As movimentações do governador interino Wanderlei Barbosa (sem partido) no final de semana e nesta segunda-feira, 25, deixaram claro que a mudança no tabuleiro das eleições de 2022, neste momento, se mostra mais profunda do que se pensava. Não apenas trocou-se o governador e revigorou-se a pré-candidatura do até então vice-governador. Foi além e mexeu com as estruturas das oposições no Estado. Lógico: é uma foto do agora, que poderá consolidar uma tendência ou não.
Ficou evidente que Wanderlei está fazendo um jogo bem diferente daquele do governador afastado Mauro Carlesse (sem partido). Nos seus três primeiros dias, o interino varreu para dentro. Abraçou fraternalmente os oposicionistas Ronaldo Dimas (Podemos), senador Irajá (PSD) e Edison Tabocão (PSD), num evento esportivo sábado, 23, em Cariri, no sul do Estado; correu para apagar um incêndio em Brasília, com um dos mais importantes players do Tocantins, o senador Eduardo Gomes (MDB), peça estratégica para um bom desempenho da gestão; e ligou para a senadora Kátia Abreu (PP) dizendo que queria conversar.
Mal desligou o telefone, Wanderlei fez questão de prestigiar Kátia na entrega de duas perfuratrizes para o consórcio de municípios do Bico do Papagaio nesta segunda-feira. Com a devida trocas de afagos e demonstrações de respeito mútuo. O evento contou ainda com a presença de todo o grupo da parlamentar e do ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB), crítico mordaz do Palácio Araguaia e de quem Wanderlei foi aliado na primeira eleição do pessebista na Capital, em 2012.
Do lado de fora dessa intensa movimentação, a oposição-raiz só observa. Entre eles, o deputado federal Vicentinho Júnior e seu pai, o ex-senador Vicentinho Alves, o petista Paulo Mourão, o próprio Dimas e o ex-prefeito de Gurupi Laurez Moreira (Avante). Vicentinho Júnior foi cauteloso ao afirmar à Coluna do CT que a prudência o manda “aguardar os próximos capítulos”.
A manifestação mais contundente sobre a mudança de comando do Estado veio de Laurez, na tarde desta segunda, no quadro Conversa de Política. O ex-prefeito de Gurupi avisou que continua na oposição, afirmou que os princípios que defende são diferentes, na sua visão, dos que norteiam todo o grupo palaciano e disparou ao garantir que as investigações da Polícia Federal só começaram a puxar o novelo: “Tem mais gente [no governo] envolvida com corrupção”.
Está evidente que a oposição, que já patinava na definição de um projeto eleitoral competitivo, fica mais embaralhada, momentaneamente, com as mudanças de semana passada. Em compasso de espera, terá que esperar a poeira baixar dentro de alguns dias ou semanas para ver que cenário vai surgir.
No caso da senadora Kátia Abreu, faz tempo que ela não se entrega totalmente ao apoio a uma gestão estadual. A última vez foi a no primeiro governo Marcelo Miranda (2003-2006), quando, deputada federal e presidente do então PFL, rompeu com o siqueirismo para subir no palanque do Palácio Araguaia, pelo qual concorreu ao Senado. Depois se distanciou de Marcelo no segundo mandato e apoiou Siqueira Campos em 2010. Mas também manteve distância segura do governo. Em 2014, ajudou a garantir o MDB para Marcelo e a elegê-lo. Porém, rompeu com o governador eleito dias antes da posse. Não apoiou a gestão de Carlesse, contudo, não o criticou no início, recrudescendo suas posições cerca de um ano para cá.
Agora há esse gesto surpreendentemente rápido na direção de Wanderlei, com direito a um fraternal abraço na solenidade desta segunda, confirmando que o primeiro poço aberto pelas perfuratrizes que entregou aos municípios do Bico do Papagaio foi no meio da oposição.
Lógico, é uma fotografia do hoje. Não se pode dizer no calor dos acontecimentos se essa relação se aprofundará ou não. Assim, concordo com a cautela de Vicentinho.
CT, Palmas, 25 de outubro de 2021.