Cada vez assisto menos TV, uma das síndromes da idade que avança. Perdi a paciência, afinal, passo o dia mergulhado em notícias. À noite, prefiro um bom livro. Deixei a TV aberta há uns 12 anos e já faz uns 3 que raramente vejo a fechada. Mas Dona Sandra assistia um desses debates noturnos de um grande canal por assinatura e, ao buscar água, por acaso, vi que criticavam o projeto que o Congresso Nacional discute para proibir a divulgação de pesquisa eleitoral às vésperas das eleições.
Claro. É um grande negócio para os grandes institutos e para os conglomerados de comunicação. Rebolando e se equilibrando todo nas palavras, os jornalistas diziam que, sem institutos de “credibilidade” mostrando como está a disputa, as pesquisas fakes irão prevalecer. Ora, que conversa para boi dormir! Primeiro porque os responsáveis poderão ser punidos e levantamentos fakes borbulham desde sempre nas eleições.
O debate abriu espaço para uma ex-diretora de um instituto de pesquisa nacionalmente conhecido reforçar que a proibição de pesquisa às vésperas de eleição vai favorecer fake news. Não tem fake news maior do que as pesquisas essa senhora divulgou no Tocantins às vésperas de várias eleições. São históricas e mensuráveis as canalhices dessa “gente importante” aqui no Estado.
As fake news dos grandes institutos são as piores porque travestidas de “credibilidade”. É justamente aí que está o valor de mercado delas. Ganham horrores, vinculadas a importantes grupos de comunicação, manipulando o processo eleitoral no Brasil profundo e posando seriedade para o eixo Rio-São Paulo. Tem uma estratégia tradicional bem conhecida: dão uma diferença enorme do cliente para o adversário ao longo da campanha e vão aproximando os números dias antes das eleições. Às vésperas da votação trabalham na margem de erro com o patrocinador oculto no extremo alto e o adversário no extremo baixo. Se a manipulação não der certo, não houve falha do instituto, porque o resultado que saiu das urnas estava no limite de diferentes possibilidades da apuração.
Claro, algumas vezes pesaram demais na mão, como nas eleições do Senado em 2014 no Tocantins, o maior crime que um instituto cometeu no Estado, e impunemente. Mas, no geral, o script que seguem é esse do amplia ao longo da campanha e afunila às vésperas.
Não há uma só informação importante em pesquisa eleitoral para definição do voto do eleitor. É mera curiosidade, um jogo de apostas para ver “quem acerta” e “quem erra” o vencedor. A escolha do candidato para representar a população deve passar pela qualificação do postulante, por seu histórico pessoal e de vida pública e pelas propostas que apresenta aos eleitores. Não se deve decidir em quem votar pela colocação em pesquisa eleitoral. É esse absurdo que dá tanto dinheiro aos que fraudam a democracia.
Assim, falar em censura por se proibir pesquisa às vésperas das eleições é apenas desfocar o debate para favorecer comercialmente institutos e conglomerados de comunicação que há décadas manipulam resultados a seu bel-prazer. Na verdade, querem continuar fraudando a democracia e ganhando muito dinheiro. Fora isso, é eufemismo. Nada mais.
E esta questão não avança no Congresso justamente porque a proibição fere os interesses comerciais dos grandes veículos de comunicação, que se aproveitam do medo que parlamentares e também órgãos de controle têm de peitá-los. Sim, órgãos de controle mantém um silêncio cúmplice nessa fraude à democracia. Numa eleição do Tocantins, com um erro absurdo, indecente e inominável de um grande e “respeitado” instituto de pesquisa nacional, pedi para o repórter ver se o órgão de controle ia apurar o caso. A resposta foi que não iria atrás dessa história só porque o instituto errou o resultado das eleições. A desculpa simplista esconde o pavor de confrontar os grandes veículos de comunicação.
Coragem tem mesmo para ir contra pequenos jornais, rádios, sites e institutos, que são rigorosamente monitorados — e devem sê-lo. Mas quem mais faz mal à democracia, que a frauda e manipula, são grandes grupos de comunicação e institutos de pesquisa.
Já os políticos são vítimas e cúmplices. Já vi candidato culpando pesquisa manipulada por sua derrota, com protestos patrióticos em defesa da democracia, e na eleição seguinte comprar o mesmo instituto nacional para fazer o adversário de vítima como ele mesmo fora na disputa anterior.
Em 2022 fará dez anos que a Coluna do CT não publica pesquisa eleitoral. E continuaremos assim, portando essa bandeira por não acreditarmos nos resultados que nos apresentam e como protesto quixotesco contra as fraudes promovidas pelos institutos de “credibilidade” e seus cavalos de Troia, os importantes veículos de comunicação.
CT, Palmas, 2 de setembro de 2021.