O Tocantins fechou nessa sexta-feira, 11, mais um ciclo tumultuado e triste de sua curta história. Fruto da Constituição Cidadã de 1988, o Estado, como bem observou a senadora Kátia Abreu (PP), em seu discurso na filiação do deputado federal Vicentinho Júnior (PP), teve seus primeiros 18 anos de muito desenvolvimento e prosperidade, com gigantescas obras de infraestrutura, com muita saúde fiscal. Foi o período do primeiro governo Siqueira Campos (1989-1991) à também primeira gestão de Marcelo Miranda (2003-2006).
Depois disso, o Tocantins se afundou numa luta fratricida, com cassações, renúncias e afastamento, abuso do erário pelo governante tampão para tentar se reeleger, e tudo isso levou ao sufocamento das contas públicas e liquidou com a capacidade de investimento do Estado.
Neste ponto, é preciso, sim, dar a César o que é de César, ou a Carlesse o que é de Carlesse, que, como um amigo me disse nessa sexta-feira, virou a “Geni” do Tocantins. Se errou, que pague pelos erros que cometeu diante da Justiça, no entanto, o ex-governador fez um ajuste importantíssimo nas contas do Estado, e essa conquista não pode ser jogada na lata do lixo em mais uma busca desenfreada por reeleição.
O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) acompanhou essa luta de todos os segmentos da sociedade — sobretudo dos servidores — e sabe que custou enormes sacrifícios. Ele tem se comprometido publicamente em discursos com a responsabilidade fiscal, o que é muito bom. No entanto, começam a surgir preocupações com a troca de técnicos qualificados por políticos em áreas estratégicas e com a contratação de comissionados.
É importante ter muito claro que apostar contra a saúde fiscal do Estado é um bumerangue que sempre volta contra o governante reeleito. Afinal, passada a festança com o dinheiro do contribuinte, o chefe do Executivo senta-se na cadeira do Palácio para um iniciar uma nova gestão e, então, descobre que não poderá fazer muita coisa porque usou e abusou para se manter no comando.
Do ponto de vista político, neste momento, não há dúvida de que Wanderlei saiu extremamente fortalecido desse processo que culminou na renúncia de Carlesse. Primeiro porque está com boa popularidade, e isso se escuta nos populares espetinhos, lanches, restaurantes e rodas em geral de política. A principal virtude de Wanderlei apontada nessas conversas é o fato de ele ser filho do Tocantins, e, por isso, avaliam, o grau de comprometimento com sua terra é maior do que o de um “forasteiro”. Faz muito sentido, e o governador chegou a expressar isso, indiretamente, em seu discurso na noite dessa sexta, na filiação de Vicentinho: “Vamos estar juntos numa missão que é nossa, porque somos tocantinenses, nós lutamos por este Estado, nós amamos esta terra e nós queremos homens e mulheres comprometidos com nosso desenvolvimento”, disse ele.
Além disso, Wanderlei é um bom político. Leve, sem desgastes, carismático, querido por todos e com trânsito fácil por todas as correntes, mesmo a oposição não tem por onde atacá-lo de uma forma convincente e contundente. Por tudo isso, os líderes desaguam de forma oceânica em direção ao Palácio Araguaia, todo mundo querendo ter a parte que acha que lhe cabe nesse latifúndio. E aí que mora o outro perigo, além do risco de comprometimento do ajuste das contas do Estado: o palanque ficar tão pesado que pode desabar.
Em relação a Carlesse, o grupo de Wanderlei soube mexer bem as peças. O ex-governador foi sendo encurralado, correndo para as bordas do tabuleiro, via sumiço para não ser notificado, por recursos judiciais (todos negados até aqui) e na busca de prazos a mais na comissão do impeachment. Mas chegou a um ponto que não havia mais como se mover.
Aí não houve outro meio: xeque-mate!
CT, Palmas, 12 de março de 2022.
P.S.:
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Com o tempo, muitos erros e alguns acertos, entendemos que não poderíamos abraçar o mundo. Assim, fechamos nosso foco na política, sobretudo, naquilo que mais me atrai: a articulação, o xadrez político. Passamos a visar não o público em geral, mas um muito mais qualificado, formado pelos principais líderes do Tocantins no campo político, empresarial, no sindicalismo, universitários, profissionais liberais, enfim, como diz nosso slogan, aqueles que formam opinião e tomam decisão.
É a este seleto grupo de líderes e pensadores que miramos nossas análises e notícias.
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A todos e todas, meu eterno agradecimento.
CT