Eleição se dá em grupo. É essa musculatura que se conquista com a adesão de líderes ao projeto que torna uma candidatura competitiva. Sem apoio maciço de líderes, o sujeito é apenas candidato de si mesmo, fadado a fracassar. Por isso, as decisões do pretenso candidato têm que estar em consonância com o que seu grupo quer. Quem pretende construir uma candidatura capaz de sair vitoriosa não pode se dar ao luxo de resolver impasses a partir de gosto e desgostos pessoais. Nesse sentido é que se diz muitas vezes que a política é também a arte de engolir sapos. E dos grandes.
Por isso que a decisão do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) de encerrar antes de começar a parceria com a senadora Kátia Abreu (PP) foi correta. Ele pensou o grupo, que não quer a parlamentar. Se foi ela que saiu, com o fato de o senador Irajá (PSD) ter declarado apoio a Osires Damaso (PSC), como defendem os palacianos; ou se foi posta para fora e supostamente traída, como alegam os seguidores de Kátia, pouco importa. Isso é só um jogo semântico irrelevante no processo.
Concordo que Wanderlei precisava de um motivo para tirar a senadora do Palácio sem que tivesse de ir para o confronto e o filho dela deu a deixa. Ponto. O resto é chorar sobre o leite derramado.
Pessoas próximas da senadora e políticos que estiveram com familiares dela garantem que é verdade mesmo que Kátia foi pega de surpresa e que por lá não estão nada felizes com a iniciativa de Irajá. Mas se eu estivesse no lugar do governador também nunca iria arriscar em ter como minha parceira de chapa, numa posição tão estratégica, alguém cujo filho é o principal apoiador de um adversário que ganha musculatura mais e mais a cada dia e que pode ser o maior incômodo mais à frente.
Do outro lado, está ocorrendo algo semelhante. Na campanha do pré-candidato a governador do PL, Ronaldo Dimas, estão tentando segurar à força a pré-candidata ao Senado, Dorinha Seabra Rezende (UB). Não vai prosperar. Tem um ditado chinês de que gosto muito: “Você pode obrigar um cavalo a ir até a beira do rio, mas não pode obrigá-lo a beber água”. Ou seja, Dorinha pode ser — como parece que querem fazer — obrigada, sabe lá porquê motivo, a estar no palanque de Dimas, mas isso é muito diferente de abraçar a campanha. Não será de boa vontade, não é o espírito que estará envolvido na eleição.
É uma realidade incontroversa que Dimas enfrenta a resistência dos líderes, que a maioria dos prefeitos e deputados não quer apoiá-lo nestas eleições. Não há um dia em que um prefeito não me diz que fica com Dorinha, mas seu governador é Wanderlei. Já ouvi até dizerem que ficam com Damaso, porque também há uma insatisfação crescente com o Palácio. Mas não acho chefe do Executivo que diga que ficará com o pré-candidato do PL, salvo as raras exceções de muita fidelidade ao próprio Dimas ou ao senador Eduardo Gomes (PL).
Como a coluna Em Off mostrou semana passada, os homens mais próximos de Dimas já não querem mais Dorinha com ele. Porque dizem que a pré-candidata ao Senado não demonstra a mínima vontade de estar na campanha do PL. E está cada dia mais claro que não demonstra mesmo e, se for, será obrigada, levada pelo beiço, como se diz.
Ao tentar obrigar Dorinha a apoiá-lo, o pré-candidato do PL deixa de pensar em soluções criativas e eleitoralmente eficientes para reavivar sua campanha, que passa a esfriar na mesma medida que Damaso começa a ganhar força.
Então, são dois casos, em lados diferentes, muito semelhantes. Um se resolveu com a declaração do governador Wanderlei de que não quer Kátia em seu palanque; o outro está pendente porque a pré-candidata ao Senado parece conduzida na marra para uma campanha da qual não deseja participar.
De pano de fundo dos dois casos, a mesma razão: Wanderlei não quer Kátia e Dorinha não quer Dimas porque o grupo deles são contra essas composições. Nada pessoal. Então, volto ao início da reflexão: eleição se dá em grupo. É essa musculatura que se conquista com a adesão de líderes ao projeto que torna uma candidatura competitiva.
Se o grupo não quer, o pré-candidato não deve aceitar. Simples assim.
CT, Palmas, 11 de julho de 2022.