Concordo com o médico Estevam Rivello, membro tocantinense do Conselho Federal de Medicina (CFM), que afirmou à Coluna do CT na sexta-feira, 12, que a crise nacional de insumos de testes para Covid-19 é uma das piores notícias que poderíamos receber. É a tempestade perfeita: reduzimos drasticamente a testagem justamente no momento em que o mercado tocantinense se abre totalmente — opa, ia me esquecendo, “com restrições”, claro. Ou seja, não será possível medir sequer por alto os efeitos dessa retomada da economia.
O Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde desse domingo, 14, já foi uma peça de ficção, com apenas 96 testes e míseros 41 novos casos confirmados. Um complô de dimensões bolsonaristas. Por esse prisma, o presidente anticiência Jair Bolsonaro conseguiu o que tentou de todo jeito: a retomada da economia a despeito da pandemia e esconder o número de casos da Covid-19. Uma vitória de Bolsonaro e uma derrota do País, que verá milhares de seus filhos tendo a vida ceifada pela doença, quando essas perdas poderiam facilmente ser evitadas.
Sobram como termômetro mais confiáveis para sentirmos a quantas andam o avanço do novo coronavírus no Estado três indicadores: internações, ocupação de UTIs e número de mortes. Se a Covid-19 domina o corpo, a pessoa precisará ser internada e até entubada. Assim, não há como esconder esse fato. Se morrer com sintomas clássicos precisará ser testada, conforme o critério estabelecido pela própria Secretaria Estadual a Saúde.
De toda forma, é muito pouco. Não dá para captar até que ponto o novo coronavírus está avançando, para onde estende os tentáculos, gênero mais atingido, faixa etária e econômica; entre tantas outras variáveis definidoras de políticas públicas. E é nisso que vão se apegar os querem o mercado aberto a qualquer custo — afinal, pobre é peça de fácil reposição nos negócios; morre um, põe outro no lugar, e as vendas seguem — e os acéfalos adeptos das mais exdrúxulas teorias bolsonaristas da conspiração.
Por isso, mais do que nunca, é preciso que as pessoas estejam atentas aos cuidados: máscara, álcool em gel e distanciamento. Em shoppings, mercados e lojas não abram mão do zelo necessário para que se mantenham saudáveis e não contaminem colegas de trabalho, amigos e familiares.
Pesquisas têm mostrado que é muito alto o risco de transmissão da Covid-19 em reuniões em espaços fechados, como escritórios, locais para cultos religiosos, salas de cinema ou teatros. Em espaços fechados entram as lojas, ônibus e até feiras, onde há aglomeração de pessoas.
Inicialmente, sem essa crise de insumos para testes, típica de país subdesenvolvido, de nação que não leva nada a sério, como é o caso do Brasil, a expectativa era de que dentro de 10 ou 15 dias já poderíamos começar a ter um reflexo muito claro dos impactos da reabertura da economia nas duas maiores cidades do Estado, Palmas e Araguaína, esta última o epicentro da Covid-19 no Estado, que parece viver um apagão de responsabilidade de quem tem o poder decisório e pelo silêncio sepulcral e covarde de vereadores e deputados.
Agora é bem provável que não saberemos dos impactos dessa reabertura inoportuna, arriscada e irresponsável, a não ser pelos mais terríveis indicadores: por mais gente internada e entubada e por mais mortes e sepultamentos. Ou seja, como um país pré-iluminista, decidimos ignorar a ciência e optar pela total barbárie.
Por isso, se puder, fique em casa. Não acredite em políticos, não saia desnecessariamente. As mesmas regras de antes continuam valendo para quem não será arrastado para o matadouro: deixe sua residência apenas para ir ao mercado e à farmácia.
Se está sendo buscado a laço para ficar em balcões, caixas, etc., tenha todo o zelo com as medidas de segurança. Elas são o que restam para você proteger sua vida, dos colegas de trabalho, amigos e família.
Do mais, que Deus nos salve da nossa estupidez.
CT, Palmas, 15 de junho de 2020.