A coluna já registrava no ano passado que o maior desafio da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), é construir um grupo político forte para ir à reeleição. Ela é uma outsider sem uma história pessoal relevante com a cidade, rompeu com o presidente regional de seu partido, o ex-senador Ataídes Oliveira, e também com o antecessor do qual era vice, Carlos Amastha (PSB), que transita bem em vários segmentos do eleitorado da Capital.
Desde então, Cinthia só tem patinado nessa seara, não sai do lugar e dá sinal de que não está em seu radar a construção dessa musculatura essencial para a campanha de reeleição. Há os que dizem que a prefeita não acredita que os adversários vão conseguir se unir e que aposta todas as fichas no grande volume de recursos do empréstimo da CAF para garantir um novo mandato.
[bs-quote quote=”Conforme a crise fiscal se aprofundou, o passivo do governo do do Estado com os servidores foi à estratosfera. Os reflexos políticos negativos dessa conta ganham contornos mais claros nos processos eleitorais, quando o funcionalismo cobra a fatura” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Cá com meus botões, olhando para a história que já vivi, reafirmo que boa administração é fundamental, mas, por si só, não ganha eleição. Se não faz política, não atrai líderes fortes para o seu lado e, sem políticos com capilaridade pela cidade, os votos não chegam.
De outro lado, a prefeita também não está de todo errada. Seus opositores veem que ela não avança no campo político — por falta de interessados em se aproximar ou mesmo pela apatia da gestão nesse campo —, e se assanham certos de que vão papar a prefeitura em 2020. Porém, o que se observa é que cada um está olhando para o próprio umbigo, com a certeza de que está eleito. Esse risco de fragmentação pode, sim, levar a uma derrota de todos para o Paço.
Não seria nenhuma novidade. Em 2016, o então presidente regional do MDB, Derval de Paiva, alertava os campos diversos que, se não tivessem juízo e não se unissem, o prefeito da ocasião, Carlos Amastha, bateria Raimundo e todo mundo, como, aliás, fizera em 2012. Ouvidos moucos foram a resposta geral ao poeta/profeta da política tocantinense e o resultado não poderia ter sido outro.
O espaço político é ocupado por quem consegue enxergar de longe as oportunidades, caso, por exemplo, do senador Irajá Abreu (PSD) no ano passado. No entanto, quando todos veem a chance ao mesmo tempo, a tendência é de uma corrida maluca na direção vislumbrada, o que eleva o número de candidatos, facilitando a vida de quem é situação e tem a máquina nas mãos.
Alguém pode levantar o fato de que teremos, como sempre, duas máquinas em ação, do município e do Estado. E é verdade. Mas duas coisas precisam ser consideradas. A primeira, como se afirmou na coluna dessa terça-feira, 26, é se o governo conseguirá acelerar os investimentos dos empréstimos junto à Caixa Econômica Federal, cuja assinatura vem sendo adiada há quase um mês na espera de agenda do presidente da República. Como o processo eleitoral já se avizinha, a areia da ampulheta escorre num ritmo muito mais acelerado. Esse tempo perdido pode custar caro ao Palácio em 2020.
Há obras importantes na Capital, como o Hospital Geral de Palmas e ainda a Avenida NS-15, que está emperrada há anos na falta de liquidez do Estado e que é fundamental para dar um novo impulso de desenvolvimento à região norte da cidade e interligar as praias; entre outras. Se o governo conseguir vencer a areia movediça da burocracia, a conclusão dessas benfeitorias será um enorme ponto positivo para seu candidato.
Outra ponderação, de cunho essencialmente político, é que Palmas tem se mostrado ao longo da história eleitoral que é oposição ao Palácio Araguaia, como ficou claro também na coluna dessa terça. Um dos motivos é o fato de ser uma cidade administrativa, com forte presença de servidores estaduais, mas ainda dos federais e municipais.
Conforme a crise fiscal se aprofundou, o passivo do governo do Tocantins com seus servidores foi à estratosfera. Os reflexos políticos negativos dessa conta ganham contornos mais claros nos processos eleitorais, quando o funcionalismo cobra a fatura do não cumprimento dos compromissos trabalhistas com a categoria, atuando contra o candidato do governador. Foi assim em 2008, 2012 e 2016.
Com as progressões congeladas, data-base de 1% e a decisão do Estado de condicionar o pagamento desse último benefício ao cumprimento do limite legal da Lei de Responsabilidade Fiscal, fora os direitos pendentes dos governos passados, o nome palaciano para as eleições terá muito que se explicar a um dos principais nichos de eleitores da Capital.
Se as oposições a Cinthia não se afinarem e continuarem cada um tocando seu instrumento ao sabor das vontades pessoais, numa sinfonia desajustada e inaudível ao eleitor, aí, sim, a banda da prefeita poderá passar harmonizada e puxar o eleitorado para si.
Eleição é grupo, mas, se ninguém forma grupo, a máquina que tiver mais azeitada e sintonizada com o cidadão pode surpreender.
CT, Palmas, 27 de novembro de 2019.