Apesar de mexido com discrição, o caldo de 2022 vai engrossando lentamente. Na surdina, na maioria dos casos, as conversas vão ocorrendo, mas, definição mesmo sobre o ano que vem, nenhuma. A única certeza neste momento é que o governador Mauro Carlesse (PSL) não vai à reeleição, por imposição legal, já que obteve o primeiro mandato na eleição suplementar e o segundo, na ordinária, ambos em 2018. Bom para o Estado, mas também um desafio.
Bom porque o custo social e financeiro da reeleição é absurdo, por isso, precisamos acabar com esse instrumento nefasto. É urgente. Grande parte dos problemas fiscais enfrentados pelos Estados e município se deve à busca desenfreada e a qualquer preço por outro mandato.
Desafio, porque o Estado conseguiu com Carlesse fazer um ajuste em suas contas. A despeito de gostos e desgostos, a realidade é que o governo voltou a pagar servidores na data certa e fornecedores em dia, o que não ocorria até o início de 2018, quando as reclamações de ambos os setores eram diárias; e também a investir com recursos próprios, o que não fazia havia mais de uma década. Esta é uma conquista que precisa ser mantida. Independe de quem seja o próximo governador, seu compromisso básico e primordial deverá ser com a responsabilidade fiscal.
Fora isso, não há qualquer outra definição em relação à disputa pelo Palácio Araguaia. Um amigo me lembrava nesse domingo, 13, que, nos seus quase 33 anos, o Tocantins elegeu apenas quatro governadores — Siqueira Campos, Moisés Avelino, Marcelo Miranda e Mauro Carlesse. Os demais chegaram no improviso: ou o titular foi cassado, ou renunciou. Por isso, a campanha agora precisa ser “basta de improviso”.
A expectativa é de que, a partir de Carlesse, o Tocantins passe a viver um novo ciclo de gestão pública, em que sociedade, sindicatos e até as diversas correntes políticas, como defendido acima, exijam responsabilidade fiscal e que as regras democráticas sejam rigorosamente respeitadas, porque o custo de uma cassação ao Estado é absurdo. O Tocantins não suporta mais. Nossa classe política precisa, como nunca, colocar o Estado acima de seus interesses pessoais e de grupo.
No que diz respeito à pré-campanha, o quadro continua inalterado, depois dos dois movimentos já consolidados. A mudança de partido de Carlesse, que trocou o DEM, onde enfrentava problemas de relação com a presidente regional, deputada federal Dorinha Seabra Rezende, pelo PSL; e o fato de o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) ter se retirado da disputa pelo Palácio para ir atrás de uma vaga de deputado federal.
A pré-candidatura do vice-governador Wanderlei Barbosa (sem partido) continua dependendo da decisão de Carlesse em abril de 2022. Se o governador renuncia para disputar o Senado, Wanderlei assume e naturalmente é candidato à sucessão.
Por essa decisão de Carlesse passa também a do outro personagem fundamental no tabuleiro, o senador Eduardo Gomes (MDB). Ele pode apoiar uma possível candidatura de Wanderlei (nos bastidores isso é tido como improvável, mas nada deve ser descartado), alavancar o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (Podemos) no processo ou o próprio Gomes empunhar a bandeira e ir a campo em busca da vaga de governador.
Líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, o senador se tornou a figura política mais importante do Estado nos últimos dois anos. Tem sido fundamental para carrear recursos para o governo do Tocantins e municípios. Não tem prefeito de situação e oposição que não passou pelo gabinete de Gomes em busca de apoio.
No entanto, o senador também terá que se entender “em casa”. O MDB, seu partido, está dividido. Há grupos ligados ao ex-governador Marcelo Miranda, presidente regional da sigla, que são adversários do Palácio Araguaia, e há aqueles que se aliaram ao governo Carlesse. A bem da verdade, sobretudo os mandatários emedebistas — deputados e prefeitos —, a maior parte dos líderes da legenda está na base do governador. De qualquer forma, uma decisão de Gomes passará pela afinação dessa orquestra ainda desajustada. Claro, habilidoso como é, não será muito difícil para o senador afunilar o entendimento.
Pela oposição mais clara a Carlesse, os ex-prefeitos de Araguaína Dimas e de Gurupi Laurez Moreira (PSDB), pré-candidatos a governador, têm o desafio de construir a musculatura necessária para que os líderes do Estado passem acreditar na viabilidade eleitoral deles. Em capacidade de gestão, ambos têm aprovação total. Competitividade eleitoral e estrutura para a disputa são outra história. O mesmo vale para o ex-senador Ataídes Oliveira (Pros), que já tentou a vaga de governador em 2014.
O PT, como sempre e confirmado por seus líderes em entrevista à Coluna do CT, depende da política nacional de alianças. Desde 2006 que o partido não consegue decidir por si só seu destino no Estado e desde 2010 que tenta viabilizar uma candidatura a governador. Inclusive, em 2022 completará 20 anos que os petistas lançaram candidato ao Palácio Araguaia pela última vez. Foi em 2002, com Valdenor Lisboa. Depois disso, precisou acatar as decisões impostas pela direção nacional, que sempre deu o Tocantins de troco em composições para a Presidência da República. Em 2018, para apoiar a candidatura de Amastha na suplementar, os petistas tiveram que se rebelar contra a vontade da executiva nacional de ter o diretório do Estado no palanque da senadora Kátia Abreu (PP).
Pelo grupo de Kátia, cuja vaga de senadora estará na berlinda no ano que vem, também nada está descartado. Ela, como foi dito, já tentou a vaga de governadora na eleição suplementar de 2018 e é um nome citado para repetir a dose em 2022.
Enfim, tudo como dantes no quartel de Abrantes. O essencial é que os líderes deste Estado compreendam que neste momento o mais importante não é discutir nomes. Temos vários excelentes quadros de correntes diversas que podem administrar bem o Tocantins.
No entanto, uma boa gestão é precedida, necessariamente, por um bom projeto de Estado. E esse deve ser o principal tema desses debates pré-eleitorais.
Qual o projeto ideal para o desenvolvimento do Tocantins?
CT, Palmas, 14 de junho de 2021.