O bate-boca da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), com o deputado estadual Jorge Frederico (MDB) na semana passada ecoou na sessão da Assembleia desta terça-feira, 23. Frederico, que é de Araguaína, se sentiu atingido quando Cinthia disse que queria que os pacientes de Palmas fossem atendidos somente na Capital. Daí o parlamentar lembrou que a prefeita não implantou uma só UTI. Ela voltou à carga e pediu que o deputado se preocupasse, junto com colegas, em aprovar os decretos de estado de calamidade dos municípios atolados na pauta do Legislativo.
Os demais deputados tomaram as dores e foram de voadora para cima de Cinthia nesta terça, na defesa das ações que a Assembleia tem realizado para contribuir com as prefeituras no combate à Covid-19. Começou com um requerimento de informações da deputada Vanda Monteiro (PSL) sobre as medidas de Palmas contra o novo coronavírus, subscrito por Jorge Frederico e Luana Ribeiro (PSDB). Em seguida vários outros deputados entraram na discussão, até aqueles que geralmente só pedem a palavra para “registrar visita ilustre”. Entre outros, manifestaram-se Elenil da Penha (MDB), Cláudia Lelis (PL), Valdemar Júnior (MDB), Valderez Castelo Branco (PP), Fabion Gomes (PL), o líder do governo, Ivory de Lira (PCdoB); Léo Barbosa (SD), Amélio Cayres (SD) e Ricardo Ayres (PSB), que fez, talvez, o pronunciamento mais duro, no qual, sem citar nomes, manda a prefeita “criar vergonha na cara”.
Em suma, as críticas se concentraram em três pontos. Um deles abordados pela coluna nessa segunda-feira, 22, a falta de investimento de Palmas na implantação de UTIs – quase todos os parlamentares bateram nessa tecla. Também se falou da suposta ineficácia do último decreto da prefeita que fecha o comércio das 20 às 6 horas; e ainda da falta de diálogo com o setor produtivo para a definição dessas restrições.
Em relação à suposta ineficácia da redução do horário de atendimento, não é bem assim. É justamente à noite que as aglomerações são grandes, com o funcionamento pleno de bares e restaurantes, o que gera um ambiente propício à disseminação do novo coronavírus. Então, a medida tem sua razão de ser, sim.
A crítica que escuto dos especialistas é outra, e concordo que seja mais grave: a falta de fiscalização mais intensa do município ao comércio no horário do expediente normal, ou seja, das 8 às 18 horas. As fiscalizações têm ocorrido à noite, mas pouco se vê de dia e durante a semana. Os especialistas relatam que há frequentes desrespeitos às normas sanitárias, literalmente, à luz do dia, por parte das empresas, devido à ausência da prefeitura no comércio para garantir o cumprimento das medidas de segurança.
Também é importante ressaltar sempre a falta de contribuição das pessoas, que, em boa parte, são irresponsáveis e só pensam na gravidade do problema quando as UTIs estão lotadas, como agora. O Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde trouxe nesta terça um dos maiores números de novos casos dos últimos meses, um acréscimo de 704 confirmações da Covid-19 no Tocantins, das quais 200 somente nas últimas 24 horas. Mais: 326 pessoas estão internadas, maior contingente desde setembro, com 174 em UTIs.
Sobre o diálogo com o setor produtivo, ele é, sim essencial, ainda que o norte das decisões deva ser dado pelos especialistas em saúde. Sinto falta em Palmas de um grupo de discussão amplo e permanente como o que o ex-prefeito Ronaldo Dimas (Podemos) formou em Araguaína e que, por plataforma de videoconferência, se reunia rotineiramente para discutir a evolução da Covid-19. Acompanhei alguns desses encontros – eram abertos à população, via Facebook –, que contavam com os principais segmentos da sociedade organizada, como prefeitura, associação comercial, sindicato rural, médicos, hospitais, Ministério Público e Defensoria Pública. A partir desse debate, ouvindo os diversos lados envolvidos, Dimas tomava as decisões e baixa os decretos.
Não vi isso na Capital, ainda que algumas conversas ocorressem esparsamente com empresários, mas nada de forma sistêmica. Se é preciso tomar decisões que priorizem a saúde pública, para o que especialistas do setor são, sim, as maiores autoridades, também é verdade que o município tem que ouvir o setor produtivo para estudar meios de respeitar as restrições, mas, ao mesmo tempo, manter as atividades minimamente em funcionamento, com segurança.
De toda forma, a conclusão que se pode tirar do embate entre a prefeita de Palmas e os deputados é que esse negócio de líderes manterem discussões acaloradas pelas redes sociais é infrutífero e só gera obstáculos às soluções que a sociedade espera e precisa.
Nesse caso, Cinthia atirou no deputado Jorge Frederico, mas acabou acertando num vespeiro, que reagiu. E com força.
CT, Palmas, 23 de fevereiro de 2021.