A 45 dias das convenções que definirão os candidatos às eleições de 2 de outubro, a indefinição ainda é a palavra de ordem desta insossa pré-campanha. Pré-candidatura praticamente definida mesmo só a do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), que, no comando do Palácio, é certo que estará na disputa. Nas demais pretensões, por enquanto, o que se vê é apenas isso: pretensão.
Quem deu passos sólidos entre os nomes colocados para o governo do Tocantins foi o deputado federal Osires Damaso (PSC). Está tirando licença para consolidar a aliança com o presidente do PSB, Carlos Amastha, e anunciou categoricamente que em 2023 será governador ou ex-deputado. Mais claro impossível, e recuar depois de falas desse tipo exigirá um constrangedor malabarismo para desdizer o que se disse. Por isso, não acredito que Damaso esteja blefando.
Outro que também conseguiu dar mais consistência a seu projeto foi o ex-deputado Paulo Mourão (PT). Para isso, o movimento decisivo foi a entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, garantindo que Mourão estará na disputa pelo Palácio e que, segundo o líder petista, vai ganhar. O problema é que o PT sempre surpreende o Tocantins e retira pré-candidatura aos 49 do segundo tempo. Contudo, não há dúvida de que Mourão caminhou muitas casas no tabuleiro e o PT do Tocantins nunca esteve tão próximo de conseguir emplacar uma candidatura a governador, o que não ocorre desde 2002, portanto, há duas décadas.
A deputada federal Dorinha Seabra Rezende (União Brasil) também indica que sua pré-candidatura ao Senado é irreversível. A indefinição dela é outra: em que majoritária vai se abrigar. Desconversa sobre apoio ao pré-candidato Ronaldo Dimas (PL) e acena para o governador Wanderlei. Deputados garantem que o diálogo de Dorinha com o Palácio está cada vez mais intenso e afinado. A pré-candidata ao Senado terceiriza a decisão ao dizer que não é dona do partido e que todos serão ouvidos. O fato é que na sigla dela são poucos os nomes de peso que querem Dimas. São, em sua ampla maioria, palacianos. Então, se a decisão é do grupo, já há uma clara tendência aí. Isso?
É a da senadora Kátia Abreu (Progressistas) a vaga que precisará ser renovada em outubro. Ela é rejeitada por parte dos deputados estaduais e prefeitos governistas, mas garante que estará com Wanderlei, que parou de sinalizar para o lado da parlamentar progressista, como fazia nos discursos no início. Diante da resistência dos principais aliados, o governador preferiu silenciar e aguardar.
Com o impasse, Kátia insistirá na busca pela reeleição? Pode recuar e disputar vaga de deputada federal? Se não superar a rejeição, o filho dela, o também senador Irajá (PSD), poderá ser candidato a governador, pulverizando ainda mais os votos para o Executivo? Nesse caso, Kátia também tentaria a reeleição ou a Câmara?
O ex-senador Ataídes Oliveira (Pros) está decidido a voltar para o cargo que ocupou de 2013 a 2018. Ele teve um excelente desempenho dentro do Senado, no centro de importantes debates e CPIs, mas, fora do Legislativo, vem patinando eleitoralmente desde 2014, quando disputou o governo do Tocantins. Em 2018, foi muito bem votado, mas não o suficiente para ser reeleito. Em 2020 ficou até sem partido que lhe desse a oportunidade de disputar a Prefeitura de Palmas.
Assim, para ser candidato ao Senado agora, Ataídes terá que conseguir ser acoplado a uma majoritária. Ou depender de liberação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para colocar uma candidatura avulsa.
O ex-prefeito de Gurupi Laurez Moreira (PDT) mantém sua pré-candidatura a governador, mas está de olho mesmo na vaga de vice de Wanderlei. Vai conseguir? Se não for possível, manterá o nome na disputa pelo Palácio ou recuar para tentar voltar à Câmara?
O ex-governador Marcelo Miranda (MDB) é sempre outro nome muito competitivo do nosso xadrez político. Mas, como Ataídes, precisa de uma majoritária para consolidar seu projeto de chegar ao Senado. Poderia ir com o PT? Ou com Dimas, se Dorinha aderir a Wanderlei? Se nada disso der certo, vai, como dizem, recomeçar com uma candidatura a deputado estadual?
Mas o maior mistério — que tentam convencer a todos que não é existe — é se Dimas será mesmo candidato a governador ou se o senador Eduardo Gomes (PL) pode surpreender e assumir a vaga. A favor de Dimas, sua excepcional gestão em Araguaína; contra ele o fato de não ser um populista e, por isso, não ter conseguido encantar prefeitos e deputados, o que, diga-se, é um problema eleitoral de dimensões titânicas. Mais fácil eleger um despreparado mas cheio de abraços e sorrisos do que um político preparado e sisudo.
Além disso, os que preferem Gomes aproveitam a recente operação policial de que Dimas foi um dos alvos para garantir que o pré-candidato do PL ficou ainda mais fragilizado. Será? Argumento bom para desculpa quando se quer tirar alguém do páreo e não se encontra motivo sólido.
De outra frente, Gomes fez um movimento que aguçou a esperança dos que o querem candidato ao anunciar que está assumindo o comando do PL e se instalando no Tocantins para ficar mais próximo da política estadual.
Como em política a vírgula pode ter mais significado do que um parágrafo inteiro, essa mudança de comando partidária foi vista como uma mensagem cifrada aos aliados, do tipo: “Tenham paciência, estou chegando”.
Será? Haja paciência para tanta indefinição.
CT, Palmas, 2 de junho de 2022.