O médico Neilton Araújo, professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), assessor do Ministério da Saúde e membro do Conselho Nacional de Saúde, disse em sua participação ao quadro Entrevista a Distância que “há razão, motivos e argumentos” para o Tocantins estar preocupado com o avanço da Covid-19. “O Tocantins está com poucos casos porque essa pandemia veio de fora e pelas classes mais abastadas. Agora começa a alcançar a população mais pobre”, avaliou. “A ‘onda’ chegará ao Tocantins, não vai ter como evitar o contágio. Não está sendo possível evitar no mundo, imagina se nós vamos conseguir.”
Uma conta preocupante
Araújo disse que o Tocantins e o Brasil não estão preparados para a crise dos casos graves, que representam 20% dos infectados, pouco relativamente, mas muito diante da falta de estrutura e equipes treinadas para o atendimento aos doentes. O médico faz uma conta: “Se em Palmas só 10 mil pessoas se contaminarem — e estou propondo só 10 mil e é impossível ser só 10 mil, mas para facilitar a conta — teremos 80%, ou 8 mil, que vão ter sintomas leves ou serão assintomáticos, e 20%, ou 2 mil, que vão ter necessidade de internação. Desses 20%, metade, 1 mil, vão precisar de UTI, respirador e equipe treinada. E não fica internado um dia só, ficará por, no mínimo, de 10 a 15 dias. Você vai ter uma quantidade de leitos e profissionais para qual quantidade de doentes que vai chegar? Essa é a conta que precisamos fazer”, afirmou o médico. Para se ter ideia da gravidade disso, conforme a Secretaria Estadual de Saúde, em todo o Tocantins há apenas 288 leitos de UTI.
A ‘onda’ vai chegar
Araújo disse que gostaria que a ciência estivesse errada, que ele próprio estivesse enganado. “O pico no Tocantins e região Norte ainda não chegou, mas vai chegar. Lamentavelmente. A gente queria estar enganado, mas não estamos”, assegurou.
Vamos perder e salvar vidas
O assessor do Ministério da Saúde avisou que “vamos perder algumas vidas”. “Nós não vamos dar conta de salvar todos, mas muitos daremos conta de salvar”, disse.
Isolamento social funciona
Araújo defendeu a necessidade do isolamento social e elogiou a postura do Tocantins, que se fechou precocemente, o que, para ele, é o motivo de o Estado ter poucos casos confirmados — 28 até essa terça-feira, 14. “O isolamento social, quanto mais ele funciona, menos a gente acha que ele não é necessário”, definiu o médico.
Não é hora de flexibilizar
Diante da importância do isolamento, o assessor do Ministério da Saúde disse que não é hora de flexibilizar a quarentena, como fez o governo do Tocantins e várias prefeituras, e avisou: “O que estamos dizendo aqui é: economia nós recuperamos depois, mas a vida a gente não recupera”.
Assista a seguir a participação do médico Neilton Araújo no quadro Entrevista a Distância: