Como se não bastassem os mais de 460 mil mortos por Covid-19, que, por si, mostram o desleixo com que o Brasil foi conduzido na maior pandemia dos últimos 100 anos; e do fato de termos o principal líder do País como símbolo mundial da anticiência, da ignorância, que recusa máscara, garoto propaganda de remédios ineficazes e da aglomeração; agora vem a notícia de que a Copa América será realizada por aqui. Até porque a Argentina, onde ocorreria, não aceitou receber a competição, justamente por conta do recrudescimento da pandemia em seu território.
Mas não aceitamos porque a situação aqui está sob controle. Nada disso. Vários Estados, entre eles, o Tocantins, voltaram a registrar alta significativa nos números de contaminação e mortes. Estamos em plena expansão da variante indiana. No entanto, oficialmente, o Brasil é um país negacionista. Prefere ignorar todos os alertas da ciência e seguir os instintos medievais de quem mal se dedica a ler placa de trânsito.
Ainda tiveram o capricho de escolher Manaus (AM) como uma das cidades que sediarão jogos. Sim, o local que foi o epicentro na primeira e segunda onda, em que pelo menos 2 mil pessoas morreram em janeiro porque o governo federal, ao invés de oxigênio, levou cloroquina para lá. É um acinte, um desrespeito a todas as vítimas, é uma forma de zombar de cara de todos os brasileiros, parte deles neste momento anestesiada por uma espécie de amnésia ou por um surto de déficit cognitivo. No português claro, um grupo que emburreceu nestes tempos de obscuridade ou, melhor, cuja toda burrice foi escancarada a quem quiser ver.
Como sempre digo — e vou insistir nisso pelo resto de minha vida, porque é chocante e fundamental discutirmos esse ponto —, esta pandemia revelou o que há de pior em nosso povo: sua completa e absoluta ignorância. É o que nos faz politizar informações científicas, preferir remédios comprovadamente ineficazes, sabotarmos protocolos mais básicos no mundo para controle da doença, fingir que não existe um genocídio ocorrendo e apoiar um governo insano, irresponsável, formado por dementes, que precisam não só de cadeia, mas de tratamento psiquiátrico.
Afinal, o brasileiro médio concluiu que é mais cômodo seguir seus instintos, do que estudar, ler, refletir e pensar. Esta pandemia nos mostrou como que o processo civilizatório não é feito de bens, de posses, de condições objetivas de vida, mas de algo imaterial: educação, bom senso, respeito à ciência e à vida.
Sediar a Copa das Américas era o que faltava para consolidar a imagem do Brasil perante o mundo como o país de gente irresponsável.
Vivemos o momento mais baixo da nossa história, com nossa República comandada pelos seres mais vis que já alcançaram o poder. Um período de exaltação da burrice e de aviltar o conhecimento.
Hoje, sinceramente, tenho vergonha de ser brasileiro.
Que momento baixo, indigno de nossa história e da nossa luta! Que passe logo, ou não teremos país algum.
CT, Palmas, 31 de maio de 2021.