O governador Mauro Carlesse (DEM) pediu relatório detalhado de contaminação e óbitos por Covid-19 de acordo com a faixa etária. Os números que lhe foram entregues são reveladores dos efeitos dessa doença sobre o público que é seu alvo principal, os idosos. Dos 46.364 casos do novo coronavírus confirmados até essa quarta-feira, 26, 41.305, ou 89,1% se referiam a tocantinenses com menos de 60 anos. Apenas 5.059, ou 10,9%, se tratam da faixa acima dessa idade.
No entanto, quando se verifica o número de mortos pela doença é que vem uma revelação assustadora. Dos 621 falecimentos confirmados no Tocantins até essa quarta, a faixa com menos de 60 anos responde por 166, ou 26,73%. A Covid-19, porém, matou 455 idosos, ou seja, eles são 73,3% das vítimas fatais da doença.
O relatório conclui que a taxa de mortalidade dos tocantinenses de idade mais avançada com o novo coronavírus é de 8,99%, enquanto a dos mais jovens é de apenas 0,35%, menos até do que aqueles mortos em acidente de bicicleta.
Isso significa, do ponto de vista prático, que o jovem está indo às ruas, se contaminando, trazendo a doença para pais, tios e avós e os matando. Pode soar cruel, mas é exatamente isso o que está ocorrendo e que é confirmada pela própria relação inversa trazida pelo relatório solicitado pelo governador Carlesse: os jovens se contaminam muito mais (89,1%) e morrem menos (taxa de mortalidade de 0,35%); os idosos se contaminam menos (11%) e morrem mais (taxa de 8,99%).
A conclusão óbvia, diante desses números assustadores, é que o Tocantins precisa proteger melhor seus idosos. Eles devem ficar o máximo isolados e ter mínimo contato com os mais jovens. E não é tão difícil assim, se houver vontade política dos gestores e consciência da população. O IBGE mostra que o Estado tem apenas 117.544 pessoas com mais de 60 anos espalhadas por 139 cidades para um total de cerca de 1,6 milhão de habitantes. Isto é, apenas 7,3% estão nessa faixa de risco.
Em Palmas, onde 51 dos 82 mortos pela Covid-19 tinham mais de 60 anos, ou 62,2%, existem apenas 10 mil idosos para uma população que já passa das 300 mil pessoas, algo em torno de 3,3%. Não é difícil criar um política emergencial de proteção para os mais velhos. Questão de vontade e deve sair mais barato do que investir genericamente no combate à Covid-19, além de muito mais eficiente. E assim é em todos os municípios.
A ação mais inteligente, eficaz e barata de combate ao novo coronavírus é na prevenção, o que exige mais rigor das prefeituras, que continuam com o “liberou geral e irrestrito com álcool em gel e máscara”, e mais consciência das pessoas, que seguem a vida nas compras e festas, como se nada estivesse ocorrendo.
Sem essas duas mudanças essenciais na forma de encarar a doença, podem colocar quantas UTIs e leitos clínicos quiserem que não vão dar conta da demanda.
Para proteger nossos idosos, é preciso repensar o transporte coletivo, com ônibus exclusivos para eles; horários específicos para os mais velhos nos supermercados e ainda, no delivery, é fundamental que hajam motoboys que atendam apenas esse público. São, inclusive, algumas das medidas que Carlesse deve recomendar aos prefeitos de todo o Estado.
Na Europa e nos Estados Unidos, o rigor no isolamento dos idosos é extremo, com pesadas multas para descumprimento. Não há outro caminho para nós. Ou isso, ou continuaremos a ver nossos pais, avós e tios sendo mortos por uma doença que poderia facilmente ser evitada.
CT, Palmas, 27 de agosto de 2020.