Faltam poucos dias para acabar as eleições municipais do Tocantins em 2020, onde não temos segundo turno. Por enquanto. O desespero já bateu na maioria dos candidatos, mas, para acalentar um resto de esperança e tentar manter a militância aguerrida, alguns se apegam a pesquisas que pagaram para ficar em boa colocação ou na suposta consciência do eleitorado, que, ao final das contas, vai “pensar no bem da cidade” e vai escolher o melhor, ou seja, ele próprio, num átimo de lucidez individual e coordenação coletiva que depõe contra toda a lógica, marcada, como eu escrevi esses dias, pelo efeito manada.
O jornalista Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, na sua sabedoria humorística dizia que “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”. É o caso. Esqueçam. As eleições já estão definidas na maior parte das cidades, com raras exceções — caso de Gurupi —, onde o cenário já era previsto para ser voto a voto, por conta da polarização. Não adianta jorrar pesquisas fraudulentas na praça, desencavar deslizes juvenis de adversários, denúncias de última hora. Nada.
Uma campanha eleitoral vitoriosa depende de uma correta leitura de cenário antes das convenções e de inteligência política para construir uma candidatura com musculatura. Quando não polarizada e com muitos candidatos competitivos, as eleições são definidas já na convenção, e só um fato absurdamente extraordinário para mudar os rumos. Caso de Palmas, como já abordei várias vezes.
Se se faz uma leitura correta do cenário, é possível, a partir dela (não a despeito dela), montar uma candidatura competitiva, olhando a disputa como quem olha um tabuleiro de xadrez. Uma mexida agora terá consequências naturais dentro de dez movimentos. Podem ser positivas ou negativas. A política tem uma lógica, ainda que possa parecer o contrário.
Com uma boa leitura de cenário, robustece-se uma candidatura que se encaixa nele perfeitamente. Se as forças têm maturidade, entendem a disposição do tabuleiro e convergem para sustentar o projeto mais bem posicionado. Consciente de que qual é o cenário favorável, quem não tem perfil retira-se da disputa. Assim se constrói uma candidatura competitiva.
Se, apesar do ambiente inóspito, o “pavão” se acha tão maravilhoso que o eleitor não resistirá a seus atrativos, insiste e quebra a cara. Semana que vem veremos vários deles com a cauda multidecorada baixa.
No cenário em que sai uma polarização das convenções, tudo é possível. No caso de Palmas, imagine quatro candidaturas altamente competitivas. Qualquer resultado seria possível. De novo, caso de Gurupi: duas máquinas em disputa e outras duas candidaturas sem estrutura. De um lado, um governo municipal muito bem avaliado, de outro, o Palácio, que, na cidade, domicílio eleitoral do governador Mauro Carlesse (DEM), também tem boa aceitação popular. O que vai dar? Impossível saber. Só domingo à noite.
Porto Nacional dá uma leitura interessante. Em 2016, o prefeito Joaquim Maia (MDB) e seu vice, Ronivon Maciel (PSD), enfrentaram e venceram o ex-prefeito Otoniel Andrade (PTB). Em 2020, o que estamos vendo? Os mesmos Maia e Maciel contra o mesmo Otoniel, com uma diferença: prefeito e vice atuais agora estão em campos opostos. Se Maia tiver uma gestão impecável, altamente aprovada pela população, ele terá atraído os eleitores de Maciel e Otoniel e poderá sair vencedor. Se o governo dele não foi tão convincente, a única que coisa que esse cenário oferecerá é a divisão de um mesmo eleitorado (de Maia e Ronivon), favorecendo o ex-prefeito Otoniel.
Essas leituras devem ser feitas agora, faltando míseros quatro dias para as eleições? Não. Elas são perfeitamente possíveis antes das convenções. Se a imaturidade — vaidades, projetos pessoais e interesses outros – prevalecer, não tenha dúvida, os infratores das “leis da política” serão devidamente punidos, da mesma forma que o sujeito que pular de um prédio sem se atentar à lei da gravidade.
Por isso, volto ao grande Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”.
CT, Palmas, 11 de novembro de 2020.