Se o governo Mauro Carlesse (PSL) acertou no ajuste das contas públicas de um lado, não conseguiu, de outro, construir uma boa relação com a bancada federal, que foi fundamental ao Tocantins no período dele, sobretudo por conta da pandemia. Sem a atuação dos congressistas, os municípios tocantinenses atravessariam os dias escuros impostos pelo novo coronavírus sob extremas dificuldades.
Apesar das lamentáveis perdas que tivemos, dos milhares que adoeceram, houve um bom atendimento às vítimas, os profissionais de saúde tiveram insumos necessários, os salários dos servidores foram pagos – eles são fundamentais para a economia girar – e os serviços públicos continuaram funcionando. Isso tudo graças, em grande medida, ao trabalho dos parlamentares em Brasília. Fora isso, entre tantas ações importantes da bancada na era Carlesse, houve as aquisições de centenas de ônibus escolares, maquinário e por aí foi.
O governador afastado errou ao optar pela política do confronto, evitando dar crédito aos congressistas ou selecionando a quem creditar, no caso apenas àqueles alinhados ao Palácio.
Com isso, Carlesse criou enormes fissuras na relação com os parlamentares e um muro de resistência a ele se ergueu no Congresso, a ponto de não ter tido condições de influenciar na escolha do coordenador da bancada no início do ano, que ficou com o jovem deputado Tiago Dimas (SD), que vem fazendo um excelente trabalho, como no caso da concessão da duplicação da BR-153 e na busca por vacinas para o Estado.
Ao contrário do antecessor, o governador interino Wanderlei Barbosa (sem partido) começou pelo caminho certo: o da união. Político experiente, profundo conhecedor do parlamento, com sua ampla experiência como vereador de Porto Nacional e Palmas e ainda como deputado estadual, sabe como a bancada pode contribuir neste momento de mais uma difícil travessia do Tocantins. Dois pontos da posição do governador deixaram uma boa impressão inicial em deputados e senadores: ele dizer que estava rompendo totalmente com Carlesse, justamente por conta da má relação entre o afastado e os congressistas; e por ter manifestado um desejo de aproximação com os parlamentares.
Nas palavras do próprio Wanderlei: “O objetivo desse encontro [com a bancada na noite de terça-feira, 26] é para aproximação. Eu tenho a certeza de que um Estado só se desenvolve se unirmos os seus líderes e é isto que estamos fazendo aqui”.
Cirúrgico. Ainda mais considerando este novo período de tempestades que volta a envolver o Tocantins. Nesta hora, o espírito público deve ser muito maior, porque, como a coluna afirmou em outra oportunidade, o principal desafio de Wanderlei e todos os líderes do Estado é com a estabilidade. O jogo pré-eleitoral não pode prevalecer, muito menos vaidades pessoais. Temos que passar a clara mensagem — em ações, não em palavras — aos investidores de que aqui, apesar do momento delicado, continuam tendo segurança jurídica e econômica e apoio de Estado — não de governo — para gerar empregos e renda.
O momento eleitoral é muito bem definido no calendário. A união de forças entre os principais líderes do Tocantins agora não significa aliança com vistas a outubro de 2022. Na campanha cada um pode estar num palanque diferente.
Essa união em meio à crise significa grandeza, envergadura cívica para representar o Estado quando ele mais precisa que seus líderes realmente pensem no futuro, não no presente passageiro.
Inclusive, o resultado das eleições pode, em grande parte, depender desta demonstração de postura republicana e de amor ao Tocantins.
CT, Palmas, 28 de outubro de 2021.