A discussão sobre a abertura do comércio total, parcial, ou mesmo o alargamento do horário de funcionamento é muito importante. Aprendemos muito nesses 12 meses de pandemia e ninguém deseja as empresas com as portas fechadas, muito menos a falência do empresariado, que é motor do desenvolvimento das cidades e do Estado. No entanto, existe uma realidade objetiva que não pode ser ignorada: a Covid-19.
Palmas vive o pior momento da pandemia, com os leitos clínicos públicos e privados exclusivos para atendimento à doença numa ocupação de 81,3% e os leitos de UTI já em 95,8%. No Estado, em 24 horas, saímos do número recorde de 445 pessoas internadas para outro recorde de 452. Desse total, 203 tocantinenses estão em UTIs. O secretário estadual da Saúde, Edgar Tolini, disse nessa terça-feira, 9, que cerca de 10% aguardam leito de UTI. E não tem. O número de mortes em Palmas aumentou 7,1% nos últimos sete dias. Entre o dia 3 e esta quarta-feira, 10, faleceram 19 palmenses. Esse dado mostra um aumento da velocidade dos óbitos na Capital. Entre os dias 3 de março e 24 de fevereiro, o crescimento havia sido de 3,5%, com um total de nove mortos.
Diante desse quadro medonho que Palmas e Tocantins atravessam não dá para políticos, juristas e empresários se sentarem ao redor de uma mesa e definir se o Estado deve ou não abrir o comércio. Isso é uma temeridade. Quem tem que ser ouvido são os especialistas, individualmente ou por sua representação de classe. O médico Estevam Rivello, membro tocantinense do Conselho Federal de Medicina (CFM), disse nessa terça-feira ao Quadrilátero o que vem repetindo desde o início da pandemia à Coluna do CT: as entidades classistas médicas não são chamadas à mesa. Por quê? Isso é um absurdo.
Já tivemos decisão judicial que determinou a abertura de restaurante, reconhecido como atividade essencial. Por esse prisma, todas as atividades são essenciais para quem deles dependem. Não tem cabimento. Agora a Promotoria de Justiça da Capital quer que a Prefeitura de Palmas permita a abertura de todas as atividades comerciais no domingo, 14, mesmo com esses números que estão tirando o sono dos profissionais de saúde. Com base em que dado científico? Se o comércio todo pode abrir no domingo porque foi fechado? Ilógico, foge à mínima razoabilidade. É lamentável, absurdamente, lamentável essa recomendação do MPE.
Muitos de nós, com toda a razão, questionamos as ações do governo federal que não se baseiam em ciência, que a nega. Mas esse tipo de postura de políticos e do meio jurídico em geral, diante da gravidade do que estamos assistimos, em nada difere do comportamento medieval do presidente da República e sua trupe de ignorantes negacionistas.
Se temos a ciência, se há seus representantes no Tocantins e em Palmas, por que não ouvi-los antes de tomar decisões no campo jurídico e político?
O que está muito claro para mim é que essas medidas que estão sendo avaliadas têm por base a mera pressão — que é natural — dos empresários, não os interesses da saúde da população tocantinense.
Hoje já está muito difícil encontrar leito clínico e de UTI para colocar os doentes. Temos uma parte considerável da população absurdamente irresponsável, que não dá a mínima para esse quadro pavoroso. Se houver uma flexibilização das medidas que os municípios têm adotado no canetaço, por iniciativa do Estado, estaremos antecipando o total estresse do sistema, quando nem ventilador mecânico teremos para quem precisar. Isso porque, como explicou o médico Estevam Rivello, do CFM, no colapso do sistema pelo menos Palmas já chegou.
A hora é de responsabilidade com a saúde pública. Ela é quem deve orientar as decisões, não os interesses empresariais.
CT, Palmas, 10 de março de 2021.