A imagem divulgada semana passada por usuário sobre a lotação de uma linha do transporte coletivo de Palmas, com passageiros sentados e muitos em pé, ilustra a falta de seriedade com que a pandemia da Covid-19 é tratada. Quem vê a normalidade da vida no Estado, no trabalho, no comércio, nas praias, etc., pensa que o novo coronavírus foi vencido, é página virada. Encarada com rigor nos primeiros dias, a doença foi sendo relativizada aos poucos, conforme aumentava a pressão econômica, e agora chegamos à barbárie. Normalizados a carnificina e os avanços dos casos.
Não é nenhum exagero, e os números trazidos pela Coluna do CT nesta segunda-feira, 24, a partir dos dados do Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde, deixam isso claro. O total de casos, que, se tivessem havido políticas sérias e contribuição da população, deveria estar em franco declínio, cinco meses depois do início da pandemia, continua em plena ascensão. O aumento em agosto no Tocantins é de incríveis 72%. São mais 18.250 novas positivações em 23 dias — de 25.346 para 43.596.
O lado mais obscuro é que as mortes deixaram de chocar. Agora, para autoridades e população, são apenas um indicador qualquer, como o de inflação e o de desemprego. Morreram 195 tocantinenses em 23 dias, um aumento de 50% em relação ao dia 1º — de 390 para 585. Não se trata de um número irrelevante. São vidas de seres humanos perdidas, em sua maior parte, por falta de uma ação mais forte do poder público e de consciência das pessoas. São famílias que choram. São projetos de vida e sonhos interrompidos. Boa parte poderia ter sido poupada num cenário de seriedade, de civilidade, em que o humanismo prevalecesse.
Em Palmas, tivemos em agosto o absurdo de um crescimento de 76,2% no número de mortos (32 a mais, de 42 para 74); em Gurupi de 188,9% (17 a mais, de 9 para 26); em Paraíso de 107,7% (14 a mais, de 13 para 27); e em Porto Nacional de 92,9% (13 a mais, de 14 para 27).
O mais trágico é que essa carnificina não tem data para acabar. Vai continuar por muito tempo e todos continuaremos a fingir que nada está ocorrendo. Claro, até que um ente querido for a vítima. Aí vem o lamento.
Não é verdade que está se considerando num mesmo grau de importância a saúde e a economia. Apenas o mercado está no foco das decisões políticas. Aplicamos na prática o que disse o prefeito de Itabuna (BA), Fernando Gomes Oliveira (PTC), que avisou no início de julho que autorizaria a reabertura dos estabelecimentos comerciais na cidade “morra quem morrer”.
Tocamos o dane-se e fizemos a mesma coisa. Só não falamos para não chocar a nós mesmos.
CT, Palmas, 24 de agosto de 2020.