demanda pelo sistema público de saúde.
E isso significa salvar vidas.
CT, Palmas, 26 de fevereiro de 2021.