A manifesta preocupação do governador Mauro Carlesse (DEM) com o avanço da Covid-19 no Tocantins não é por menos. Se o crescimento em termos percentuais da doença reduziu nos últimos três meses, o volume de infectados e mortos continua assustador. No dia 29 de abril tínhamos 137 casos confirmados do novo coronavírus. Um mês depois, em 29 de maio, já eram 3.611, um incremento de 3.474 novos doentes, o que representou uma alta no período de 2.535,8%. Em 29 de junho, a doença já atingia 10.359 tocantinenses. Se proporcionalmente o crescimento foi menor (186,9%), ainda que muito significativo, a quantidade de novos contaminados era enorme — mais 6.748 pessoas.
De junho para julho, um novo salto descomunal: em apenas um mês mais novos casos do que a soma dos três meses anteriores. O novo coronavírus alcançou no período 23.517 tocantinenses, com 13.158 novos casos, alta de 127,02%. Saímos de 18 cidades alcançadas em 29 de abril (12,9%) para 138 nessa quarta-feira, 29 (99,3%).
As vidas perdidas para a Covid-19 foram pelo mesmo caminho. Em termos percentuais são menores do que no início da doença, o que é natural, mas, além de continuarem em patamares elevados, se avolumam assustadoramente. No dia 29 de abril, havíamos registrado apenas três mortes pelo novo coronavírus. Um mês depois já eram 70 (+2.233,3%), com 67 novas baixas. Passados mais 30 dias, em 29 de junho, chegamos a 195 (+178,6%), ou 125 pessoas a mais mortas pela doença. Nessa quinta, alcançamos 364 óbitos (+86,6%), o que significa que 169 tocantinenses perderam a vida para a Covid-19 em somente 30 dias. Em abril, duas cidades tinham mortes pela doença. No último Boletim Epidemiológico, já eram 79 municípios enlutados.
Outro agravante: a ocupação de UTIs vai batendo no teto nas principais cidades do Estado, bem como as internações em leitos clínicos.
A situação é mesmo muito alarmante, mas não se vê um plano de ação coordenado para controlar a Covid-19. Municípios tomam atitudes isoladas, muitas vezes não preventivas, somente quando a gravidade se torna visível e a população se mostra indignada. O motivo claro dessa política é evitar qualquer ação para regular o fluxo de pessoas no comércio. Chega ao cúmulo de gestores defenderem que não se contamina com o novo coronavírus nas lojas, só nas casas, em reuniões de famílias e amigos. É brincar com nossa inteligência.
Em outra oportunidade ressaltei que não se defende mais aqui o total fechamento do mercado, uma vez que há, sim, necessidade de sobrevivência das pessoas, num país sem condições de garantir a subsistência das empresas enquanto não possam operar e cujo líder maior ignora e brinca com a pandemia, a ponto de se apaspalhar como garoto-propaganda de remédio comprovadamente ineficaz. Mas, no mínimo, precisamos de protocolos absurdamente rigorosos, com implacável fiscalização.
Temos que tirar as pessoas das ruas, o máximo possível. O vírus não se movimenta, quem o leva e o traz são os indivíduos, sobretudo em aglomerações, e devemos combatê-las. Se há necessidade de ir ao mercado, se as empresas precisam faturar, isso tudo tem que ser feito com o máximo de segurança, com fiscalização e multas draconianas.
As pessoas também têm que se conscientizar da gravidade da situação, ao invés de só apontar o dedo para os gestores. Ficar o máximo que puder em casa, usar máscara e álcool em gel e manter o distanciamento necessário quando tiver que ir às compras. O que se vê nas redes sociais é de um absurdo inaceitável: festas e mais festas, grupos imensos em praias e pescarias. Esta pandemia está desnudando a nossa total incivilidade, que é uma arma contra nós mesmos.
No vídeo que divulgou sobre o agravamento da pandemia na noite dessa quarta-feira, 29, o governador Mauro Carlesse fez bem em chamar atenção do cidadão, cujo comportamento é fundamental para que o sistema de saúde do Tocantins não entre em colapso. No entanto, deveria também ter se voltado aos prefeitos para que ajam com mais rigor na implantação de medidas, bem como o governo do Estado deveria fazê-lo naquilo que é de sua competência. Carlesse precisa chamar os gestores municipais para uma ação coordenada. Com medidas isoladas, continuaremos batendo cabeça e sendo derrotados pelos vírus.
Apenas cobrar das pessoas medidas de contenção não vai resolver o problema, se os municípios continuarem fingindo que o comércio não influencia na contaminação. Se os cidadãos não contribuírem e os gestores seguirem desconversando sobre o problema, podem abrir quantos leitos clínicos e de UTI que quiserem que não vão dar conta de atender toda a demanda.
Falta um plano de ação coordenado em todo o Estado, envolvendo Palácio e prefeitos, e sobram medidas isoladas a gosto do gestor, de acordo com as conveniências. Isto é, estamos num voo cego rumo ao colapso do sistema de saúde.
Ou se revê tudo agora, ou a única medida que restará será a ampliação dos cemitérios.
CT, Palmas, 30 de julho de 2020.