Há fatos que servem como janela de oportunidade para discutir temas de interesse da população, mas que, em situação normal, não recebem a devida atenção do público.
A recente divulgação de um problema de saúde, infelizmente envolvendo a filha do jornalista Tiago Leifert e sua esposa, Daiana Garbin, abriu espaço para alertar a população sobre o retinoblastoma, um tipo raro de tumor intraocular maligno que, nesta modalidade, é o mais comum entre as crianças.
Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) o diagnóstico precoce desta forma de tumor, cuja origem está associada a fatores genéticos, é o melhor caminho para garantir seu tratamento adequado, como explica a médica oftalmologista, Susan Yano.
“O início dos cuidados começa ainda na maternidade, onde todo recém-nascido deve ser submetido ao Teste do Olhinho (teste do reflexo vermelho) até 72 horas de vida, sendo este o primeiro passo para a detecção de doenças oculares. É importante realizar exames oftalmológicos uma vez por ano até os três anos de idade. ”, orienta a oftalmologista, Susan Yano.
Na identificação de qualquer anormalidade, o paciente deve ser encaminhado para consulta com oftalmologista que aprofundará a investigação. Estes exames oftalmológicos completos são fundamentais para detecção precoce de problemas oculares que afetam a saúde ocular das crianças.
Retinoblastoma
O retinoblastoma é o tumor intraocular maligno primário mais comum em crianças. O retinoblastoma é originário das células da retina. Pode ocorrer em um olho (unilateral) ou em ambos (bilateral) e geralmente ocorre em crianças com menos de 5 anos de idade.
O retinoblastoma afeta aproximadamente 6000 crianças no mundo por ano e ocorre igualmente em meninos e meninas.
O retinoblastoma se desenvolve quando há uma anormalidade genética no cromossomo número 13. Os cromossomos contêm os códigos genéticos que controlam o crescimento e o desenvolvimento das células. O gene do retinoblastoma codifica uma proteína vital para regular o crescimento celular. 90% dos casos de retinoblastoma são esporádicos e se desenvolvem “do nada” e sem aviso prévio.
Apenas 10% têm um membro da família com retinoblastoma. E 40% das crianças com retinoblastoma têm uma forma genética herdada do tumor, mesmo que ninguém mais na família tenha o problema. O retinoblastoma não é causado por fatores externos, como fumar, beber etc.
O retinoblastoma é confirmado através do exame oftalmológico que pode ser realizado no consultório através de exame com a pupila dilatada e eventualmente confirmado com exame sob sedação no centro cirúrgico.
A ultrassonografia ocular deve ser realizada e pode mostrar pontos brilhantes intralesionais consistentes com cálcio. A tomografia computadorizada também pode mostrar as calcificações quando a ultrassonografia não está disponível. A ressonância de crânio é necessária para realizar o estadiamento do tumor.
O tratamento do retinoblastoma apresentou avanços enormes nas últimas décadas. As taxas de cura são superiores a 95% com tratamento adequado inicial e precoce. O prognóstico depende da intervenção precoce, do tamanho e disseminação do tumor primário, bem como da presença e localização de possíveis lesões metastáticas.
O tratamento do retinoblastoma é adaptado a cada caso individual. O tipo de tratamento depende de vários fatores, incluindo lateralidade, localização do tumor primário, tamanho do tumor primário, presença de disseminação além do olho (por exemplo, metástases) e prognóstico visual estimado.
O manejo do retinoblastoma é complexo e envolve quimioterapia e terapia focal ou métodos de cirúrgicos (remoção do olho quando indicado). A quimioterapia para o retinoblastoma pode envolver vários métodos diferentes, incluindo as vias intravenosa, intra-arterial, periocular e intraocular.
A terapia focal pode consistir em destruição térmica, congelamento (crioterapia), laser e radiação de placa (braquiterapia). Pode ser utilizado um único tratamento ou uma combinação de tratamentos.
Devido à sua complexidade, o retinoblastoma deve ser tratado apenas por um oncologista ocular treinado no tratamento de retinoblastoma. O tratamento geralmente requer uma abordagem de equipe multidisciplinar que pode envolver oftalmologistas, oncologistas, geneticistas, enfermeiros, assistentes sociais e profissionais de saúde mental. ( com informações o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP))