“Eleição é guerra” é parte do título de um excelente livro de um dos maiores profissionais do marketing político e eleitoral do Brasil, Carlos Augusto Manhenelli. Aproprio-me dele para metaforizar. Os “exércitos” estão colocados sob o comando de seu “general”, o candidato ao Executivo; e as “tropas” se movimentam conforme a ordem de seus oficiais, entre os quais os candidatos ao Legislativo são os de mais elevadas patentes.
Nessa “guerra”, os aliados garantem ter os melhores candidato e plano para o “país”, e, consequentemente, as propostas do adversário não são boas para a “Nação” ou, no mínimo, não estão à altura dela. Por isso, é preciso vencê-lo. Essa visão do “campo de combate” é assimilada por todos: dos oficiais à plebe, que hipoteca apoio irrestrito à bandeira. Passado o “Dia D”, o da votação, há vencidos e vencedores. Mas o conselho (legislativo) para decidir o futuro é montado de forma democrática, em que cada lado, de acordo com o tamanho do apoio conquistado nas “batalhas campais”, tem um certo número de representantes.
Aos vencedores, neste conselho “pós-guerra”, claro, caberá a defesa das bandeiras que levantaram durante as “batalhas”. Àqueles cujo “general” ou “generais” foram derrotados, precisam manter o estandarte que sustentaram durante a “guerra”, afinal, entendem que o que pregavam era o melhor para a “Nação”.
É deserção jogar de lado essa flâmula que fez o povo dar seu apoio inconteste a este representante, o que significa que os aliados, em grande parte, compraram briga com o adversário e disseram que o “general” e os “oficiais” deles é quem detinham as melhores propostas. Logo, as do outro lado não eram boas. Ou seja, uma traição não só ao “generalato” da última campanha, mas àquilo que foi defendido nos “campos de batalha” e ao que levou as pessoas a irem às ruas defendê-lo.
Saindo da “guerra” e ficando no campo político, oposição não significa trabalhar contra governo. Ser oposição não impede o parlamentar a votar de favor das propostas governistas que considera benéficas à sociedade. Ser oposição é estar vigilante às ações dos que foram eleitos para, justamente, evitar que propostas que julga prejudiciais à comunidade venham a prevalecer. É denunciar abusos da força conquistada nas urnas, é exercer com mais zelo a obrigação constitucional que o parlamentar tem de fiscalizar os atos do Executivo. Totalmente o contrário do que estão tentando entoar. Se colocar contra a sociedade e contra propostas governistas favoráveis ao desenvolvimento dela é ser irresponsável, o que é outra coisa.
A existência da oposição é fundamental para o funcionamento da democracia e até para o desempenho do Executivo. Um caso que sempre cito disso é a questão dos 25% dos servidores estaduais, que vai custar milhões de reais aos cofres públicos justamente por falta de oposição (digna desse nome) na Assembleia na época. Chegaram as planilhas e foram votadas como o Palácio Araguaia mandou, sem debates e questionamentos. Aprovadas, sancionadas e publicadas, por isso, viraram direito adquirido. Resultado: os números estavam errados e foram revogados. Tarde demais. Como dizem os portugueses, Inês é morta, e toda a sociedade vai pagar pela omissão do Legislativo. Decisão transitada em julgado no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o governo do Tocantins apenas exerce o jus sperniandis.
Inventaram um eufemismo porque estão com vergonha de serem chamados de oposição por não entenderem o que é ou por fingirem não entender. É o tal “independente”. São vários os legislativos do Tocantins que passaram a dar uma carga pejorativa ao termo “oposição”, como se tratasse do sujeito que quer derrubar o governo e destruir a sociedade. Assim, optaram por essa saída eufemística, para eles, moral e politicamente mais palatável.
Fico pensando com meus botões que diabo significa o tal parlamentar “independente”. O que me surge em mente são apenas questionamentos metafóricos. Por exemplo, seria o construtor que ergueu a casa, quer vendê-la, mas, para não parecer ofensivo ao mercado e conseguir recuperar o dinheiro investido, diz que é um “construtor independente”? De repente, dessa forma, vende o produto mais rápido e pelo preço justo?
Ou seria a cara e suculenta picanha colocada na vitrine do açougue numa ensolarada manhã de domingo para, com toda aquela coloração vermelha reluzente, se oferecer ao desejo de um consumidor/consumidora que só pensa em saborear um delicioso churrasco, onde se mostra bem-sucedido/a?
Seria ainda alguém que fica na esquina dando com o dedo em busca de carona, mas que só aceita entrar se o carro atender o valor que pensa que tem?
Sinceramente, tenho muitas dúvidas sobre o que seja esse tal parlamentar “independente”. Independente de quê?
De uma coisa tenho certeza: a política apolítica, que teme se posicionar e quer agradar a todos, ao mesmo tempo em que se intitula “novo”, é a desgraça dos nossos tempos.
CT, Palmas, 9 de fevereiro de 2021.