A única das pré-candidaturas a governador que está garantida e é sem volta é a do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Por motivo mais que óbvio: tem a máquina nas mãos. Com a força dela, consegue estruturar sua campanha e garantir os apoios necessários. Nos demais projetos de candidaturas, tudo é possível.
Assim, até o prazo final para as convenções partidárias, no dia 5, tudo pode acontecer. Até mesmo nada. As conversações de bastidores são intensas e todos se encontram com todos.
Claro, o primeiro desafio da oposição é definir quem vai, efetivamente, para a disputa contra o Palácio. Para isso, seus líderes fazem contas e desenham cenários para definir a combinação que tornaria uma candidatura capaz de derrotar o governo.
Aí é onde eles têm se esbarrado nas vaidades pessoais. A primeira tentativa de composição, entre Ronaldo Dimas (PL) e Osires Damaso (PSC), emperrou. Os dois acreditam piamente que podem vencer. Então, por que um deles deveria renunciar? Seus líderes veem diferente, mas como convencer que não tem dúvida do sucesso da empreitada?
Como a coluna já defendeu, considerando que ambos têm perfis semelhantes, deveria disputar aquele com maior capacidade de agregar líderes, sobretudo prefeitos, os “donos” dos votos.
A campanha de Paulo Mourão é também uma que tem tudo para se confirmar, depois de 20 anos do PT tentando sem conseguir emplacar nomes. Mourão é um dos quadros mais qualificados do Tocantins, estudioso dos dados socioeconômicos do Estado, intelectualmente preparado, sensível às causas dos grupos mais fragilizados. No entanto, desde 2010 que tem sido barrado pelo próprio partido. Depois das manifestações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tudo indica que desta vez vai. Mas, por prudência, bom esperar para ver se a cúpula petista em Brasília mais uma vez não estraga a festa do partido no Tocantins.
Além disso, Mourão ainda precisa levar para seu palanque, por inteiro (ou seja, com os deputados estaduais), os parceiros do PT na federação, PCdoB e PV. A resistência é enorme da parte dos parlamentares, que querem permanecer na campanha do governador Wanderlei.
Fora a candidatura a governador, os grupos precisam definir seus players para o Senado. Dimas, Damaso e Mourão ainda patinam nesse campo. Estão voando soltas três pré-candidaturas que podem ser consideradas competitivas neste momento: a da senadora Kátia Abreu (PP), a do ex-senador Ataídes Oliveira (Pros), a do ex-governador Mauro Carlesse (Agir) e a do técnico de futebol e empresário Vanderlei Luxemburgo (PSB). Dorinha Seabra Rezende (UB), liberta, segue firme, forte e altamente competitiva na chapa do governador Wanderlei.
Kátia é nome sempre forte, por sua história, atuação importante no Senado e organização de seu grupo pelo Estado, o que lhe dá musculatura. Porém, enfrenta resistências pelos desgastes de relacionamento com líderes e pelas posições que tomou que desagradaram grupos que sempre a apoiaram, como o agronegócio.
Ataídes conseguiu mais de 170 mil votos em 2018, construiu musculatura para esta campanha colocando cerca de 800 vereadores ao seu lado e tem uma atuação bastante elogiada no período em que ocupou a vaga de senador. Numa majoritária competitiva, pode surpreender.
O ex-governador Mauro Carlesse também. Não se enganem. Se enfrenta desgastes do recente afastamento pela Justiça, por outro lado, transita muito fácil entre os líderes tocantinenses e tem estrutura para a campanha. Além disso, como a coluna já afirmou várias vezes, Carlesse conseguiu, sim, expressivos resultados em seu governo. Além de obras importantes, como a Ponte de Porto Nacional, o ex-governador teve a coragem de se comprometer seriamente com o ajuste das contas públicas e garantiu liquidez e equilíbrio ao Estado. Nesse sentido, não tenho dúvida de que foi melhor governo dos quase últimos 20 anos. Assim, não é um nome a ser desprezado.
Lembrando do caso do ex-governador Marcelo Miranda (MDB), que deixou o Palácio em 2009, cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com várias denúncias pesando sobre sua gestão, e foi eleito senador em 2010. Não tomou posse apenas por conta da cassação.
Quem tem se movimentado muito pelo Estado é o técnico de futebol e empresário Vanderlei Luxemburgo. O desafio dele é se colocar como nome competitivo para a aliança de PSC-PSD-PSB. Contudo, o próprio Damaso já disse à coluna que Luxemburgo poderá ser candidato independente, possibilidade aberta este ano pelo TSE e que pode favorecer todos os nomes postos nesta disputa. Inclusive, já houve quem aventou a possibilidade de o candidato a governador não lançar ninguém a senador e deixar para definir a questão no decorrer da campanha. Como se vê, a nova interpretação da lei eleitoral abre enormes possibilidades de composição.
De lambuja para negociar, Mourão e Damaso têm também a vaga de vice a oferecer a quem interessar possa. No caso de Dimas, o MDB já abocanhou a vice e colocou nela o ex-deputado Freire Júnior. Muitos criticaram, disseram que o ex-parlamentar já perdeu seu potencial eleitoral e, por isso, pouco poderia contribuir à chapa. Contudo, Freire simboliza, como poucos, diga-se, o MDB, e é o partido, mais que apenas um de seus membros, que está assumindo a vaga. Aliás, uma legenda de muita capilaridade pelo Tocantins e que, dessa forma, pode contribuir enormemente com a campanha de Dimas.
São esses os temas debatidos intensa e sigilosamente pela oposição. Por mais que alguém critique um ou outro nas redes sociais ou imprensa, internamente eles se reúnem calculam e tentam projetar os impactos de possíveis composições que ninguém neste momento sequer ousa pensar.
As conversas atravessam noites e madrugadas, às claras e às escuras, para definir o melhor modelo, o mais competitivo possível, para enfrentar o Palácio.
Mas encontrar o melhor formato será mais fácil do que vencer os egos inflados.
CT, Palmas, 26 de julho de 2022.