Com o número de casos em ascensão no Estado, com a doença já em seis cidades e o Tocantins realizando pouquíssimos testes, o Comitê de Crise para Prevenção do Vírus Covid-19 (novo coronavírus) decidiu nessa segunda-feira, 13, permitir o funcionamento de estabelecimentos comerciais de atividades e serviços privados não essenciais. A condição é que mantenham “rígido controle de acesso para evitar aglomerações, estimulando-se a lavagem das mãos, o uso de álcool em gel 70% e a observância da etiqueta respiratória”, conforme diz material da Secretaria Estadual de Comunicação (Secom) distribuído à imprensa.
Isolamento vertical
Novo decreto publicado pelo governador Mauro Carlesse (DEM) no Diário Oficial da noite dessa segunda, é recomendada aos prefeitos “a adoção de medidas que guarneçam a estratégia de evolução do Distanciamento Social Ampliado (DSA) para o Distanciamento Social Seletivo (DSS)”. Na prática, prevalece a tese defendida pelo presidente Jair Bolsonaro do isolamento vertical, ou seja, apenas os grupos de risco — idosos e pessoas com comorbidades (com diabetes, cardiopatas, dentre outros).
Inferior a 50%
Para a decisão, o comitê considerou a orientação do Ministério da Saúde de que os locais que apresentarem coeficiente de incidência 50% superior à estimativa nacional podem manter a estratégia de Distanciamento Social Ampliado “até que o suprimento de equipamentos (leitos, EPI, respiradores e testes laboratoriais) e equipes de saúde estejam disponíveis em quantitativo suficiente, de forma a promover, com segurança, a transição para a estratégia de Distanciamento Social Seletivo”.
Aumento de 2.500%
Através da Secom, o governador Mauro Carlesse disse que o Tocantins completou 30 dias de isolamento social e que nesse período “conseguiu se manter estável no número de casos da Covid-19, sem causar qualquer colapso na rede pública de saúde”. No entanto, não é o que mostram os números. O primeiro caso foi registrado no dia 18 de março, em Palmas, e hoje, menos de 30 dias depois, soma 26, um aumento de 2.500% no período. Além disso, a Covid-19 hoje já está confirmada em seis municípios do Estado.
Último em isolamento social
Carlesse lembrou que o Tocantins foi o primeiro Estado do Norte do Brasil a institucionalizar as medidas de prevenção, monitoramento, controle e combate ao novo coronavírus, antes mesmo que aparecesse o primeiro caso. Segundo ele, “a população seguiu com respeito todas as recomendações propostas, mesmo diante de muitas dificuldades”. O que também não confere com os dados. O Tocantins é o último colocado no Índice de Isolamento Social da pela empresa In Loco, que tem feito esse monitoramento em todo o País.
Que dados?
O governador disse que a decisão do comitê foi tomada “após analisar os dados da saúde”. “Propomos a retomada das atividades de alguns setores, permanecendo com alguns cuidados básicos de segurança para que essa doença não aumente o número de infectados, principalmente no quesito do distanciamento social seletivo”, afirmou.
Menor incidência
O secretário estadual da Saúde, Edgar Tollini, também via Secom, pontuou que a retomada das atividades econômicas, por meio das pessoas que não estão no grupo de risco, “segue baseada nos dados positivos que o Tocantins apresentou durante a pandemia”. “Somos o Estado com menor número de casos no País, somente 26, o que representa 1,63 por 100 mil habitantes. Somos o único Estado, que não atestou nenhum óbito e não teve nenhuma internação em leito público, além de termos obtido somente 47% de ocupação em nossos hospitais, não deixando de atender as demandas de outras enfermidades”, explicou o secretário Edgar Tollini.
Transmissão comunitária
A grande preocupação dos especialistas ouvidos pela Coluna do CT nas últimas semanas se dá pelo fato de que esses números não refletem a realidade. O Estado faz pouquíssimos testes, assim, a subnotificação no Tocantins é enorme. Além disso, Palmas e Araguaína já têm registro de transmissão comunitária, isto é, o paciente não viajou nem teve contato com aqueles infectados que viajaram.
Vizinhos em franca expansão da doença
Outra preocupação é que o Tocantins faz divisa com Estados onde a situação se torna cada dia mais crítica. Na região norte, onde já seis casos estão confirmados em Araguaína, fica o Maranhão, que contabilizou nessa segunda 32 mortes por Covid-19 e já tem 478 casos confirmados. Outro vizinho do povo tocantinense, o Pará tem pelo menos 11 mortes e 236 casos confirmados, inclusive, o secretário da Saúde do Estado, Alberto Beltrame, e mais duas pessoas da equipe do governo local estão com Covid-19.
Economia pesou
Apesar desses fatos, a liberação geral, “com medidas de restrições”, contou com o apoio do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Helvécio de Brito. Ele destacou que “a preocupação social foi preponderante neste momento crítico”, mas admitiu que o fator econômico também pesou. “É uma ferramenta importante para o crescimento do Estado”, defendeu. Por isso, afirmou, “é o momento de flexibilizar, porque o Tocantins é economicamente frágil”.
Vê com alívio
Quem também aplaudiu a decisão foi a procuradora-geral de Justiça, Maria Cotinha Bezerra. “É um alívio a proposta de retomada dentro dos cuidados essenciais recomendados pela saúde. A partir de agora, manteremos nossas rotinas, só que nos cuidando mais e de forma mais disciplinada no combate dessa doença”, ressaltou.
Pelo menos, sem aglomeração
O secretário da Casa Civil, Rolf Vidal, avisou que, no que diz respeito às restrições e vedações do decreto, elas permanecem: aglomeração, circulação dos transportes e as visitas as unidades prisionais continuam restritas. “O ponto que será flexibilizado são os pontos que recomendava apenas o funcionamento de serviços essenciais, considerados pelo Decreto Federal. Os serviços voltarão gradativamente à sua normalidade e serão monitorados semanalmente, ou até diariamente em cada cidade sob a orientação da manutenção e respeito às regras sanitárias”, complementou o secretário Rolf Vidal.
Confira o decreto: