Na minha participação sexta-feira, 24, no programa Tribuna do Povo, de Gurupi, do meu amigo e radialista Zé Manoel, falei que este não é o momento da notícia, mas dos bastidores. Apesar de uma campanha altamente insossa para o público, é fogo de monturo: por baixo arde absurdamente, porém, pouco vemos. Reuniões pululam pelo Tocantins, Brasília, Goiânia e São Paulo.
O que chega ao conhecimento da população ou é porque nós jornalistas conseguimos jogar luz sobre essa nebulosidade e catar uma informação isolada aqui e ali, ou é o que chamamos de “balão de ensaio” (a fonte deixa vazar para sentir a reação na opinião pública ou perante os líderes), ou é o que também no jargão jornalístico chamamos de “barrigada” (notícia completamente equivocada, geralmente resultado das precipitações naturais deste período).
Este é o momento de os políticos sussurrarem para dentro e não falarem para fora. É a hora dos líderes, não do público em geral. É quando todo mundo conversa com todo mundo, até os maiores adversários, ainda que por meio de prepostos. Mas ai de nós se soltarmos esses encontros nas coxias. O desmentido é na hora, de forma taxativa, mas, na maioria das vezes, não é a “barrigada”, ocorreu mesmo, porém, se confirmado, o desgaste público pode ser absurdo. Então, que o jornalista abelhudo fique de mentiroso.
São fórmulas da engenharia política que estão sendo pensadas, discutidas e experimentadas. Com A, B e C no mesmo palanque, como a opinião pública reage? E aquele líder estratégico da região tal e que tem uma restrição a B, ele aceitaria essa configuração? E os principais captadores de votos do grupo, deputados, prefeitos e vereadores? Como reagiriam?
E dá-lhe averiguações quantitativas e qualitativas para escrutinar o que pensa e sente o alvo de tudo isso, a população. Não estou falando dessas pesquisas divulgadas, após processadas por estratégias de marketing, mas daquelas de verdade, de consumo interno. Nessas acredito, porque ninguém quer mentir para si mesmo.
Embaciados por esse cenário nebuloso que deve durar mais algumas semanas, estamos nós jornalistas, com nossos holofotes possantes ligados, tentando atravessar a espessa neblina para dar contornos às visões que imaginamos enxergar, com zelos comedidos para não confundir fatos e pessoas com miragem.
É desse cenário brumoso que silhuetas se agitam, como as que sugerem um movimento que tentaria colocar os três senadores no palanque de Ronaldo Dimas (PL), mas que encontraria dificuldade em convencer Kátia Abreu (PP) a refluir para uma candidatura a deputada federal, cedendo, assim, sua vaga a Dorinha Seabra Rezende (UB). Mas, quando começo a questionar, sombras de fontes supostamente envolvidas na operação se alvoroçam e garantem que é miragem.
Jogo o halo do meu refletor para outro canto nebuloso e insinua-se em minha direção os contornos do senador Irajá (PSD) querendo emplacar o empresário Edson Tabocão (PSD) de vice do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), sob um emparedamento: se não for atendido, pode mesmo vir a disputar o governo do Tocantins. Na checagem para fazer cintilar esse esboço de fato, mais uma vez, aparentes testemunhas também se enervam sob a bruma para assegurar que se trata de mais um delírio da ansiedade produzida por esse ambiente psicologicamente tóxico.
Enfim, de toda forma, continuamos tentando clarear a escuridão, ora mirando o holofote para um lado, ora para o outro, na persistente esperança de conseguir numa dessas posições furar a massa gasosa da nebulosidade que torna nossa política tocantinense misteriosa neste momento, ou ainda — melhor seria — na expectativa de que o sol raie forte sobre esses enigmas que nos cercam e tudo fique logo cristalino e possamos saber quem é quem, ou, melhor, quem vai com quem e a quê.
CT, Palmas, 27 de junho de 2022.