Desde 2008, os pré-candidatos a prefeito do Tocantins buscam o apoio da estrutura do Palácio Araguaia, mas pedem quilômetros e quilômetros de distância do titular da cadeira, Sua Excelência o Governador. Conforme os tentáculos da crise financeira iam se apossando da máquina do Estado, o governo perdia força para se tornar importante nas eleições municipais.
Sem liquidez, graças ao crescimento dos benefícios eleitoreiros a servidores, à falta de planejamento e a gastos despropositados, o governo não investia naquilo que era sua obrigação e que mais aparecia aos olhos dos eleitores: estradas, estrutura de polícia e saúde. Com isso, se desgastava ano após ano e os candidatos procuravam se manter distantes do governador aos olhos de seus munícipes.
Foi essa a razão de a maioria absoluta dos candidatos do Palácio Araguaia ter sido fragorosamente derrotada nas eleições de 2008 (governo Marcelo Miranda), 2012 (governo Siqueira Campos) e 2016 (governo Marcelo Miranda). Nessas três eleições valeu aquela piada em que o governador ou presidente, de acordo com a conveniência, chama seu aliado, revela que decidiu apoiá-lo e pergunta como poderia começar. O constrangido candidato, então, pede: “Por favor, não conte a ninguém”.
Nas eleições de 2020, a expectativa era de que a mesma situação se repetiria. Afinal, o governo apostava todos as fichas nos empréstimos junto à Caixa, que ainda se encontram no atoleiro. No entanto, as alternativas para melhorar as estradas no interior do Estado parecem estar dando resultado. Os pré-candidatos — num fato inédito nos últimos 20 anos — estão procurando mais o Palácio Araguaia em busca do apoio pessoal do governador Mauro Carlesse (DEM), não apenas da máquina. Aí está a novidade, porque nas outras eleições queriam o bônus da estrutura de governo ao seu lado, mas não aceitavam carregar o ônus de ter o governador incluído no pacote.
A Carlesse estão pedindo vídeos, fotos e declarações públicas de apoio. No sudeste, onde as estradas estavam absurdamente intransitáveis e agora se encontram totalmente recuperadas, pré-candidatos disseram a este colunista que as pesquisas mostram forte aprovação do governo do Estado. Com isso, claro, todos querem Carlesse em seu palanque. Em algumas cidades, grupos rivais disputam esse apoio, o que ocorre também em municípios do Bico do Papagaio e várias outras regiões onde a gestão estadual tem levado obras.
O desafio do governador vão ser as cidades maiores, onde sua oposição é mais estruturada e existe um eleitor mais crítico, sobretudo Palmas e Araguaína. Nelas o Palácio terá que mostrar que também tem participação em importantes obras executadas.
Mas, ainda assim, o interessante é que os pré-candidatos governistas, mesmo nelas, também não estão escondendo de ninguém, como ocorreu nas últimas três eleições, que querem o apoio do governador Carlesse.
Que fique a boa lição dessa história de que o rigor fiscal não só pode contribuir para o Estado sair do lamaceiro em que estava atolado, como também dar dividendos político-eleitorais. Estado fiscalmente responsável garante liquidez e capacidade de contrair operações de crédito, o que significa obras para os municípios e, consequentemente, aprovação popular.
CT, Palmas, 20 de agosto de 2020.