O ex-deputado Paulo Mourão (PT) é um dos quadros políticos mais qualificados do Tocantins. São raríssimos — não devem exceder aos dedos de uma única mão — os homens públicos estudiosos por aqui, quando se trata das necessidades do povo tocantinense, bem como dos índices socioeconômicos, de desenvolvimento humano, contas públicas, enfim, tudo o que alguém que queira representar a população — sobretudo quando se trata de comandar o Estado — deve saber.
Não por acaso que Mourão foi um brilhante prefeito de Porto Nacional, uma gestão marcada por obras importantes e tratamento sério e responsável das contas públicas. Por tudo isso, não resta a menor dúvida de que o petista é um gestor da mais elevada qualidade, altamente gabaritado para governar o Tocantins, e o coloco no rol daqueles que se destacaram nos últimos anos, no qual estão inseridos quadros como os ex-prefeitos de Araguaína Ronaldo Dimas (Podemos), hoje também pré-candidato a governador; de Gurupi Laurez Moreira (PDT), de Palmas Carlos Amastha (PSB), de Paraíso Moisés Avelino (MDB) e de Santa Rosa Ailton Araújo (Cidadania).
Contudo, Mourão tenta há muitos anos lançar sua candidatura a governador, mas é sempre podado por quem deveria apoiá-lo, o próprio PT. Como já resgatado várias vezes aqui, em 2010 chegou a ter o nome confirmado em convenção, mas, para a composição entre Dilma Rousseff e Michel Temer, o PT do Tocantins foi “dado” ao MDB do Estado do então governador Carlos Gaguim. O petista acabou disputando vaga de senador.
Antes disso, em 2006, o PT foi tirado da aliança com Marcelo Miranda (MDB), no histórico enfrentamento com o siqueirismo, para embarcar numa aventura eleitoreira com o então senador Leomar Quintanilha, que (pasmem!) foi candidato a governador pelo PCdoB, o que deve ter feito o saudoso e heróico João Amazonas se revirar no túmulo.
Em 2014, o PT esboçou uma tentativa de lançar Mourão novamente, mas a direção regional submeteu-se outra vez à executiva nacional e foi levado pelo beiço para a chapa do candidato a governador da oposição Marcelo Miranda. Para compensar, o partido ganhou a primeira suplência da senadora Kátia Abreu, vaga que ficou com Donizeti Nogueira, que assumiu por um ano.
Em 2018, o grupo do presidente regional do PT, deputado estadual José Roberto, teve que se rebelar contra a executiva nacional para conseguir a vaga de vice do PSB, na chapa encabeçada por Amastha, na eleição suplementar. Novamente, Brasília queria levar o partido no Estado, pelo beiço, para o palanque de Kátia. Para a disputa de outubro daquele ano, a sigla sequer cogitou candidatura própria ao Palácio Araguaia. Em resumo, faz duas décadas que o PT tocantinense é dado como moeda de troco em acordos nacionais.
Com seu novo momento, em que Lula ressurge das cinzas e tem chances reais de voltar à Presidência, o partido precisa de palanque nos Estados — ainda que pequenos, como o Tocantins — para fortalecer sua campanha nacional. Nesse quesito, Mourão tem se saído muito bem. Encarna perfeitamente o papel de cabo eleitoral número 1 do ex-presidente por aqui, levando com ardor os feitos dos anos de PT no Brasil.
Porém, precisa se lembrar que não é candidato a ministro de Lula, mas a governador do Tocantins. E que só chegará ao Palácio Araguaia com os votos de simpatizantes de Lula e do presidente Jair Bolsonaro.
Tenho dito que, ao fazer campanha apenas para os antibolsonaristas, Mourão rebaixa seu teto de aceitação e reduz, e muito, as chances de sucesso nesta campanha, pela qual tanto lutou para que pudesse se tornar realidade.
Persistir nesse erro é nadar exaustivamente para morrer na praia.
CT, Palmas, 29 de junho de 2022.