O título dessa crônica resulta da mesma frase que outro dia escutei aqui em Palmas como se fosse uma expressão popular de nostalgia ou de saudades de um tempo bom que se foi.
A expressão me assustou. Não há em nenhum lugar do planeta, sentimentos de saudades da miséria, do autoritarismo e da fome.
Naqueles tempos do Goiás, a lei no Tocantins era a lei da piola, ou da Winchester 44 do papo amarelo, como observou Lysias Rodrigues, tinha razão quem atirava primeiro.
Naqueles tempos do Goiás o povo da cidade de Dianópolis foi massacrado pelos coronéis goianos e seus jagunços. É bom ler Sebastião Póvoa e Bernardo Élis para bem conhecer o que era o Tocantins naqueles tempos de Goiás.
Naqueles tempos de Goiás não havia a Belém – Brasília e para se chegar a Goiânia custavam 20 dias.
Naqueles tempos de Goiás o povo do Tocantins mantinha fortes relações culturais e comerciais com o Maranhão e Belém do Pará e escolhia a Amazônia como parceira ao invés do Goiás.
Naqueles tempos de Goiás não havia universidades no Tocantins e o déficit educacional atingia a 60% das crianças em idade escolar.
Naqueles tempos de Goiás Padre Josimo foi assassinado por lutar pelo direito à posse da terra contra os grileiros e jagunços de Goiás.
Naqueles tempos de Goiás milhares de índios foram mortos e etnias indígenas extintas.
Naqueles tempos de Goiás as estruturas produtivas do Tocantins estavam paralisadas. Diz Otávio Barros que até os anos setenta do século vinte o povo não sabia o que era um trator.
Naqueles tempos de Goiás, os goianos afirmavam que as terras no Tocantins não eram boas para plantar. As terras ficaram baratas, desvalorizadas e ninguém tinha feito análise do solo.
Naqueles tempos de Goiás, o Tocantins tinha Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do que o mais miserável dos países africanos.
Naqueles tempos de Goiás não havia médicos e os índices de mortalidade infantil eram tenebrosos.
Naqueles tempos de Goiás o povo do Tocantins compunha uma legião de papudos. Até crianças nasciam com papeira por conta do uso de sal mineral.
Naqueles tempos de Goiás, os governantes justificavam a falta de investimentos no Tocantins pela magra arrecadação de impostos na região, que eles próprios mantinham isolada.
Naqueles tempos de Goiás atrocidades e perversidades dignas de repúdio, foram cometidas contra o povo do Tocantins.
Ainda bem que hoje podemos dizer que aqueles tempos de Goiás foram ultrapassados com a implantação do Estado do Tocantins e agora podemos comemorar com alegria e júbilo os 33 anos de nossa épica independência. De nossa valorosa autonomia.
Viva a luta pela prosperidade e pela liberdade no Estado do Tocantins.
ALEXANDRE ACAMPORA
É escritor, documentarista e fotógrafo.
alexandreacampora@gmail.com