Já abordei nesta coluna sobre a aposta de alguns pré-candidatos a governador na polarização Bolsonaro x Lula para tentar alavancar seus projetos no Tocantins. Como afirmei e repito, vão dar com burros n’água. Historicamente não existe uma só eleição no Estado que o candidato nacional tenha puxado votos, de forma decisiva, para seu aliado na disputa pelo Palácio Araguaia. Na verdade, nem mesmo os candidatos de musculatura quiseram puxar essa polarização para o processo regional porque, com ela, vem também o desgaste.
Candidato a governador não pode buscar votos só de petistas, ou só de bolsonaristas, ou de ciristas, ou de moristas. Ele quer o apoio de todos os segmentos da sociedade. Se é assim, porque vai se meter numa briga que não é dele, se já está no meio de uma peleja nada fácil ou agradável?
Quem se interessa em puxar a polarização para si no Estado é candidato de pouca musculatura política. Como o rapaz raquítico que chama o irmão halterofilista para defendê-lo. Candidato competitivo quer mesmo é distância desse conflito de magnitude nacional.
Dois exemplos que me vêm à mente são os das eleições de 2006 e de 2018. Nas primeiras, tivemos a disputa mais tensa pelo governo do Estado, em plena divisão da União do Tocantins, em que se digladiavam os aliados dos ex-governadores Marcelo Miranda e Siqueira Campos. No primeiro turno não se ouviu falar na disputa nacional entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. Timidamente, um movimento aqui e outro ali. Apenas no segundo turno que os líderes estaduais se assumiram de um lado e outro. O então governador reeleito Marcelo Miranda foi fazer campanha para Lula e a senadora eleita Kátia Abreu, na ocasião aliada do emedebista, para Alckmin, ainda que em palanque distinto ao montado pelos líderes do PSDB na época, como o hoje senador Eduardo Gomes (lá era deputado federal) e o atual deputado estadual Eduardo Siqueira Campos (lá senador).
Em 2018, foi a mesma coisa. Nenhum movimento no primeiro turno dos principais líderes estaduais em direção à tensa disputa entre Bolsonaro e os demais candidatos. Passadas as eleições regionais, assumiram posições. Houve até polêmica porque os bolsonaristas-raiz não aceitavam parlamentares nos eventos justamente pelo silêncio deles no primeiro turno. O então governador reeleito Mauro Carlesse (PSL), preocupado com a sua gestão, sabiamente, nem no segundo turno se posicionou. Pragmaticamente, esse seu apoio era um risco enorme para a sua administração. Foi a reflexão que pesou na época.
Como converso com políticos o dia todo, vejo alguns, geralmente novatos, acreditando que trazer a polarização Bolsonaro x Lula para o Estado vai facilitar seus projetos em busca de vaga de deputado federal. Nada mais errado. Aí a história é outra. A eleição para o Parlamento (Assembleia e Câmara dos Deputados) é essencialmente definida por fortes cabos eleitorais – líderes populares, grandes puxadores de votos. São eles que dominam grande parte do eleitorado e que indicam em quem devem votar.
Além disso, sobretudo, os admiradores do presidente Jair Bolsonaro estão pulverizados nos mais diversos grupos — evangélicos, empresários, profissionais liberais, produtores rurais, etc. —, cada um deles com demandas muito específicas e já possuem, na maioria das vezes, candidatos que empunham essas bandeiras. Por si só, mesmo esses concorrentes oficiais de segmentos têm pouquíssima chance de se eleger, porque seu contingente eleitoral ainda é insuficiente para levá-los para Brasília. Que se dirá, então, de alguém que tenta juntar todos os bolsonaristas, dos segmentos mais diversificados, com interesses mais díspares, em seu discurso. A chance de sucesso nessa tarefa hercúlea é quase zero, ainda mais considerando que serão muitos candidatos que se apresentarão como “o nome de Bolsonaro nestas eleições”. Servirá somente de escadinha para candidatos mais competitivos. Só para isso.
Candidato bem-sucedido ao Legislativo precisa ter um grupo forte no seu entorno, mas ele não pode ser formado apenas por uma categoria ou uma corrente político-ideológica. Tem que ter como chamariz líderes fortes, cuja popularidade extrapola núcleos restritos, e excelentes puxadores de votos, nas mais diversas cidades.
O que estou vendo de gente que vai gastar muito dinheiro à toa por se emprenhar pelo ouvido não é brincadeira. Desde aquele que acredita cegamente no energúmeno Bolsonaro, como o oportunista que, mesmo sabedor das profundas limitações da figura asnática que está presidente, só quer surfar na onda para se dar bem.
No caso dos petistas, eles têm a vantagem de contar com uma organização sólida e um eleitorado mais fiel ao partido. Terão, contudo, que lançar muitos nomes de peso para tentar manter a vaga do deputado Célio Moura, beneficiado pela excelente chapinha de 2018 para chegar à Câmara. Sem coligação agora, o PT precisa colocar o que tem de melhor, se quiser repetir a dose em 2022.
E será uma tarefa dificílima para o partido.
CT, Palmas, 10 de janeiro de 2022.