O comentário que o secretário da Governadoria, Jairo Mariano, fez à coluna Em Off revelou a leitura do Palácio Araguaia sobre o iminente fim da relação dos Abreus com o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). “Os Abreus são um único grupo político. Não tem como separá-los”, disse Mariano.
Se são um só grupo, se um saiu, o outro também seguiu o mesmo rumo. Pelo menos é como o governo vê a declaração de apoio do senador Irajá (PSD) ao pré-candidato a governador Osires Damaso (PSC).
Então, vem a segunda parte da fala do secretário Jairo Mariano: “Política não tem vácuo. A decisão partiu deles”. O que quis dizer é que, se a saída de Irajá significa a saída de Kátia, logo, para o Palácio, a vaga de Senado da chapa do governador está aberta e vão buscar o substituto, ou melhor dizendo, a substituta.
Outra leitura desse trecho é que, quando Mariano diz que “a decisão partiu deles”, significa que o governo não entende que colocou Kátia para fora do grupo, mas que ela própria decidiu sair, a partir do momento em que o filho declarou apoio a um adversário de Wanderlei. Como “os Abreu são um único grupo”, assim, a relação chegou ao fim por iniciativa dos senadores. E Mariano fechou sua declaração com a seguinte frase: “As atitudes falam por si”.
A postura do governador nesse episódio merece registro. No início da relação, logo que tomou posse, rasgava elogios públicos aos Abreus e garantia que caminhariam juntos, ainda que não deixasse claro para onde. Ao sentir a elevada resistência de sua base de deputados e prefeitos a Kátia, Wanderlei fez silêncio total e deixou que o desfecho ocorresse naturalmente, por gravidade. Dessa forma, quando Irajá foi para Damaso, a solução do impasse se resolveu por si só, sem que o Palácio precisasse tomar a iniciativa.
Kátia insiste em querer ficar, gravou vídeo dizendo-se “pega de surpresa” pela decisão do filho e uma matéria do site Metrópoles chegou a afirmar que a senadora foi traída pelo filho. Mas fato é que a posição de Irajá nestas eleições já havia sido bem sinalizada semana passada quando o PRTB e o Avante, partidos umbilicalmente ligados aos Abreus, anunciaram apoio a Damaso.
Na prática, Kátia já é vista como página virada pelos palacianos e deputados, e o foco está agora voltado para a substituta que desejam: a deputada federal Dorinha Seabra Rezende (UB). Contudo, não será tão simples e só vacância da vaga na chapa palaciana não basta. Porque o senador Eduardo Gomes (PL) não abre mão da aliada junto com seu pré-candidato, o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (PL).
De outro lado, a relutância de Kátia nesta altura dos fatos é perda de tempo. A senadora, que — não se enganem — é altamente competitiva e também conta com uma base de líderes muito ampla e grande volume de recursos e obras trazidos para o Estado, precisa focar em seu novo destino.
No PT há resistência porque o partido quer uma frente antibolsonaro e, no PP, Kátia enfraqueceria esse discurso. Outra possibilidade que, a esta altura, parece fora de cogitação seria uma candidatura de Irajá a governador. Mas, como ele declarou apoio a Damaso, a senadora poderá buscar abrigo na chapa do pré-candidato do PSC.
Com o desfecho praticamente certo desse episódio, a base palaciana comemora. Mas bom insistir que Kátia tem muita força e tirá-la da chapa de Wanderlei, sem dúvida, é muito mais fácil do que derrotá-la em outubro. Ela e o filho são muito organizados e sabem mexer as peças no tabuleiro como poucos.
CT, Palmas, 6 de julho de 2022.