Os números dos Boletins Epidemiológicos da Secretaria Estadual da Saúde mostram que o Tocantins está descendo a montanha, após passar por um outro inferno nesta segunda onda da Covid-19. Em mortes, ainda enfrentamos um pesadelo diário. Infelizmente, nosso luto é permanente porque muitas pessoas continuam em UTIs. Mas o alívio vem pela redução do total de infectados.
O exemplo de Palmas é muito ilustrativo, inclusive, da força das medidas de restrição. A Capital registrou a menor variação numa semana desde o início de março, com 645 novas positivações da doença entre o dia 11 e domingo, 18, alta de 1,7% em relação à semana anterior (de 4 a 11 de abril), quando esse índice já havia sido reduzido para 2,1%. Os novos casos chegaram a crescer 7,1% entre 7 e 14 de março.
No entanto, Palmas sofreu as piores perdas de vidas de toda a esta segunda onda na semana que passou, quando morreram 33 pessoas — o maior número de óbitos havia sido 32, entre 7 e 14 de março. Como dito acima, são perdas de doentes contaminados, na maior parte dos casos, há semanas e que estão por muito tempo em UTIs. Creio que quase todos nós temos exemplos de amigos e parentes que sucumbiram à Covid-19 nos dois últimos meses. Infelizmente.
Boas notícias vêm de Colinas, que reduziu muito a variação de mortes e novos casos da doença. Em óbitos, a cidade registrou dois, alta de 2,5% na última semana em relação à anterior. No pico desta segunda onda, Colinas teve dez falecimentos por Covid-19 entre 14 e 21 de março, variação de 19,2% de uma semana para a outra. Em casos de contaminação na cidade, o crescimento nessa última semana foi o menor entre as mais impactadas, com 94 novos registros, ou alta de 1,6%.
Assim, podemos respirar mais aliviados, como uma comunidade ao fim de uma batalha sangrenta, porque é precisamente o que enfrentamos desde o início de março. As empresas estão retomando as atividades com as devidas e necessárias medidas de prevenção e a vacinação avança, a passos de tartaruga, mas vai abrangendo os grupos mais atingidos pela Covid-19.
Temos tudo para logo adentrarmos o tal “novo normal”, que exigirá muitos cuidados e será um mundo diferente daquele que deixamos em 2019. Pelo menos, poderemos trabalhar e continuar a rotina de enfrentar os enormes obstáculos naturais que a vida sempre impôs.
No entanto, a permanência de uma situação de relativa estabilidade até chegarmos à vacinação maciça, com a economia funcionando – ainda que com limitações – e menos mortes, depende do comportamento do cidadão, nem tanto da ação de governos.
O que o Poder Público deve fazer é campanhas em massa de esclarecimento sobre os cuidados para evitar a contaminação da doença, o que Prefeitura de Palmas e governo do Tocantins, por exemplo, têm realizado com frequência. Porém, o surgimento de uma nova onda da Covid-19 depende de se o cidadão respeitou ou não os avisos de cuidados necessários para a prevenção: uso de máscaras, de álcool em gel e, principalmente, evitar aglomerações.
Se essas medidas não forem devidamente observadas, não há dúvida que retomaremos o caminho de volta ao topo da montanha, e sabemos o que tem lá em cima.
E sempre é necessário reforçar o mantra: não existe remédio para a Covid-19, “tratamento precoce” é falácia da ignorância (muitos que fizeram o mítico “tratamento precoce” estão mortos) e vacina é a nossa única salvação. Fora isso, o caminho do bom senso diz que o melhor a fazer é não se contaminar.
Aumentar o número de UTIs é importante, o Poder Público — Estado e municípios, frise-se — tem que ampliar a rede dessas unidades. Mas fato é que se as pessoas não respeitarem os protocolos de prevenção não há número de UTI que dê conta de atender a demanda num pico, como assistimos em Palmas e várias cidades. Além disso, não é todo mundo que sai vivo da terapia intensiva.
Ou seja, a palavra de ordem para evitar mais mortes e para que possamos manter empregos e empresas é responsabilidade. Sem a consciência de cada cidadão de que seu comportamento determinará a velocidade das contaminações, correremos sério risco de sermos tragados por uma terceira onda, quando perderemos muitos outros entes queridos, muitas famílias serão despedaçadas e ainda o mercado terá que novamente parar, mais empresas vão quebrar e mais trabalhadores perderão seus empregos.
Assim, é fundamental evitar aglomerações em festas, jogos de futebol, praias, chácaras cheias, enfim, tudo isso que sabemos que é a causa de toda a dor que passamos nos últimos dois meses.
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Post Scriptum
Matéria para psiquiatria – Recebi por e-mail a carta de uma senhora defendendo “intervenção militar urgente”. Texto permeado por fake news no início ao fim. É matéria para psiquiatria. Fico pensando quantas pessoas receberam e quantas “compraram” esses falsos argumentos por completa ignorância. Vivemos tempos obscuros e preocupantes.
O tiro e o olho – Aos poucos a classe política começa a se mexer rumo a 2022. O número de pré-candidatos a governador cresce a cada semana. Mas a expectativa é de que não tenhamos a confirmação de tantos postulantes ao Palácio Araguaia no ano que vem. Muitos atiram no céu de olho na terra.
Pergunta oportuna – Na discussão sobre o edital de concessão da BR-153, entre Aliança (TO) e Anápolis (GO), o presidente da Associação Tocantinense de Municípios (ATM) e prefeito de Talismã, Diogo Borges (DEM), em entrevista ao Quadrilátero, fez a pergunta mais oportuna do momento: “O Tocantins voltou a ser norte de Goiás?”. Será?
Discurso para Biden ouvir – Com os EUA sob nova direção, o presidente Jair Bolsonaro, querendo dinheiro, reviu conceitos e fez um discurso cientificamente correto na cúpula convocada pelo presidente Joe Biden. No entanto, as ações do governo brasileiro destoam totalmente das palavras de seu presidente. Foi um discurso para Biden ouvir.
CT, Palmas, 22 de abril de 2021.