Desde que acompanho as eleições de Palmas, nunca houve condições tão favoráveis para que a oposição vencesse como agora. A prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) enfrentou duras e sistemáticas críticas do seu antecessor, Carlos Amastha (PSB), que, indubitavelmente, tem sua força eleitoral. Ela demorou demais para fazer política, achando que a administração, por si só, com os R$ 260 milhões de obras, a elegeriam. Por fim, teve que encarar uma pandemia mundial, que a pegou de surpresa como a todos os outros prefeitos, dividindo a população quanto às medidas que deveriam a ser adotadas. Qualquer ação do município contou com apoio de parte dos eleitores e crítica da outra. Não havia como satisfizer 100% dos palmenses, como em todas as cidades.
Com todos esses fatores contra, Cinthia sofreu muitos desgastes ao longo do tempo. Por isso, nas pesquisas, sobretudo as de consumo interno — que são um pouco mais confiáveis —, os números mostram que a soma da oposição dá uma intenção de votos no mínimo de 2 por 1 sobre a prefeita. Isto é, juntos, os candidatos contrários ao Paço têm, pelo menos, o dobro da intenção dos votos dela.
No entanto, Cinthia obteve pelo menos duas grandes vantagens na reta final para as convenções. A primeira é que formou uma coligação forte para disputar a reeleição, com grandes e importantes partidos, como o dela, o PSDB, o DEM e o MDB, e lideranças expressivas, como o senador Eduardo Gomes (MDB), a deputada federal Dorinha Seabra Rezende (DEM), entre outros.
A segunda vantagem — a maior de todas — foi justamente a extrema fragmentação da oposição em 11 candidaturas — um time de futebol inteiro, mas sem qualquer coesão, em que cada um chuta para um lado. Eu já havia registrado antes das convenções, depois delas e volto a dizer: com esse número de candidatos contra Cinthia, a eleição em Palmas está definida.
Então, vem os vendedores de ilusão dizendo que os eleitores vão polarizar por eles mesmos. Ou seja, de forma natural, instintiva, todos vão chegar à conclusão de que devem votar num mesmo candidato oposicionista. Por favor, não menosprezem a nossa inteligência, ou, talvez, não tentem se enganar. Isso não vai ocorrer. Funcionará o efeito manada. Vão correr todos juntos numa só direção e não se desgrudarão de forma alguma e cada um manterá o voto no candidato que já havia decidido.
Outros vêm com a história do voto útil. Marcelo Lelis (PV) apostou nisso em 2008, na reeleição de Raul, quando a candidatura de Nilmar Ruiz (PL), apoiado pelo governo Marcelo Miranda (MDB), fez água. O efeito manada prevaleceu e a oposição foi derrotada. Imagine agora com 11 jogadores em campo, dando chutes aleatórios.
Se a oposição quiser ainda ter alguma chance de vitória, só há um caminho possível: renúncia coletiva desse monte de candidaturas e se fechar em torno do menor número possível de nomes. Vários já concluíram isso, mas, quando perguntados, se abrem mão, vem a filosofia da protelação e da enrolação. Não dizem, mas a leitura que faço é que aceitam a proposta de união, de renúncia coletiva, mas na base do “desde que o candidato seja eu”.
Há aqueles que não renunciam porque, se o fizerem, não poderão mais meter a mão na grana gorda do contribuinte, em forma do indecente fundo eleitoral. Único objetivo deles nestas eleições. E há kamikazes que sabem que não têm chance alguma, de um jeito ou de outro, então, por isso, não vão sair.
Mas a maioria é formada mesmo por aqueles que têm certeza de que são iluminados por Deus ou sabe-se lá por quem e, por isso, não têm dúvida de que estão eleitos.
Faltando pouco mais de uma semana para as eleições do dia 15, é possível que o tempo para essa articulação tenha até se esgotado. Isso porque, ainda que vivamos na era da velocidade da informação, até que um fato seja encarado como realidade — sobretudo porque todos estão escaldados com a tal da fake news — leva-se dias.
Enquanto o tempo se esvai rapidamente, os 11 candidatos continuam pelas ruas de Palmas, encantados pelo clima de oposição que prevalece na cidade. Depois do dia 15, derrotados, poderão se gabar: “Mas tivemos a maioria dos votos”.
Grande consolo.
CT, Palmas, 5 de novembro de 2020.