Está muito enganado que não vê competitividade na pré-candidatura a senador do ex-governador Marcelo Miranda (MDB). Pelo menos é o que mostram seu histórico em eleições e o testemunho de líderes — até mesmo adversários — sobre a força que ele tem, sobretudo, no interior do Estado.
Pouco depois que comecei a atuar no jornalismo tocantinense, no início dos anos 2000, acompanhei o novo governo Marcelo Miranda numa vistoria de obra. Apesar de ter esquecido em qual cidade ocorreu, um fato permaneceu na lembrança. No almoço, com a mesa para as autoridades fartamente montada, Marcelo pegou seu prato e se juntou aos operários embaixo de uma árvore. É um tipo de comportamento que geralmente tende a transparecer artificial, mas é natural no ex-governador.
Na verdade, o maior trunfo de Marcelo é a imagem que ele construiu de humilde, cortês e respeitoso com seu interlocutor, seja ele quem for, uma autoridade, um operário, um trabalhador rural ou um adversário.
É claro que o ex-governador enfrentou um profundo desgaste ao longo do tempo, e superá-lo é um de seus maiores desafios neste ano eleitoral. Mas considero um outro ainda maior: conseguir espaço para colocar sua pré-candidatura numa chapa competitiva.
Em relação ao desgaste, Marcelo foi reeleito governador em 2006 com uma enxurrada de denúncias passando pelo seu governo. Em 2009, de novo em meio a diversas suspeitas sobre sua gestão, ainda veio a primeira cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Contudo, no ano seguinte, em 2010, se elegeu senador com uma votação quase igual à do então vitorioso na disputa para governador, Siqueira Campos (340.931 votos contra 349.592). A primeira cadeira do Senado ficou para João Ribeiro, reeleito naquele ano com 375.090. Marcelo não assumiu por conta da cassação e sua vaga no Senado foi repassada a Vicentinho Alves.
Em 2014, novamente sob denúncias, com imagem de vídeo, flagrante da Polícia na apreensão de R$ 500 mil e tudo mais, o ex-governador emedebista chegou ao seu terceiro mandato.
Em 2018, com a gestão sob críticas – ao contrário das duas anteriores, sempre lembradas positivamente –, ocorreu a segunda cassação pelo TSE, justamente com base nos fatos julgados irrelevantes pelo seu eleitorado quatro anos antes. Apesar disso, a ex-primeira-dama Dulce Miranda foi reeleita deputada federal e o MDB, partido que o ex-governador preside, fez nada menos do que cinco deputados estaduais.
Um ano depois das eleições de 2018, em setembro de 2019, Marcelo sofreu seu mais duro revés, em consequência da Operação 12º Trabalho, um desdobramento da Reis do Gado, e acabou preso por cerca de cinco meses. Sem dúvida que o desgaste foi maior do que o das duas cassações, no entanto, tenho comigo a percepção baseada num longo histórico, que envolve políticos regionais e estaduais, que o julgamento do eleitorado passa muito distante de uma avaliação moral do perfil do candidato.
O que o postulante tem a oferecer, a força do grupo que lhe dá apoio e a simpatia com o que o político se desmancha sobre o seu eleitorado têm muito mais peso na decisão do voto do que seu histórico jurídico. Operações policiais já não são novidade — quantos políticos já foram alvo delas aqui no Tocantins e no país? —; se tem algo que não se deve esperar, diante tudo que assistimos nos últimos anos, é que políticos ostentem imagem de santidade junto à população; e, se não são santos, pelo menos que sejam capazes de gerar a expectativa de conquistas para a comunidade.
Com o profundo descrédito da política, vejo que o pragmatismo também contaminou a população e é com base “no que eu ganho com isso” que o voto dela é definido.
Marcelo tem obras importantes de seus governos para apresentar ao eleitorado, ainda conta com forte de apoio de líderes por todos os quadrantes do Tocantins e sua imagem cristalizada de bom filho, bom pai, bom marido e bom rapaz é seu maior diferencial competitivo.
Assim, sua grande dificuldade neste momento não são os imbróglios jurídicos, mas conseguir uma chapa competitiva que o aceite como seu candidato a senador. Se derrubar essa barreira, não tenho a menor dúvida de que Marcelo terá força eleitoral para chegar a outubro com chances reais de vitória.
CT, Palmas, 18 de abril de 2022.