É fundamental e merece nossos aplausos a movimentação dos Ministérios Públicos Estadual (MPE), Federal (MPF) e do Trabalho (MPT) para fiscalizar e garantir que as pouquíssimas doses de vacinas que chegaram ao Tocantins sejam corretamente aplicadas no público-alvo definido como prioritário: profissionais de saúde, idosos e indígenas aldeados. Não é admissível, e é criminoso, o uso indevido deste imunizante que precisa ser aplicado de forma estratégica para salvar a vida das pessoas mais frágeis e daquelas à frente do combate à Covid-19, o que, inclusive, garantirá melhor atendimento à população.
O Tocantins recebeu 44 mil doses da Coronavac e 11,5 mil da Oxford/AstraZeneca. A primeira imunizará 22 mil pessoas, já que exige duas doses, e a segunda será toda aplicada neste primeiro momento, uma vez que o Ministério da Saúde garantiu ao Estado que em 12 semanas chegará o segundo lote. Assim, poderão ser vacinados neste momento 33,5 mil tocantinenses.
No entanto, o Tocantins, conforme disse o secretário estadual da Saúde, Edgar Tolini, tem 38 mil profissionais de saúde — municipais, estaduais e federais —, 11 mil indígenas aldeados e cerca de 218 mil idosos (pessoas acima de 60 anos). Ou seja, estamos falando de 267 mil tocantinenses que integram o grupo prioritário. Isso significa que as doses que o Estado recebeu são suficientes para imunizar somente 12,5% do público-alvo neste primeiro momento da vacinação.
Dessa forma, duas palavras-chave são tornam imperativa: responsabilidade e fiscalização.
Enquanto prefeitos e pessoas próximas deles furam a fila Brasil afora (ainda não há denúncia do tipo no Tocantins, felizmente), Dona Hilda Cândida, de incríveis 108 anos, dá o bom exemplo de cidadania, solidariedade e desprendimento. A idosa seria a primeira a ser vacinada em Rio das Flores (RJ), mas abriu mão desse direito. Ao jornal O Globo, Dona Hilda explicou o motivo:
— Eu já vivi tanta coisa nessa vida, com quase 109 anos, que prefiro dar a vacina para alguém mais novo, que ainda pode viver mais do que eu posso. Estou quase partindo, não quero essa vacina — afirmou a idosa, que faz aniversário em 2 de março.
Um exemplo humanitário desta envergadura torna ainda mais vexatória a ação criminosa de quem tenta ou efetivamente fura a fila. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, empregou os termos precisos para aqueles que desrespeitam os critérios estabelecidos para que possamos otimizar ao máximo as mínimas doses de que dispomos de vacinas: falta de caráter.
Por isso, a ação dos MPs desde quando a vacina chegou ao Estado, de se preocupar em garantir sua correta aplicação, merece nosso reconhecimento. Esperamos que a responsabilidade impere no Tocantins neste momento e que essas poucas doses possam ser muito bem utilizadas para pouparmos vidas preciosas e garantirmos que os profissionais da saúde possam ir para esta frente de guerra com segurança para atender, ainda melhor, os doentes.
Agora, se houver algum desrespeito, que os criminosos sejam tratados com todo o rigor da lei.
CT, Palmas, 26 de janeiro de 2021.