Após perder a eleição da mesa da Câmara, a base da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), impôs nessa quarta-feira, 17, uma derrota completa aos chamados “independentes”. Os governistas abocanharam presidência e vice de nada menos do que todas as comissões permanentes do Legislativo.
Não só isso. Os vereadores do Paço têm três das cinco vagas de todas essas comissões. Ou seja, Cinthia aprova o que quiser agora nesses grupos de trabalho e em plenário, onde é apoiada por 13 dos 19 membros do Parlamento.
Prova cabal de que não se faz política sem política. Isso porque os tais “independentes”, que significam “sem posição política” (ostentam orgulhosamente uma pseudo neutralidade), julgaram que o melhor caminho para parecerem simpáticos à sociedade e alcançar espaços era pela via da apolítica.
O resultado dessa falta de postura é que os “independentes” da Câmara da Capital também podem ser chamados agora de os “sem-protagonismo”. Ser minoria e suplente de comissão é como o gandula das peladas de vila. Só é lembrado quando a bola cai fora de campo.
Fora isso restará aos seis “sem-protagonismo” votar matérias e discursar. Se não for pela misericórdia de seus colegas, não conseguirão aprovar nem indicação e requerimento, atos legislativos que não servem para quase nada, mas que pelo menos fazem o parlamentar parecer à comunidade que age de alguma forma para melhorar a vida prática dela.
Olhando o perfil dos “sem-protagonismo” são vereadores politicamente inexperientes. Um está há pouco tempo no mandato e outro é marido de deputada estadual. Os demais não fazem ideia de como funciona um Parlamento, de como um regimento pode ser usado a seu favor e contra o adversário, das nuances mais imperceptíveis dos pequenos gestos que podem resultar em movimentos de dimensão não imaginada.
Do outro lado, além de vereadores muito experientes — três deles ex-presidentes da Casa (Marilon Barbosa, DEM; Rogério Freitas, MDB; e Folha, Patriota) —, a líder do bloco, Solange Duailibe (PT), é ex-deputada estadual de vários mandatos. O grupo ainda conta com o apoio de experts em Câmara, como o ex-vereador Lúcio Campelo e o secretário municipal de Governo, Carlos Braga — diga-se: ex-deputado estadual e ex-presidente do Legislativo da Capital por dois mandatos. Além deles, ainda há outro nome que conhece tudo dos bastidores da política tocantinense, o secretário de Finanças, Rogério Ramos.
É como colocar o Real Madrid para jogar contra um time de várzea do mais profundo do interior do Brasil.
Os “sem-protagonismo” agora precisarão se reposicionar na Câmara, refletir sobre a práxis política e necessariamente concluir que não faz política sem política, sem se posicionar claramente.
Como contribuição para a meditação do grupo, numa Casa cuja marca tem sido a teocracia, deixo uma passagem que mostra que até a Bíblia rejeita os insossos, os que não se posicionam, os que ficam em cima do muro: “Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Apocalipse 3:16).
CT, Palmas, 18 de fevereiro de 2021.