O médico Estevam Rivello, conselheiro federal de Medicina e que atua no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Hospital Geral de Palmas (HGP), também no enfrentamento à Covid-19, afirmou ao quadro Entrevista a Distância que, até hoje, nenhuma entidade de saúde “foi convidada ou convocada para reunião para que opinasse” sobre o combate à doença. “Faço uma crítica forte e fervorosa, porque nenhuma entidade de saúde até o presente momento foi convidada para nenhuma reunião, seja no Estado ou seja no município”, lamentou.
Por que não quem não faz saúde?
Rivello contou que o Comitê de Crise do Estado para Prevenção da Covid-19, composto pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, por órgãos como Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensoria Pública, e ainda por Ordem dos Advogados do Brasil, nunca chamou entidades médicas para conversar. “Polícia Rodoviária Federal deve integrar, o aeroporto, OAB, TJ, mas por que não o Samu, as entidades que fazem saúde, o HGP, a universidade? Por que não quem faz saúde?”, questionou.
Sensibilidade
O conselheiro pediu “sensibilidade das autoridades, dos gestores”, para dar espaço às entidades médicas “neste momento de uma pandemia que assola o mundo”. “Para a gente diminuir esse impacto na sociedade e bem informar, porque senão, o cidadão, que faz juízo de valor, vai mensurar tudo isso e contestar toda tomada de decisão que o gestor possivelmente venha tomar”, avisou.
Flexibilização favoreceu alta de casos
Rivello afirmou que o salto no número de casos da Covid-19 nos últimos dias está relacionado à flexibilização da quarentena nas principais cidades do Estado. “A população respeitou quando foi tomada a decisão de fazer o fechamento. Eu observo pela movimentação em Palmas. Como eu estou na linha de frente, eu saía à rua e não tinha carros. Hoje a gente observa que a população não tem respeitado esse isolamento”, avaliou.
Perdemos 45 dias
Segundo ele, esses 45 dias de quarentena do Estado deveriam ter sido aproveitados para adaptar os ambientes necessários para o enfrentamento à Covid-19, o que acabou não sendo feito, conforme o médico. “A gente perdeu esse período de quase 50 dias e 50 dias, com gente trabalhando em saúde, se consegue construir algo com muita qualidade e robustez”, afirmou o médico. Para o conselheiro, os ambientes dos hospitais regionais estão com a taxa reduzida de atendimento neste momento, já que a quarentena reduziu a procura, por exemplo, por conta de acidentes, mas não são o suficiente para combate ao novo coronavírus.
Nesse ritmo, Araguaína entre em estresse semana que vem
Rivello disse que, se Araguaína seguir nessa projeção de crescimento de casos da doença, na próxima semana o sistema de saúde da cidade entra no estresse. O número de casos no município saiu de 6 no meio da semana passada para 55 nessa quarta-feira, 29. “Portanto, dez leitos em Araguaína, mais quatro no HDT [Hospital de Doenças Tropicais], 17 leitos no HGP e tentando chegar a 30, e 10 leitos em Gurupi, talvez, não sejam o suficiente e aí a gente precisa ter algo mais sólido, de estruturas privadas”, sugeriu.
50 profissionais para UTI
Para aumentar a estrutura, o médico lembrou que o Tocantins precisa pensar os recursos humanos e conta com um grupo de menos de 50 profissionais habilitados para trabalhar dentro de UTI. “Portanto, é um grupo pequeno e que está nas maiores cidades e temos uma baixa quantidade de leitos não só no Tocantins, mas em toda a região Norte, que é a mais afetada pela Covid-19, a que mais está sob pressão”, disse.
Nosso pior momento
O conselheiro defendeu que ainda há tempo de o Tocantins evitar o pior com a Covid-19. Segundo ele, pelas próximas três ou seis semanas o Estado deve viver “o nosso pior momento”. “As pessoas precisam fazer esse isolamento, sair de casa só o estritamente necessário mesmo, observar quando sair de casa todas as questões de segurança e evitar aglomeração em supermercados”, recomendou.
Nem o velório
Para ele, esse isolamento precisa chegar a 70% ou 80% para o Tocantins conseguir “alongar e não estressar o serviço de saúde no quesito número de atendimento”. “Porque pode ser um parente nosso que está sendo atendido e possa vir a faltar. E o pior é que neste momento não está sendo permitido nem o velório”, lembrou.
Confira a íntegra da entrevista do médico Estevam Rivello ao quadro Entrevista a Distância: